28/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-9A - GT 9 - Drogas e cuidados em saúde |
31602 - A PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE UM CAPS AD SOBRE A CONSTRUÇÃO DO PTS E UTILIZAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE REDUÇÃO DE DANOS NO ATO DO CUIDAR
ALINE NEIVA RIBEIRO - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, MARILYN DIONE DE SENA LEAL - PROFESSORA-DOUTORA DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
Para promover o cuidado integral no âmbito do SUS é necessário que os profissionais realizem suas intervenções baseadas na Clínica Ampliada e, na qual inclui-se a formulação de Projetos Terapêuticos Singulares (PTS), o trabalho com equipes de referência e o matriciamento das ações. Ao atuar sob a lógica da Clínica Ampliada, o profissional produz uma mudança no modo de percebe o indivíduo, considerando sua singularidade e contexto vivido. No que concerne ao cuidado na Saúde Mental, com recorte para as pessoas que fazem uso de álcool, crack e outras drogas, deve-se priorizar o fortalecimento da rede diversificada de serviços de base territorial, tais como o Caps Ad. Apesar dessa Política de Saúde Mental ter como premissa o cuidado psicossocial, práticas de redução de danos e promoção a saúde e cidadania, ainda persistem na atuação profissional práticas descontextualizadas com essas perspectivas antimanicomiais. Esse estudo teve por objetivo, pesquisar as práticas de cuidado em usuários de crack sob a ótica dos profissionais, a partir do manejo profissional para a construção do PTS e utilização da estratégia de redução de danos no ato do cuidar. Para atingir os fins do estudo, foi realizada uma pesquisa qualitativa , utilizando a técnica de observação participante (realizada durante o período de agosto/2015 à janeiro/2016), entrevista semiestruturada (com os profissionais de nível superior disponíveis no período de coleta dos dados) e análise de dados através do método de Análise de Conteúdo. A pesquisa teve como campo de estudo um Caps Ad localizado na região metropolitana do Recife. Durante as observações na instituição foi possível conhecer sua dinâmica de funcionamento, presenciar várias atividades, momentos grupais, divisão do trabalho e de responsabilidades entre os funcionários, entre outros. Na análise surgiram diversas categorias de temas devido a diversidade do assunto abordado. Mas, para este fim, o fio condutor foi o entendimento que os profissionais têm sobre a construção do PTS e a utilização de estratégias de redução de danos para usuários de crack. O processo de trabalho desenvolvido pelo Caps Ad pesquisado se dava através de uma rotina que continha atividades grupais, atendimentos individuais, reuniões de equipe e visitas domiciliares. Ao cruzar as informações adquiridas durante a observação e as entrevistas, teve-se como resultados que os profissionais não conseguiam formular o PTS em conjunto com o usuário, bem como sentiam dificuldade em realizar o acompanhamento sistemático e efetivação das propostas idealizadas. Tal dificuldade pode ser justificada pelo número elevado de pessoas sob a responsabilidade de um único técnico, bem como pelas diversas atribuições que o processo de trabalho no Caps Ad demanda. No que se refere à utilização de abordagens fundamentadas na Redução de Danos, três trabalhadores demonstram um desconhecimento sobre essa estratégia: “Eu acho que a redução de danos dele é, entrando na emocional, eu entro na emocional dele aquilo que nos sonhos dele. Se você pode sonhar, se você ta fazendo uso (P4).”. Esses discursos equivocados podem ser associados à fragilidade na formação e qualificação do trabalhador, refletindo assim um descompasso entre o que se propõe nas políticas públicas e a realidade encontrada. Alguns profissionais expuseram também que apresentam mais facilidade em propor as estratégias para usuários que não têm o crack como droga de predileção: “[...] porque eu me identifico mais com alcoolista [...] eles assim pra mim é mais fácil de atender, não sei se é mais fácil mesmo, mas eu gosto (P3).”. Essa habilidade em questão corrobora com os estudos de alguns autores que expõe a existência uma forte conotação moral por parte dos profissionais, a qual tende a provocar barreiras e dificuldades nas abordagens mais adequadas para os usuários de crack e pouca aproximação com os mesmos. Ao pesquisar sobre as práticas de cuidado com usuários de crack em um Caps Ad, foi possível verificar que algumas concepções dos profissionais e rotinas no serviço iam de encontro ao recomendado pela Clínica Ampliada, assim como identificou-se poucas abordagens baseadas nas estratégias de redução de danos. Diante desses dados, se faz necessário que todos os profissionais envolvidos no processo do cuidado participassem de espaços de qualificação, com temáticas relacionadas a Clínica Ampliada, redução de danos e desmistificação a respeito do consumo de drogas, principalmente do crack. Ao suprir essa lacuna na formação, espera-se que os profissionais adquiriram uma atuação mais voltada ao cuidado psicossocial e antimanicomial.
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