29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-9B - GT 9 - Redução de danos e saúde mental |
29351 - REDUÇÃO DE DANOS EM FESTAS RAVES
EDSON LUIZ ROSAL GONÇALVES SOBRINHO - FACULDADE DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, MAGDA FABIANA DO AMARAL PEREIRA - FACULDADE DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, CARLOS EDUARDO MARTINS TORCATO - FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, DEIVSON WENDELL DA COSTA LIMA - ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Introdução: As raves são espaços festivos de música eletrônica e de expressões culturais frequentados principalmente por jovens. Estes cenários são conhecidos pelo uso recreativo de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas, da união de povos plurais que passam a compartilhar uma ideologia em comum. Tendo em vista os riscos do uso e abuso de substâncias psicoativas, que podem vir a acontecer ao usuário, a Redução de Danos (RD) torna-se uma proposta salutar de educação em saúde e de promoção do autocuidado para uso consciente de substâncias psicoativas. Em grande parte do Nordeste brasileiro, essas práticas de RD são tímidas e de iniciativa privada, limitadas ao momento de realização da rave. Objetivos: Analisar o processo de implementação das ações de RD em raves. Método: Trata-se de uma pesquisa-ação de abordagem qualitativa, realizada junto com um coletivo de RD, formado por 14 colaboradores, em uma rave na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil. Esta pesquisa apresentou cinco momentos: análise situacional; leitura e discussão de textos; planejamento do cronograma; implementação e avaliação das ações. Durante estes momentos, utilizou-se a observação participante para captação das falas dos colaboradores e descrição das situações. Estas informações foram transcritas para compor o diário de campo, após suscetíveis leituras foram elencados os pontos chave das discussões, a análise procedeu-se a partir de três dimensões: ontológica, referente a construção do conhecimento norteador; epistemológica, construção e planejamento das ações diante o conhecimento prévio e o construído; metodológica, implementação e avaliação das ações. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética com nº CAAE 90113318.3.0000.5294. Resultados: A análise situacional ocorreu em uma rave realizada anteriormente na cidade que permitiu observar o uso de substâncias psicoativas pelos frequentadores, falta de práticas de RD e de articulação destas práticas com os serviços de saúde. Dessa forma, buscou-se inspiração nas práticas desenvolvidas por um coletivo de RD em raves na cidade de Natal-RN, Brasil, que reduzem os possíveis danos deste contexto. No segundo momento, identificou-se uma escassez de escritos sobre a temática em questão. O manual da Zendo Project foi usado como norteador das discussões em grupo. No terceiro momento, houve o planejamento das ações que consistiram em: SOS badtrip, pinturas corporais, massagens, distribuição de kits e cartilhas informativas. No quarto momento, as ações foram implementadas em um espaço destinado ao coletivo localizado em uma tenda nas proximidades do palco principal. Neste espaço foram colocadas almofadas para relaxamento, garrafão de água para hidratação, distribuição de preservativos e de cartilhas informativas sobre RD. Os casos mais comuns eram de pessoas que buscavam esclarecer dúvidas sobre as substâncias psicoativas e minimizar os possíveis danos físicos e psíquicos causados pelas substâncias (SOS badtrip), além de alguns casos de primeiros socorros. Dentre os atendimentos SOS badtrip, ocorreram três considerados mais graves após usuários ingerir NBOMe, substância psicoativa análoga que é vendida como LSD. Estas ocorrências de risco a vida comprovam e reforçam a preocupação com a testagem das substâncias psicoativas através de um reagente colorimétrico para comprovar ou não as suas adulterações. Apesar desta prática de acesso à informação, educação e aconselhamento ser regulamentado pelo Art. 4º da portaria 1.028 de 2005, o coletivo não realizou as testagens por receio de repressão policial, fato que já foi vivenciado por outros coletivos. O discurso proibicionista é reflexo da falta de diálogo entre segurança e saúde pública e outros setores da sociedade que alimenta uma associação equivocada entre RD e incentivo ao uso de substâncias psicoativas. No último momento, a análise do processo de pesquisa apontou ainda: valorização do espaço de cuidado, necessidade de mais capacitações na área de uso e abuso de substâncias psicoativas, produção de novos materiais informativos. Conclusões: A pesquisa permitiu compreender melhor o planejamento e implementação das ações de RD em contexto festivo, proporcionando ao coletivo melhorias em suas atividades. Possibilitou enxergar a dualidade e o conflito entre as políticas de saúde e de segurança pública, e como essa contraposição atrapalha o enfrentamento a este complexo problema social, onde grandes cifras ainda são investidas em medidas de repressão pouco resolutivas, deixando a parcela mais necessitada da população sem ações efetivas de atenção e cuidado.
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