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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-9B - GT 9 - Redução de danos e saúde mental

30859 - GESTÃO AUTÔNOMA DE MEDICAÇÃO E REDUÇÃO DE DANOS: EXPERIÊNCIAS EM PRODUÇÃO DE CUIDADO E AUTONOMIA DE USUÁRIOS EM UM CAPSAD
INDIANARA MARIA FERNANDES FERREIRA - UFRN, ANA KARENINA ARRAES AMORIM - UFRN, CARLOS EDUARDO DA SILVA FEITOSA - UFRN, IASMIN SHARMAYNE GOMES BEZERRA - UFRN


Introdução: O consumo de substâncias psicoativas, conhecidas como "drogas", sempre esteve presente na história da humanidade mas apenas no século XX se torna uma questão de segurança e saúde pública atravessada diretamente pela "guerra às drogas" através da qual as pessoas morrem mais pela repressão do que pelo uso de drogas (Souza, 2007). No contexto da RAPS existem vários paradigmas que direcionam o cuidado às pessoas que consomem substâncias dentre os quais se encontra o paradigma da redução de danos que se torna uma diretriz em saúde mental no ano de 2003. No entanto, em 2019 foi assinado o decreto nº 9.761 de 2019 que busca retirar a redução de danos da Política Nacional de Drogas como uma diretriz de cuidado colocando a abstinência como único meio de tratamento bem como o uso de medicamentos psiquiátricos. O uso acrítico de medicamentos psiquiátricos fez surgir no Quebec a estratégia e metodologia Gestão Autônoma de Medicação (GAM) que tem como materialidade um livreto-guia pessoal que busca potencializar processos de autonomia e garantir acesso à informações sobre medicamentos como meio de atenuar as consequências do consumo excessivo de medicamentos. A GAM foi adaptada ao contexto brasileiro através de uma pesquisa multicêntrica (Campos et al., 2012). Durante a etapa de validação foi visto que pessoas que fazem uso de drogas "não-prescritas" são tratadas com o uso excessivo de drogas "prescritas" (Medeiros, 2013). Nesse contexto, destacamos preocupações em torno das interações entre medicamentos psicotrópicos e outras substâncias e seus efeitos no cotidiano e na vida das pessoas - o que nos leva a apostar na redução de danos como uma estratégia, metodologia e ética ampliada para o consumo de medicamentos. Assim, a pergunta que direciona essa pesquisa é: pode a GAM produzir práticas e estratégias de cuidado em sintonia com a ética da redução de danos no contexto do CAPSad na cidade de Natal-RN? Objetivos: Identificar as linhas traçadas pelos modelos de cuidado e diferentes paradigmas que atravessam a experiência; mapear estratégias desenvolvidas no cotidiano dos usuários que se articulam com a experiência GAM; Discutir como a GAM se constitui como estratégia de cuidado para usuários do CAPSad na perspectiva da ética da redução de danos. Método e metodologia: A GAM foi implantada e trabalhada a partir de uma pesquisa-intervenção com base na Análise Institucional e na Esquizoanálise. Conforme Rocha & Aguiar (2003) a pesquisa-intervenção constitui um dispositivo de intervenção que assume e afirma a dimensão política e a sua indissociabilidade no processo investigativo. Assim, tomamos uma relação não dicotômica na construção do conhecimento entre teoria e prática, sujeito e objeto pois nos preocupamos com as relações de poder e os jogos de interesses na composição do campo investigativo (Rocha & Aguiar, 2003). A experiência GAM teve duração de 10 meses (março à dezembro de 2018) com duração de 60 à 90 minutos. Participaram da experiência cinco trabalhadores do serviço, 12 usuários, 3 pós-graduandos e 3 graduandos de psicologia. A partir dos diários de bordo como ferramenta de registro das experiências (Passos & Barros, 2009) e das audiotranscrições dos encontros foram construídas narrativas como modo de transmissão da experiência vivida pelo coletivo (Benjamin, 2017). As narrativas foram lidas e modificadas nos encontros permitindo uma validação e avaliação coletiva sobre o processo de pesquisa e a experiência grupal. A análise de implicações foi realizada durante todo o processo de pesquisa visto que revelam as instituições e as forças (valores, interesses, desejos, crenças, etc.) que atravessam a pesquisadora, o campo e o processo de pesquisa (Romagnoli, 2014). Resultados e considerações finais: Trabalhar a GAM a partir de uma pesquisa-intervenção mostrou-se bastante potente, pois, os operadores dessa perspectiva sustentaram a postura dos pesquisadores implicados com o campo e com uma produção coletiva. Além disso, o grupo GAM operou como um dispositivo produzindo novos engendramentos nas redes de saber-poder através de movimentos micropolíticos. As narrativas revelaram tensões e conflitos manifestados nos encontros vividos visibilizando a rede de saber/poder presente no campo desde a presença de diferentes paradigmas e perspectivas (antiproibicionismo, proibicionista, manicomial, antimanicomial, redução de danos e abstinência), numa composição não dualista mas diluída em posições que se mostram muitas vezes contraditórias. A redução de danos como metodologia e estratégia não raramente esteve associada e reduzida a ideia de abstinência mas, quando tomada como ética de ampliação de vida (Lancetti, 2006), permite uma aproximação entre substancias legais, ilegais e prescritas visto que há um esfumaçamento dessas barreiras nas experiências cotidianas dos usuários no contexto do CAPSad o que aponta para a importância da ampliação da redução de danos no âmbito de substancias prescritas/medicamentosas.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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