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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-21A - GT 21 - Itinerários terapêuticos: vulnerabilidade(s), interseccionalidade(s) e experiências de luta pelo direito à saúde no e para além do SUS 1

30152 - SISTEMA DE AUTOATENÇÃO, ITINERÁRIO TERAPÊUTICO E VIVÊNCIAS DA GESTAÇÃO EM UMA COMUNIDADE RURAL RIBEIRINHA DO AMAZONAS.
PRISCILLA CABRAL CORREIA - ILMD - FIOCRUZ/AM, MARIA LUIZA GARNELO PEREIRA - ILMD - FIOCRUZ/AM


Garantir acesso e qualidade de atenção à saúde frente às iniquidades e especificidades do espaço rural ainda é um problema a ser solucionado no estado do Amazonas cuja amplitude geográfica é mediada pelo regime das águas dos rios e o encontro com a floresta. O socioambiente amazônico com suas variadas populações (quilombolas, indígenas, ribeirinhas e outros grupos rurais) demanda adaptações capazes de garantir a oferta e favorecer o acesso aos cuidados de saúde, mesmo em áreas remotas ou carentes de infraestrutura. A pesquisa Nascer no Brasil alerta que as mulheres nortistas, negras, indígenas e aquelas com menor escolaridade tendem a ter piores índices de qualidade de atendimento e acesso ao serviço de saúde, demonstrando persistência das iniquidades de acesso e comprometendo o compromisso de redução da mortalidade materna. Partindo da premissa que a abordagem desses problemas exige conhecimento do território e da população atendida a pesquisa teve como objetivo analisar o sistema de autoatenção de gestantes de uma comunidade rural ribeirinha, na fronteira entre os municípios de Manaus e Novo Airão, Amazonas, com acesso exclusivamente fluvial. O conceito de autoatenção, referido às representações e práticas de sujeitos ou grupos sociais para lidar com seus problemas de saúde, abrange também a interrelação entre estratégias comunais e a assistência ofertada pelos sistemas oficiais de atenção à saúde, cujo uso simultâneo pelos usuários configura uma rede de cuidados na qual os sujeitos transitam, instituindo itinerários terapêuticos que guiam o acesso e uso de serviços (Menéndez, 2003). Esta Pesquisa etnográfica investigou uma localidade rural ribeirinha com 36 famílias. A coleta de dados abrangeu entrevistas e observação participante com as mulheres grávidas no período da coleta de dados. Foram investigados o nível ampliado do sistema de autoatenção (contexto social, modos de vida, representações e práticas de saúde, agentes de poder político e redes de parentesco das gestantes), bem como o nível restrito (cuidados à gestação ofertados por terapeutas populares, familiares e por profissionais da unidade básica fluvial – UBSF que atua na localidade em regime itinerante. O deslocamento da comunidade até o município mais próximo pode levar de uma a três horas, enquanto para Manaus este trajeto fluvial pode durar até doze horas, sendo percorrido pela população para acessar benefícios sociais, alimentos e realizar e exames rotineiros. Os principais agentes do sistema de autoatenção da localidade são as parteiras, o grupo familiar e as próprias gestantes com experiências singulares de vida e de maternidade. Também integram esta constelação profissionais da atenção básica que atendem mensalmente na comunidade e voluntários de ongs religiosas cuja atuação esporádica, com marcado caráter moral, visa a adesão de prosélitos, ainda que pautado por uma produção discursiva de saúde. As principais estratégias de cuidado com a gestação abrangem prescrições dietéticas situadas na interface entre uma transição alimentar, ainda em curso, e o sistema de reima, um conjunto de elementos prescritivos da cultura regional que expressa conflitos de ordem cosmológicas entre populações humanas e os seres-espírito das matas e das águas. O lazer também é entendido como elemento do cuidado, expresso no jogo semanal de futebol; condenado pelos profissionais de saúde ele é frequentado pelas gestantes que nele buscam prestígio, reforço das alianças familiares e a “paquera” instituídos em torno do jogo. O uso de fármacos, prescritos na unidade ou por automedicação, é rotineiro, mas sua lógica de uso entrelaça-se com a da fitoterapia, evidenciando importantes ressignificações de suas finalidades. Tais concepções e práticas são mediadas por um cenário de carências econômicas e pelas limitações de uma rede assistencial incapaz de garantir a continuidade do cuidado, dado o caráter itinerante do regime de atendimento e a ausência de resposta à situações de urgência e emergência que ocorram fora dos dias em que a unidade se faz presente no território. Tais condições desfavoráveis desafiam a resiliência de mulheres no viver e cuidar de si enquanto gestam outro ser. Neste processo elas tecem uma trama de cuidados que alia interpretações e prescrições oriundas de diversos níveis de do sistema de autoatenção e de seus agentes de cuidado. A autoatenção se institui como processo de construção compartilhada que expressa os modos de viver e ser cuidado, bem como os usos e recusas ao que é ofertado pelo sistema oficial de saúde. (Re)conhecer este sistema e suas as ressignificações pode propiciar ferramentas que auxiliem o sistema oficial de saúde a compreender as características desse território, os modos e vida e as demandas de suas usuárias, para prover melhores condições de encontros com elas, rumo a um cuidado, não substutivo do sistema de autoatenção, mas progressivamente integrado e permeável aos modos de viver dessa população.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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