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29/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-21A - GT 21 - Itinerários terapêuticos: vulnerabilidade(s), interseccionalidade(s) e experiências de luta pelo direito à saúde no e para além do SUS 2

29211 - INIQUIDADES EM SAÚDE NO CONTEXTO DAS CATADORAS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE UMA ASSOCIAÇÃO DE CEILÂNDIA NO DISTRITO FEDERAL
JOAQUIM PEDRO RIBEIRO VASCONCELOS - IFG E UNB, SÍLVIA MARIA FERREIRA GUIMARÃES - UNB, IZABEL CRISTINA BRUNO BACELLAR ZANETI - UNB


INTRODUÇÃO
Especificamente na realidade dos catadores de materiais recicláveis organizados em associações ou cooperativas, a atividade laboral apresenta riscos à saúde e padrões de adoecimento peculiares1. A realidade dos catadores não está relacionada somente ao trabalho em si, mas envolve também o olhar na saúde para os marcadores sociais como sexo, gênero, cor da pele, nível de escolaridade, classe social, ocupação e local de residência.
Dessa maneira cotidianamente os catadores enfrentam problemas complexos relacionados a vida, trabalho e saúde. Na ausência da assistência fornecida pelo Estado, pois não os alcançam ou os lugares onde vivem e trabalham. Os catadores acabam criando suas próprias estratégias de cuidado e de manejo de vida para sua sobrevivência. Essa busca pelo cuidado se caracteriza pela sua condição de saúde injusta e evitável, gerando condições desiguais de vida e saúde, assim implicando contexto de vulnerabilidade à doenças e agravos.
Diante disso, o objetivo desta pesquisa buscou compreender as condições de vida dos catadores de materiais recicláveis e como essas pessoas agenciam o cuidado à saúde para enfrentamento do cotidiano.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, compreendendo o contexto de vida e saúde de catadores de uma associação que trabalha em uma Usina de Reciclagem e Compostagem de Resíduos Sólidos, localizada na cidade de Ceilândia, no Distrito Federal (DF).
Dessa maneira, os procedimentos de investigação do problema em questão e as técnicas pertinentes a esses procedimentos tiveram como base os princípios do fazer etnográfico: o olhar, o ouvir e o escrever. Para o levantamento das informações foram realizadas entrevistas semiestruturadas e conversas informais, além da observação participante do local de trabalho.
O campo foi realizado entre os meses de outubro de 2015 a fevereiro de 2016. Foram, aproximadamente, cinco meses de imersão, compreendidos desde a etapa de negociação até o encerramento das entrevistas, utilizando o critério de saturação. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília.
RESULTADOS
As narrativas dos catadores revelam como estão expostos a situações que prejudicam à saúde, seja no próprio ambiente de trabalho2,3 ou na vida em comunidade, estando várias dessas situações relacionadas à posição socioeconômica, de classe e raça, que ocupam na sociedade. O contexto do trabalho além de ter elementos prejudiciais à saúde por sua natureza, o que foi encontrado na realidade reflete total desamparo desses trabalhadores por parte das instâncias governamentais, mesmo o espaço sendo de responsabilidade do poder público.
Ficou marcante com a pesquisa de campo a diferença entre o ser catadora e o ser catador. As mulheres possuem uma rotina mais densa, principalmente, por causa do cuidado com os filhos e pela responsabilidade instituída por serem donas de casa, logo todas elas se intitulam pai e mãe ao mesmo tempo. Além de reclamarem de dores no corpo relacionadas a posição de agachamento no trabalho.
Essa reflexão sobre o contexto patriarcal e a diferença de gênero desencadeia, por parte das mulheres, a vivência de práticas de cuidado, especialmente, a partir da rede de cuidado feminina que articulam. Quando trocam experiências entre si, esse “entre si” (vizinhos, familiares) é entre mulheres. Todas as mulheres trabalharam durante a gravidez até aguentar e logo após terem ganhado o bebê, ocorrendo isso pelo fato de não terem direito à licença maternidade.
Com esse cenário de vulnerabilidade, foi perceptível que as catadoras se encontram em um contexto desconfortável para a sua saúde, tanto física quanto emocional, para questões além do trabalho, principalmente, no que tange aos relacionamentos com os seus companheiros e maridos, que se configura um contexto marcante de violência doméstica.
CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES
A realidade é que a condição de trabalho e vida exercem influência negativa na qualidade de vida e o sistema público não consegue ofertar o acesso aos serviços de saúde e atender essa população. Isso provoca a construção de uma série de estratégias para enfrentamento dos problemas de saúde no nível cotidiano pelos catadores, como o uso de terapias populares de cuidado acessíveis e a prática religiosa.
REFERÊNCIAS
1- Vasconcelos JPR, Guimarães SMF, Zaneti ICBB. Condições de vida de catadores de resíduos sólidos recicláveis: revisão integrativa da literatura. Sustentabilidade em Debate - Brasília, v. 9, n.1, p. 187-197, 2018.
2- Peixoto MT, Oliveira MRS, Rosa KG, Monteiro DA, Carvalho RC. Catadores de lixo do conjunto habitacional Feira VI: Condições socioeconômicas e riscos à saúde. Rev. Saúde Col. UEFS, Feira de Santana, vol. 5, n. 1, p. 46-50, dez, 2015.
3- Alencar MCB, Cardoso CCO, Antunes MC. Condições de trabalho e sintomas relacionados à saúde de catadores de materiais recicláveis em Curitiba. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 20, n. 1, p. 36-42, jan-abr, 2009.

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