28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-9A - GT 9 - Drogas e cuidados em saúde |
30254 - PRÁTICAS NOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E DROGAS (CAPS AD): QUAL ATENÇÃO TEM SIDO PRODUZIDA?
ANA REGINA MACHADO - IRR FIOCRUZ E ESP MG, CELINA MARIA MODENA - IRR FIOCRUZ, ZÉLIA MARIA PROFETA DA LUZ - IRR FIOCRUZ
APRESENTAÇÃO: Os Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e outras Drogas (Caps AD) são serviços abertos e territorializados, destinados ao cuidado no Sistema Único de Saúde (SUS) às pessoas em uso prejudicial ou dependentes de drogas. Tais serviços devem fundamentar suas práticas na concepção ampliada de redução de danos e na atenção psicossocial, conforme proposição da Política do Ministério da Saúde (MS) para Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas (2003) e de outras normativas do MS, publicadas entre 2002 e 2015. Neste período, 378 Caps AD foram implantados, contribuindo para a ampliação do acesso das pessoas que usam drogas ao cuidado em saúde. As práticas desses serviços, entretanto, ainda não são compreendidas de maneira suficiente, não se sabe se elas mantêm coerência com o modelo de atenção proposto pelo MS e não se conhece as contribuições que elas produzem às pessoas que usam drogas. OBJETIVO: Ampliar as compreensões sobre as práticas desenvolvidas nos Caps AD, buscando identificar as lógicas de atenção adotadas e as contribuições produzidas às pessoas que usam drogas. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, fundamentada no referencial teórico-metodológico da Hermenêutica-Dialética, que buscou compreender as práticas realizadas nos três CAPS AD do município de Belo Horizonte. O trabalho de campo, desenvolvido entre outubro de 2016 e setembro de 2017, envolveu diferentes técnicas e sujeitos participantes. Foram realizadas três entrevistas semiestruturadas com gerentes (3 participantes), três grupos focais com usuários (30 participantes), três grupos focais com familiares (20 participantes), três grupos focais com trabalhadores (31 participantes) e 120 horas de observação participante nos diferentes espaços e práticas dos três Caps AD (Plantões, Permanência-Dia, oficinas, assembleias, grupos de familiares, atividades no território e reuniões de equipe). A partir da análise do material, foram criadas três categorias empíricas (Acolhimento, cuidado e vínculo, Atenção aos comprometimentos orgânicos e psíquicos, Promoção de cidadania) que favoreceram a compreensão das práticas de atenção dos Caps AD, de acordo com as perspectivas dos diferentes sujeitos participantes. Na interpretação do material, foram utilizadas referências teóricas e conceituais do campo da Saúde Coletiva (cuidado em saúde); do campo de álcool e outras drogas (redução de danos) e do campo da atenção psicossocial (cuidado no território). A pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética do IRR/ Fiocruz e da Secretaria Municipal de Saúde de BH (CAEE: 57956416.0.0000.5091). RESULTADOS E DISCUSSÃO: Constatou-se que os Caps AD desenvolvem em seus cotidianos, de maneira predominante, práticas de produção de cuidado, acolhimento e vínculos. Um dos serviços se destacou na sustentação coletiva dessas práticas, organiza-se de modo a favorecer a convivência entre usuários e trabalhadores, o que parece favorecer a produção da função terapêutica do Caps AD, inclusive proporcionando novas formas de gestão do uso de drogas, coincidentes ou não com a abstinência. Os Caps AD, também produzem práticas de atenção aos comprometimentos de saúde (orgânicos ou psíquicos) das pessoas que usam drogas, em situações de crise ou não. Apesar disso, não se observou, em nenhum dos serviços, o predomínio do saber biomédico. Essas práticas são sustentadas por diferentes profissionais e saberes. Os Caps AD desenvolvem ainda práticas que favorecem o acesso a direitos sociais básicos e que contribuem para a produção de cidadania das pessoas que usam drogas (alimentação, cuidados de higiene, espaço temporário de proteção, contribuição para a emissão de novas vias de documentos, favorecimento do acesso à rede de serviços de saúde, produção da circulação na cidade e a participação em cursos profissionalizantes). Tais práticas, entretanto, não são priorizadas nos serviços. Pode-se afirmar que a redução de danos, a atenção psicossocial e o cuidado compõem a lógica de atenção predominante nos Caps AD. Em poucos momentos, uma lógica repressiva ou punitiva se fez presente na atenção produzida nos serviços. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A pesquisa permitiu compreender que os Caps AD de Belo Horizonte atuam em conformidade com as proposições do MS e têm se constituído como uma alternativa de atenção às pessoas que usam drogas, diferenciando-se da atenção realizada em serviços de internação, que exigem a abstinência como condição ou meta de atenção e que adotam uma lógica repressiva e punitiva. Na perspectiva de usuários, familiares, trabalhadores e gerentes, os Caps AD produzem acolhimento, redes e vínculos sociais, atenção aos agravos de saúde, diferentes formas de gestão do consumo de drogas e acesso a direitos sociais básicos. Contribuem, portanto, para a ampliação das possibilidades de vida das pessoas que usam drogas que a eles recorrem.
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