29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-10B - GT 10 - Classificação da deficiência, cuidado e direitos |
30377 - O SIGNIFICADO DO CUIDADO EM SAÚDE POR PAIS DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DA ZIKA CONGÊNITA NO SERTÃO DA PARAÍBA MS. YORDAN BEZERRA GOUVEIA - FIP, DRA. CAROLINA LUÍSA ALVES BARBIERI - UNISANTOS
Em 2014 apareceu no Brasil um surto de uma doença de etiologia desconhecida, cujas manifestações clínicas apontavam para o vírus Zika causando implicações clínicas em mulheres e crianças, gerando crianças com síndromes congênitas, como a microcefalia.
Esta malformação prejudica o crescimento e desenvolvimento do Sistema Nervoso Central estando diretamente associada a prejuízos no desenvolvimento físico e psíquico do ser humano.
Em decorrência disso, a criança com microcefalia necessita de uma família que possa assegurar condições de vida necessárias à sua sobrevivência, como também prestar cuidados que possibilitem o seu desenvolvimento físico, psíquico e social. Nesta perspectiva, o bebê apresenta dependência física e emocional de um ambiente que demande cuidados, dentre eles, o cuidado em saúde.
No que se refere a crianças que apresentam adoecimento crônico, como a microcefalia, observa-se uma maior dependência delas, adquirindo uma relevância singular a atividade parental dos prestadores de cuidados à medida que a doença e o tratamento para reabilitação são geridos no cotidiano.
Objetivo:
Compreender como se constitui o cuidado em saúde pelo pai, na dinâmica da família e na interface da parentalidade paterna, às crianças com a síndrome da Zika congênita.
Metodologia:
Trata-se de um estudo exploratório numa abordagem qualitativa. Participaram nove sujeitos que exerciam a parentalidade de crianças com a síndrome da Zika congênita no sertão da Paraíba. Os dados foram coletados mediante entrevista em profundidade, gravadas com o consentimento e analisadas pela Análise de Discurso. A amostra escolhida utilizando-se da técnica de bola de neve e o número de participantes definido pelo criterio de saturação. Foram respeitados todos os preceitos éticos em pesquisa que envolve seres humanos.
Resultados e discussão:
Dos nove pais participantes, a idade compreendeu entre 21 a 55 anos, cinco declararam estado civil casado e a maioria deles cursaram o ensino fundamental. Emergiram os seguintes núcleos de sentido: formas de cuidado (cuidado em saúde/tratamento, o cuidado material, cuidado na vida cotidiana e a dimensão afetiva de cuidado), o exercício de cuidados a criança com síndrome congênita por Zika vírus e os fatores limitantes ao cuidado na perspectiva dos pais.
O cuidado foi uma ação cotidiana da vida dos pais e mães de crianças que apresentaram síndrome congênita pelo Zika vírus, embora o exercício destes sejam mais desempenhados pelas mães. Os cuidados apresentados pelos pais no que se refere a saúde tenderam a ser expressos por: acompanhamento da genitora nos cuidados em saúde, compra de insumos de cuidado, marcação de consulta e exames, garantia de direitos sócio assistenciais as crianças, cuidado protetivo contra acidentes, e ministrar a medicação, sobressaindo assim a dimensão de ajuda/apoio.
No que se refere ao cuidado material este foi ancorado em comportamentos de responsabilização em prover as necessidades básicas de sobrevivência da criança, ou seja, estes cuidados foram traduzidos pela garantia do pai para com o filho no que se refere à compra de mantimentos alimentícios, de higienização, de vestuário e de medicação.
Outra forma de cuidado que se deu entre esses pais foi no nível afetivo, em que estes ancoravam essa forma de cuidado com afetos, carinho, atenção, por meio da interação lúdica os quais possibilitavam ao pai e à criança uma troca interativa e afetiva.
Os afetos oriundos da relação dos pais com a criança levaram a ações de cuidados na vida cotidiana da criança, como: dar banho, colocar fralda, pentear o cabelo, colocar para dormir, brincar, fazer e ministrar a alimentação, segurar e cuidar da criança enquanto a mãe se dedicava aos afazeres doméstico.
Os pais apresentavam o desejo de cuidar dos filhos ou até de terem comportamentos mais ativos no cotidiano desses cuidados. Mas, segundo eles, havia fatores que não contribuíam para que estes tivessem um maior envolvimento e dedicação aos filhos. Dentre os fatores limitantes se destacaram: trabalho, o tratamento realizado fora do domicílio, burocracias institucionais.
Considerações finais:
O presente estudo ao dar voz aos pais pode compreender, apesar de suas limitações, que ser pai de uma criança com sídrome congênita por Zika vírus demandou cuidados que se deram sobretudo na rotina do cotidiano, mantimento material da casa, marcação e acompanhamento nas consultas e internações e compra de insumos de saúde. Embora as mães se dedicassem mais aos cuidados dos filhos os pais se apresentaram mais como coadjuvantes nestes, uma vez que são limitados, no discurso deles, pelo trabalho, pela falta de informação e experiência no manejo, o cuidado fora do domicilio onde residiam e monopolio materno do cuidado e a forte permanecia da concepção de cuidado parental associado à função de provedor, os relatos apontaram para um exercício parental mais próximo do cuidado em saúde do filho e com afetividade, se aproximando da “nova parentalidade”.
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