30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-21B - GT 21 - Itinerários terapêuticos: vulnerabilidade(s), interseccionalidade(s) e experiências de luta pelo direito à saúde no e para além do SUS 3 |
31110 - ITINERÁRIOS TERAPÊUTICOS DE PACIENTES COM CÂNCER COLORRETAL EM TEMPOS DE MEDICINA PERSONALIZADA: UM ESTUDO SOBRE ACESSO E TRATAMENTO DA DOENÇA EM SALVADOR-BA TEÓFANES DE ASSIS SANTOS - UFBA, JORGE ALBERTO BERNSTEIN IRIART - UFBA
Introdução:
O câncer colorretal (CCR) é o 3º tipo de neoplasia mais comum no nordeste brasileiro, sendo superado pelos cânceres de mama e próstata, em mulheres e homens respectivamente, e pelo câncer de pulmão. A estimativa de novos casos de câncer colorretal para o ano de 2019 é de 36.360, segundo o Instituto do Câncer. Este tipo de neoplasia é mais incidente em pessoas com idade acima dos 50 anos, razão pela qual a recomendação para o rastreamento clínico se dá a partir dessa idade. Os principais sinais e sintomas relacionados ao câncer colorretal incluem a presença de sangue nas fezes, dores abdominais, fraqueza e anemia, alteração na consistência das fezes, etc. O tratamento do CCR que era até a década de 90 unicamente cirúrgico, tem mudado a partir da incorporação de novas biotecnologias, quimioterápicos e imunoterápicos, drogas-alvo e na abordagem denominada de medicina personalizada ou de precisão; que se baseia no uso de biomarcadores e nas características moleculares, fisiológicas e clinicopatológicas para potencializar ou bloquear uma expressão gênica, estimulando a resposta imunológica necessária para o sucesso do tratamento. Esse tipo de abordagem terapêutica representa o aumento da qualidade de vida das pessoas com CCR ao reduzir os efeitos colaterais comparados à quimioterapia tradicional e ao ampliar a sobrevida delas. Embora essas biotecnologias tenham mudado a prática médica e sejam consideradas a promessa do futuro para a medicina elas não são consenso; tendo em vista, entre outros motivos, os seus altos custos e os riscos que representam para a sustentabilidade dos sistemas de saúde e que implicam na manutenção de desigualdades relacionadas ao acesso a elas.
Objetivo:
O objetivo desse trabalho é reconstituir os itinerários terapêuticos de pacientes diagnosticados com CCR, levando em consideração a busca por acesso ao tratamento especializado e os recursos biotecnológicos disponíveis na rede em que o paciente está vinculado, em Salvador-BA.
Metodologia:
Esse estudo se insere enquanto subprojeto da investigação: “Genômica e medicina personalizada: análise crítica sobre a incorporação do saber e tecnologia genômica na biomedicina”. Trata-se de um estudo qualitativo, realizado a partir de entrevistas semiestruturadas com pacientes de oncologia de diferentes classes sociais em hospitais e clínicas públicas e privadas de Salvador. Nesse projeto, parte-se da perspectiva socioantropológica para analisar os itinerários terapêuticos de pacientes com CCR, de modo a compreender as suas trajetórias de busca por tratamento e a experiência com a enfermidade, levando em consideração as tecnologias disponíveis para o tratamento na rede em que o paciente está em tratamento. A análise dos dados é feita utilizando-se a técnica da análise de conteúdo temático, de acordo com o que propõe Bardin. Espera-se com esse projeto contribuir para a produção de conhecimentos sobre os itinerários terapêuticos de pacientes com câncer colorretal na busca por acesso à saúde, diagnóstico e tratamento, bem como visibilizar as experiências dessas pessoas com a enfermidade. Busca-se, ainda, chamar a atenção para as desigualdades sociais que estruturam a sociedade brasileira e que são acentuadas a partir das diferentes oportunidades de acesso às novas biotecnologias.
Discussão e resultados:
Os dados preliminares trabalhados até o momento indicam que as pessoas com câncer colorretal apresentam trajetórias marcadas pela dificuldade no acesso aos serviços de saúde, diagnóstico e tratamento da doença. Verifica-se ainda que a revelação do diagnóstico se caracteriza como um momento disruptivo na biografia das pessoas com CCR, o processo de escolha do tratamento é complexo e a mediação é um recurso utilizado para acessar o tratamento que, embora adquira centralidade na biomedicina, é atravessado pelas dimensões sociais e culturais que ampliam as ações de cuidado. A judicialização da saúde também aparece como estratégia utilizada para acessar as novas biotecnologias que não estão incorporadas ao SUS.
Conclusões/ considerações finais:
As dificuldades encontradas pelos pacientes com CCR para acessar o serviço de saúde, diagnóstico e tratamento evidenciam fragilidades do sistema de saúde que se relacionam à má distribuição das unidades, falta de recursos e de médicos especialistas na localidade onde se encontram os demandantes, fazendo com que muitos pacientes tenham de recorrer ao “mix público-privado” e custear suas próprias consultas e exames. Embora algumas biotecnologias, como as drogas-alvo e imunoterápicas, trazidas pela medicina personalizada ou de precisão para o tratamento do CCR tenham aprovação da ANVISA para ser comercializadas no Brasil, essas não foram incorporadas ao SUS para tratar o câncer colorretal; distanciando esse tipo de abordagem dos pacientes que dependem exclusivamente do SUS, o que se constitui como mais um importante obstáculo para a garantia do direito ao acesso pleno à saúde de qualidade.
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