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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-10C - GT 10 - Atenção primária e sentidos da deficiência

31383 - “CORPOS NA COMUNIDADE: A EXPERIÊNCIA DA DEFICIÊNCIA EM UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA"
EBER SANTOS DA SILVA - UFPR


A formulação deste estudo teve seu início através da reflexão sobre algumas experiências em comunidades quilombolas como funcionário do INCRA (Instituto Nacional Colonização e Reforma e Agraria) na elaboração de peças técnicas que compõe o RTID (Relatório Técnico de Identificação e Delimitação).
Em algumas situações na comunidade “Y”* o qual tive contato na execução de alguns trabalhos, minha presença foi encarada com surpresa num primeiro momento. O terreno de terra e acidentado, pouco plano e típico de um ambiente rural parecia não oferecer nenhuma condição de “acessibilidade” para um “cadeirante” como eu, no entanto, houve interesse em facilitar minha presença, apesar das dificuldades de mobilidade. Com o tempo, alguns quilombolas me contaram sobre seus parentes com deficiência e sobre a vida deles na comunidade
Na pesquisa de campo realizada no primeiro trimestre de 2019 (ainda em andamento através do mestrado em Antropologia Social PPGAS/ UFPR,) na comunidade quilombola “X”, entrei em contato com uma diversidade de experiências, como a de Seu João, vice-presidente da Associação Quilombola, amputado desde criança, depois que foi picado por uma cobra, fez uma prótese com a madeira de uma árvore. Uma cadeira de rodas foi encontrada em escombros de uma antiga casa da comunidade e foi guardada em memória de uma antiga moradora, pessoa com deficiência. As minhas perguntas também motivaram alguns membros da comunidade a rememorar alguns parentes (“dos antigos”) e apontar aqueles que poderiam ser considerados “deficientes” na comunidade.
Benzimentos, e tratamentos tradicionais (plantas e ervas) convivem com remédios e formas de tratamento biomédicos. Diferentes sistemas explicativos e de categorização social são acionados pelos sujeitos no que se refere a doenças e deficiência (que em muitos casos são vistos como a mesma coisa). Um exemplo de uma explicação mágica/religiosa, está no caso de uma senhora que teve seu braço parcialmente paralisado e acredita ser vítima de feitiçaria, e aponta casos em que outras pessoas (algumas delas com deficiência) podem ter sido vitimadas por esse “malefício”.
O objetivo desta pesquisa foi compreender a construção da pessoa com deficiência através das relações nas quais estão inseridos, suas trajetórias através da perspectiva dos próprios sujeitos.
O principal método de pesquisa foi a vivência etnográfica, porém considero a “corporeidade” conforme propõe Csordas (2008), não apenas como entidade biológica, mas como um “campo metodológico”, “definido pelo modo de presença e engajamento no mundo”. Assim, o corpo do pesquisador e dos sujeitos são entendidos através dos “modos somáticos de atenção” que constituem maneiras de “estar atento a” e “com o corpo”, os olhares, movimentos, dores, formas de comunicação e expressão são elementos significativos para construção da metodologia e não somente elementos de análise ou interpretação.
Os resultados preliminares coloca em questão o chamado “modelo social” (ao menos na versão dos primeiros teóricos) no entendimento do qual a deficiência deixa de ser considerado como algo individualizado no corpo (a lesão) e passa a considerar o contexto, as interações ambientais e sociais da pessoa com seu entorno, e que retirada as barreiras a pessoa poderia ser “integrada” e “produtiva” na sociedade. Subjacente a essa proposição do modelo social estão pressupostos os valores de independência e autonomia que posteriormente foi objeto de crítica feminista, em que questionaram se tais valores poderiam ser de fato almejado por todos os deficientes.
A experiência na comunidade quilombola, enquanto um grupo constituído por parentes e pessoas relacionadas, diminui o papel do indivíduo e sua independência, colocando ênfase na “coletividade”, assim as formas de participação social da pessoa com deficiência está diretamente relacionado enquanto ao ser “pessoa” (parente etc.) no grupo. Além disso, direitos relacionados a saúde, educação ou de infraestrutura como a mobilidade e transportes (alguns destes “especiais”) são reivindicados em conjunto a demanda por território, sendo esse entendido como o direito principal para manutenção dos modos de vida e existência das pessoas. A protelação do Estado na efetivação dos direitos territoriais impacta de forma exponencial a qualidade de vida de pessoas com deficiência que estão fora dos grandes centros urbanos e cujo o acesso a serviços básicos se dá de forma ainda mais precarizada.
Compreender como a categoria “deficiência” assume relação diferenciada em contextos específicos pode contribuir na formulação de politicas púbicas que leve em consideração as pessoas com deficiência que estão nas comunidades quilombolas, respeitando suas formas próprias de viver.
Referência citada:
CSORDAS T. Corpo/Significado/Cura. Traduzido por: Fonseca JS, Fonseca ES. 1a ed. Porto Alegre: UFRGS; 2008.
*Optei por não divulgar o nome das comunidades nesta etapa inicial

local do evento

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