29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-14D - GT 14 - Extensão e Saúde de grupos populacionais |
31265 - PROTAGONISMO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA COMO AGENTE PROMOTOR DA SAÚDE.
MARIA GABRIELA CURUBETO GODOY - UFRGS, IASMIN OLIVEIRA CARNEIRO - UFRGS, THAIS DO AMARAL MARQUES - UFRGS, JESSE RODRIGUEZ CARDOSO - UFRGS, MIKAELLI ALESSANDRA WOZNIAK SOARES - UFRGS, BIANCA GOMES CORRÊA - UFRGS
Este trabalho apresenta a experiência de formação e atuação no território de agentes promotores da saúde da População em Situação de Rua (PSR), vinculados ao projeto de extensão “Capacitação para a Promoção da Atenção Integral à Saúde da População em Situação de Rua (PSR) no SUS”, realizado em Porto Alegre de janeiro de 2018 a julho de 2019 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), e com o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR). Desigualdades étnico-raciais e agravos como tuberculose, HIV/AIDS, e outros são recorrentes na PSR, acarretando piora na sua morbimortalidade e a necessidade de desenvolver estratégias inovadoras de melhoria do acesso e adesão ao tratamento, estimulando maior protagonismo, cooperação e participação dos diversos envolvidos.
Nesse sentido, diversos serviços de referência para a PSR na cidade – CAPS; ESF, US, CREAS, CentroPop’s, Consultórios na Rua, Ação Rua (serviço de abordagen de rua) - encaminharam pessoas para o projeto, que selecionou 16 delas (10 homens e 6 mulheres) a partir dos seguintes critérios: experiência atual ou passada de situação de rua; experiência de cuidado de si em relação à saúde; interesse e/ou experiência no cuidado da saúde da PSR; disponibilidade para realizar o curso “Agentes promotores da Saúde da PSR”, e disponibilidade de até 15 horas semanais para ações do projeto, que envolvem o curso, a atuação no território e outras.
O curso ofertado para os agentes abrange diversas temáticas de saúde que afetam a PSR e favorece o compartilhamento de informações entre os participantes: PSR, estudantes, professores e ministrantes. As informações técnicas apresentadas visam esclarecer dúvidas e enfocam questões como: o que é o agravo?, quando suspeitar?, como prevenir?, como e onde tratar?. E a PSR fornece informações sobre sua experiência, designada de “Rualogia”, e os procedimentos adotados para o cuidado na rua. Os desafios do curso envolvem a necessidade de usar uma linguagem acessível, muito visual, com figuras e fotos, uma metodologia dinâmica, e um bom manejo de grupo, em decorrência da grande participação de alguns e dispersão de outros. A partir desse saber coletivamente construído, segue-se o planejamento da atuação no território, através da educação entre pares. A educação entre pares pressupõe maior identificação entre quem está abordando e quem é abordado, favorecendo maior igualdade, empatia e intercâmbio entre ambos.
Para a atuação no território, agentes e estudantes de graduação e pós-graduação da UFRGS formam micro-equipes distribuídas em 6 das 8 gerências distritais, realizando ações de abordagem, busca ativa, articulação de serviços, e articulação de ações coletivas como oficinas de educação e promoção da saúde em até 3 turnos semanais, ao longo de 6 meses. A convivência no território possibilita uma valorização do saber da rua (rualogia), e reforça o protagonismo dos agentes como sujeitos de suas histórias, ofertando um novo lugar, o de cuidador.
Da troca de saberes durante as aulas são feitos registros audiovisuais e escritos, que dão substrato para a elaboração de material educativo: panfletos, cartazes, e cartilhas para a promoção da saúde da PSR, cujo objetivo é contribuir para o cuidado entre pares e a promoção da saúde, a partir da transmissão de conhecimentos práticos. O material educativo, dessa forma, é feito com a PSR e para a PSR com informações técnicas dos assuntos tratados e informações advindas da “Rualogia”. O material é distribuído nos territórios de atuação do projeto, nas ruas habitadas pela PSR, e em serviços da rede de cuidado da cidade.
Entre as os desafios vivenciados no projeto em relação aos agentes promotores da saúde da PSR, destacam-se: a grande heterogeneidade dos agentes em relação ao cuidado de si - alguns vivenciando uma fase de vida mais instável e, portanto, com maior necessidade de receber cuidado e menos condições de ofertá-lo, o que gerou a necessidade de refletir que a equipe da UFRGS atuaria como “agente do agente”; lidar com agentes com faltas recorrentes e a cobrança do grupo dos demais agentes pelo seu desligamento; a relação com alguns serviços da rede, o que gera a necessidade de rever algumas das estratégias de articulação; dentre outras questões. Entre as potências, destaca-se o envolvimento e implicação de alguns agentes com sua função, literalmente vestindo a camiseta e crachá do projeto, assumindo um novo lugar – que ainda terá que ser melhor compreendido - em seus territórios.
A experiência com os agentes neste projeto apresenta novas estratégias para repensar o cuidado de populações vulneráveis como a PSR, deslocando os lugares entre quem cuida e quem recebe cuidado, possibilitando a construção de um processo de circularidade do cuidado que favorece o diálogo entre saberes e a construção de pontes entre os serviços e as populações atendidas e entre a universidade e a cidade.
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