28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-14A - GT 14 - Diferentes abordagens da e na Extensão |
31662 - OS CÍRCULOS DE CULTURA NA CONSTRUÇÃO COLETIVA DE PRÁTICAS DE SAÚDE COM MULHERES EM SOFRIMENTO PSÍQUICO NO SERIDÓ POTIGUAR
RENATA CRISTINA DANTAS DA SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN/FACISA)., ANA KALLINY DE SOUSA SEVERO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN/FACISA).
Introdução
O Seridó Potiguar apresenta grande demanda de mulheres em sofrimento psíquico e uso abusivo de psicotrópicos, contando com poucos espaços de cuidado no coletivo, e decentralizados dos profissionais de saúde. Tal discussão em torno das práticas de cuidado em saúde mental na contemporaneidade se mostra extremamente necessária, diante dos desmontes que os serviços e as políticas púbicas enfrentam, somos instigados a reinventar as práticas no SUS e encontrar saídas possíveis para não retroceder diante das conquistas que já foram alcançadas. A proposta em utilizar os círculos de cultura, buscou ampliar as possibilidades de intervenção e investigação, possibilitando um espaço para que os sujeitos envolvidos pudessem ser ativos e participativos em todos os processos da pesquisa. Sendo sistematizados por Paulo Freire, os círculos de cultura, surgem na década de 60, formados por trabalhadores populares, que se encontravam em grupo, juntamente com um educador que exercia papel de coordenador na construção de um espaço para discussão de temáticas que eram escolhidas pelos participantes. Desse modo, adotamos o círculo de cultura como um caminho investigativo na provocação de construir no campo do conhecimento, modos de pesquisa que tragam os sujeitos para o centro, ativos e participativos, deixando as ideias de sujeitos passivos e neutralidade, para o entendimento de que o trabalho do pesquisador se faz em diálogo e reflexão crítica com o todo.
Objetivos
Analisar a repercussão dos círculos de cultura como ferramenta investigativa na pesquisa com mulheres em sofrimento psíquico em um grupo de dança e práticas integrativas em um município da região do Seridó Potiguar.
Metodologia
Estudo qualitativo, lançando mão da pesquisa intervenção com grupo de 16 mulheres em um grupo de dança e práticas integrativas que acontecia no Espaço Terapics em uma UBS de Currais Novos–RN. Aconteceu de abril a novembro de 2018, período em que foram realizados quatro círculos de cultura, registrados em diários e analisados na perspectiva da análise de implicação.
Resultados
Algumas das participantes procuraram a facilitadora individualmente expressando situações de violência e repressão pelos companheiros. Inicialmente, por medo da quebra de sigilo e exposição no grupo, as mulheres não falavam, quando a confiança foi se estabelecendo e as situações compartilhadas, reflexões e estratégias de resolução surgiram. A ideia de coletividade, de contar umas com as outras foi se intensificando, sendo o cuidado mutuo, um aspecto presente em todos os encontros. A percepção de si e do outro possibilitou um direcionamento autônomo nos processos de saúde-doença-cuidado das participantes. No último círculo, foi também o encerramento das atividades no Espaço Terapics, pois o contrato de trabalho da equipe de profissionais estava sendo encerrado. O grupo espontaneamente se articulou para continuar com os encontros de dança independente dos profissionais de saúde. Cientes de que somos responsáveis e co-criadores das nossas realidades e da sociedade, o círculo de cultura aponta aqui, para um funcionamento dinâmico, que ilumina a consciência enquanto estimula o diálogo coletivo. E assim permite a criação de novos modos de saúde para além da dinâmica institucional e dos próprios profissionais de saúde.
Considerações
Apontamos a necessidade de produções acadêmicas que façam a discussão em torno das questões de gênero e saúde mental em diálogo com a educação popular em saúde. Verifica-se a urgente necessidade de reinventar práticas de cuidado no SUS decentralizadas dos profissionais de saúde, incluído saberes e práticas já existentes no contexto comunitário, incentivando que a saúde se faça na coletividade e no cotidiano da vida de todos.
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