30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-21B - GT 21 - Itinerários terapêuticos: vulnerabilidade(s), interseccionalidade(s) e experiências de luta pelo direito à saúde no e para além do SUS 3 |
29210 - RAÇA, GÊNERO E CLASSE: MULHERES NEGRAS COM DOENÇA FALCIFORME ENTRELAÇADAS EM OPRESSÕES JUCIDALVA NASCIMENTO GOMES - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, CECILLIA ANNE MCCALLUM - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Introdução: Estudos têm comprovado que raça, gênero e classe se articulam produzindo experiências distintas para homens e mulheres. A doença falciforme (DF) é uma condição crônica que marca a vida de mulheres negras com a doença e aponta a interseccionalidade de raça, gênero e classe. Parte-se do pressuposto que ser negra e, principalmente com uma doença crônica, contribui para a dificuldade dessas mulheres no contexto brasileiro ao acessar serviços públicos de saúde em busca por cuidados. Para entender estas experiencias precisa-se aplicar uma análise interseccional ao se debruçar sobre suas trajetórias de vida. Objetivo: A presente pesquisa analisou os itinerários terapêuticos de mulheres negras com DF e conheceu suas trajetórias e experiências cotidianas. Metodologia: Delineou-se um estudo descritivo/exploratório, com abordagem qualitativa, desenvolvido a partir das histórias de vida de mulheres negras com DF residentes em Salvador e região metropolitana e suas percepções acerca de se conviver com a doença. Colaboraram com a pesquisa nove mulheres negras com a doença, das quais sete têm doença falciforme tipo HbSS, conhecida como anemia falciforme, uma com doença falciforme tipo HbSC e uma com doença falciforme tipo HbSβ, a Beta Talessemia, com idade variando entre 18 e 42 anos de idade. Todas proveniente de famílias de baixa renda. As entrevistas foram realizadas entre os meses de abril e novembro de 2017. A perspectiva feminista e antirracista foi à base para o desenvolvimento desta pesquisa. Resultados: O racismo se expressa em diversas formas na vida da população negra. A doença falciforme marca profundamente a vida das pessoas acometidas pela doença, pois impedem que o convívio e os processos de socialização sejam plenamente vividos, esses elementos foram considerados quando as mulheres negras com DF se referiram às marcas da doença que as impossibilitaram nas interações sociais. Essas mulheres buscam a transformação do papel social que lhes foi dado, a de mulher negra com DF cheio de estigmas, estereótipos e cerceamento. Identificamos, também, nesse estudo que as mulheres negras com DF informam uma dinâmica no serviço de saúde que desconsideram suas condições sociais e culturais e desqualificam as suas experiências vividas. Conclusões: Conclui-se que é necessário reconhecer as mulheres negras com a doença falciforme como sujeitas ativas, pois esse reconhecimento abre espaço para o cuidado compartilhado e melhor qualidade de vida destas. As interlocutoras se mostraram capazes de gerir seu próprio corpo estabelecendo os limites e as possibilidades promovendo o autocuidado. Mesmo com todas as dificuldades que a sintomatologia da doença, essas mulheres desenvolveram estratégias que permitiram prosseguir com seus planos, dando conta do que havia sido elaborado nas suas construções subjetivas.
Descritores: Interseccionalidade; Mulheres Negras; Doença Falciforme.
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