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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-14D - GT 14 - Diferentes abordagens da e na Extensão

31010 - CONSULTAS COM PACIENTES SURDAS: RELATO DE VIVÊNCIA NO AMBULATÓRIO DA UFERSA
JULIANA KADJA MELO DA SILVA - UFERSA, ANNIE LÍVIA TORRES DE ALBUQUERQUE ARAÚJO - UFERSA, DÁVINNA NYARA LIMA MOURA - UFERSA, MYRELLA LORENA ALMEIDA - UFERSA, PAULO DAVID SANTOS CARVALHO - UFERSA


No Decreto de nº 5626 de 2005 a LIBRAS constitui-se uma disciplina optativa dos cursos da área da saúde. Esse decreto também determinou que todos os serviços públicos e privados de assistência à saúde oferecidos a indivíduos com deficiência auditiva devam ser feitos “por profissionais capacitados para o uso de LIBRAS ou para a sua tradução e interpretação”. Após mais de 10 anos do Decreto que obriga um atendimento em Língua de sinais, a realidade é bem diferente, pois ainda há muitas falhas para o atendimento de boa parcela desses usuários (SOUZA, 2017).
Um dos principais obstáculos do atendimento dos usuários surdos é a comunicação com o profissional de saúde (SOUZA, 2017), devido eles não saberem LIBRAS. Essa dificuldade de comunicação leva os pacientes surdos a irem com menos frequência do que os pacientes ouvintes aos serviços, visto que a relação médico-paciente não é criada (TEDESCO, 2013).
Portanto, notou-se a necessidade da capacitação dos estudantes de medicina em LIBRAS de forma a minimizar esses entraves, permitindo o acesso dos surdos aos serviços oferecidos pelo curso de Medicina. Tal capacitação é realizada em duas situações distintas: num primeiro momento, os servidores e alunos são capacitados a se comunicarem em LIBRAS; o segundo, é estabelecida na prática ambulatorial em Ginecologia e Obstetrícia o uso da LIBRAS para o atendimento das surdas.
As consultas nos ambulatórios contavam com a presença dos professores do projeto, a fim de ajudar na comunicação entre a paciente e o graduando. Esses atendimentos ambulatoriais iniciaram em 01 de outubro de 2018 e serão finalizados em 30 de junho de 2019, as consultas são associadas atualmente a um projeto de extensão, porém, a intenção do projeto é continuar atendendo à população mesmo após sua finalização.
A finalidade desse artigo é proporcionar o compartilhamento da vivência adquirida ao se participar das consultas como observador e participante ativo, assim mostrando as dificuldades na comunicação e os benefícios do aprendizado em LIBRAS.
Durante as consultas o que chamou mais atenção foi a falta de conhecimento das pacientes sobre a saúde da mulher. Nenhuma delas utilizava métodos contraceptivos, como os contraceptivos orais, injeção e o DIU. Elas relatavam que usavam camisinha masculino, desconheciam o feminino e já no início dos relacionamentos paravam de usar, com a justificativa do desconforto pelo uso do preservativo. Houve também uma surda homossexual e ela desconhecia que também precisava se proteger, mesmo com parceira fixa: evitar relação sexual quando menstruada, por exemplo.
O desconhecimento foi o principal motivo relatado por elas para não usarem outros métodos contraceptivos. Houve uma paciente, que não desejava engravidar, porém, não sabia como e não gostava das “pílulas”. Quando foi apresentado a ela o DIU, essa se animou e já se mostrou decidida a colocar. Em outra consulta, uma nova paciente falou que já havia cometido um aborto - fez uso de pílula do dia seguinte, indicado por uma amiga. Desde então ela sentia uma culpa muito grande, tendo ali a chance de desabafar na cumplicidade da relação médico-paciente. Foi esclarecido que talvez não tenha tido um aborto, uma vez que o seu ciclo era irregular e havia tomado a pílula após 2 semanas (uso até 72 h após relação).
A maior dificuldade foi a falta de uma vivência anterior em LIBRAS. Por mais que no projeto tivéssemos contato com o conteúdo teórico e treinássemos noutros horários, muitas vezes as surdas não conseguiam entender a pergunta. Então, era necessário o improviso e, como não éramos fluentes na língua, os professores do projeto ajudavam. Após algumas dessas ocorrências, aprendemos que em situações de improviso é importante usar ao máximo o elemento visual (marca muito forte da língua dos surdos), aí passamos a “contar histórias” para explicar.
Com base no exposto, percebe-se como é importante o atendimento do paciente em sua língua para facilitar a comunicação entre ele e o médico. A realização do presente projeto proporcionou um atendimento mais humanizado e inclusivo em saúde às atendidas, além de fornecer conhecimento às mesmas sobre saúde da mulher e esclarecer dúvidas. Desta forma, percebe-se que se faz necessária a continuação de projetos de capacitação como esse na área da saúde, com a intenção de formar profissionais aptos para a comunicação através da LIBRA, atendendo às necessidades dos deficientes auditivos de forma a oferecer um atendimento de qualidade, de acordo com a necessidade da população brasileira.
Referência
BRASIL. Decreto Nº 5.626, de 22 de dez de 2005. Regulamenta Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002. Brasília-DF, dez 2005.
TEDESCO, J.R.; JUNGES J.R. Desafios da prática do acolhimento de surdos na atenção primária. Cad. Saúde Pública. 2013;29(8):1685-9.
SOUZA, M.F.; ARAÚJO, A.M. Principais dificuldades e obstáculos enfrentados pela comunidade surda no acesso à saúde: uma revisão integrativa de literatura. Revista CEFAC. Junh, 2017; 19(3):395-405

local do evento

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