30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-10C - GT 10 - Atenção primária e sentidos da deficiência |
29988 - EMPREGABILIDADE SOCIAL DA PESSOA SURDA LUCIANE CRISTINA FERRARETO - FIOCRUZ, JOSÉ LEONIDIO MADUREIRA DE SOUZA SANTOS - FIOCRUZ
Este relato consiste na divulgação da experiência adquirida ao longo de 25 anos do Projeto “Empregabilidade Social da Pessoa Surda” desenvolvido pela Fiocruz, mostrando seus objetivos, avanços e desafios.
O compromisso social da Fiocruz passa pelo reconhecimento das diversidades sociais, sejam elas de origem étnica-racial, cultural, comportamental ou relacionadas as deficiências. Essas últimas, se tornam alvo de ações especificas no sentido de minimizar determinados preconceitos e mitos a elas implicados. Assim, entente como imprescindível, que se desmistifique o conceito de incapacidade e dependência plena que se construiu ao longo de décadas de ações paternalistas e assistencialistas voltadas para as pessoas com deficiência, reconhecendo essas pessoas para além de sua deficiência, enxergando, portanto, suas capacidades, interesses, talentos e habilidades que podem ser desenvolvidos.
No cotidiano das pessoas com deficiência, principalmente moradoras de territórios dominados pelo crime, diferentes barreiras se evidenciam, colocando em xeque direitos que lhes são assegurados na condição de cidadãos, entre as quais o direito humano a saúde e o direito ao trabalho.
Esse projeto, busca transpor algumas dessas barreiras e a histórica invisibilidade da deficiência, promovendo ações de inclusão social e equiparação de oportunidades, através do acesso à educação, saúde, lazer e, principalmente, trabalho.
Nesse sentido, tem como objetivo promover a inserção de trabalhadores surdos nas dependências da Fiocruz através de postos de trabalho e processos formativos. Em funcionamento desde 1994, o projeto conta hoje com 110 trabalhadores surdos, exercendo suas atividades em diversas unidades da instituição, seja na área da pesquisa, do ensino ou serviços de saúde.
No acompanhamento e monitoramento das ações, a equipe de suporte formada por socióloga, assistente social, psicóloga e interprete de libras leva em conta todo e qualquer ajuste possível, que permita à pessoa surda alcançar satisfatório nível de autonomia e de independência na condução do seu trabalho. Acreditamos que a pessoa com deficiência, se receber suporte adequado às suas necessidades, poderá desenvolver a necessária autonomia e independência que lhe permitirão participar de forma produtiva no mundo do trabalho.
Ao longo de sua existência, o projeto tem apresentado bons resultados que se dividem em duas frentes: a) ações destinadas aos trabalhadores surdos: aulas de Reiki; ciclos de formação cidadã; acessibilidade em seminários e palestras promovidos pela Fiocruz através da presença do intérprete de libras; cursos de formação profissional desenvolvidos em parceria com outras instituições de ensino; visitas a museus e espetáculos teatrais com acessibilidade para pessoas surdas; e b) ações destinadas à comunidade Fiocruz e sociedade geral: curso de libras- básico; curso a distância sobre acessibilidade e inclusão; participação e colaboração junto ao Comitê da Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência.
Podemos dizer que o projeto fortalece as ações de Acessibilidade e Inclusão da Fiocruz sendo uma ação de grande escala no que diz respeito a oportunidade de trabalho para pessoas surdas na cidade do Rio de Janeiro.
Como aprendizados, o projeto tem mostrado que as barreiras na comunicação são passíveis de serem superadas e que a oportunidade de trabalho, associada a formação, são ferramentas transformadoras para o alcance da cidadania.
Ampliar ainda mais as oportunidades para as pessoas surdas dentro e fora da Fiocruz é um desafio do projeto, reforçando o aspecto da promoção da saúde e cidadania a partir do objetivo central do projeto, qual seja, a empregabilidade.
Desafio maior é facilitar mecanismos que garanta ao trabalhador surdo se organizar para a garantia dos seus direitos, encorajando-o inclusive, a participar de espaços de participação e controle social, como o conselho municipal do Rio de Janeiro dos direitos da pessoa com deficiência, fazendo com que eles ocupem espaços dentro, mas também fora da Fiocruz.
Por ser um projeto com 25 anos, muitos vícios e modos de operar foram se consumando, sendo um trabalho continuo da equipe de suporte, estimular a mudança de pensamento e de atitude por parte de alguns profissionais da instituição, assim como, de alguns trabalhadores surdos, que esperam ações assistencialistas, não sendo esse o objetivo do projeto.
Concluímos enfatizando é preciso desmistificar o entendimento de que pessoas deficientes oneram o estado por improdutividade, sendo necessário a construção de mecanismos que viabilizem a garantia do acesso à pessoa com deficiência de forma inclusiva. Uma sociedade para ser considerada inclusiva, necessita reconhecer a diversidade e as limitações dos seus entes, oferecendo, mecanismos, serviços e os instrumentos necessários à promoção dos ajustes viabilizadores do acesso.
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