29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-21A - GT 21 - Itinerários terapêuticos: vulnerabilidade(s), interseccionalidade(s) e experiências de luta pelo direito à saúde no e para além do SUS 2 |
29245 - HISTÓRIAS DE VIDA DE USUÁRIOS NA REDE DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS: A BUSCA PELA AUTONOMIA PARA O TRABALHO E O CUIDADO FAMILIAR COMO CO-PRODUTOR DE MAPAS DE CUIDADOS LUÍS FERNANDO NOGUEIRA TOFANI - UNIFESP, ADEMAR ARTHUR CHIORO DOS REIS - UNIFESP, LUMENA DE ALMEIDA CASTRO FURTADO - UNIFESP
INTRODUÇÃO: A implantação das Redes de Atenção à Saúde representa uma nova etapa de organização do SUS, com o objetivo de garantir a integralidade do cuidado e produzir mudanças no modelo assistencial à saúde por meio de redes temáticas prioritárias. Dentre estas, a Rede de Atenção às Urgências (RUE) foi proposta com a finalidade de articular e integrar os equipamentos de saúde, objetivando ampliar e qualificar o acesso dos usuários em situação de urgência e emergência de saúde, de forma ágil e oportuna. Os usuários do Sistema Único de Saúde acessam e utilizam as redes de atenção à saúde nem sempre “respeitando as normas” de regulação e acesso definidas por gestores e trabalhadores, produzindo seus próprios mapas de cuidados utilizando-se de seu agir leigo. A vivência de situações de urgência e emergência em saúde pode produzir emoções, racionalidades e sentidos nem sempre percebidos e considerados pelos formuladores, gestores, trabalhadores e pesquisadores das políticas públicas.
OBJETIVOS: O estudo tem como objetivos: reconstituir a partir das experiências dos usuários os mapas de cuidado produzidos, ou seja, como foi feito o acesso e a utilização dos serviços de saúde em situação de urgência e seus desdobramentos; e, identificar analisadores da produção micropolítica do cuidado em saúde na RUE a partir da percepção dos usuários.
METODOLOGIA: O desenho de pesquisa tem caráter qualitativo, analítico, com abordagem micropolítica e pode ser caracterizado como estudo de casos. Foram entrevistados “usuários-guia” utilizando-se do método biográfico para a coleta de suas histórias de vida que foram transcritas em narrativas. Os entrevistados foram indicados pelos gerentes dos serviços de saúde de dois municípios, com diferentes graus de vulnerabilidade, tendo como critério a utilização recente da Rede de Atenção às Urgências em uma das três linhas de cuidados proposta pela política: cardiovascular, cerebrovascular e traumatológica. A partir da construção de mapas de cuidados, o material empírico, composto pelas narrativas dos usuários e informações registradas em diários de campo pelos pesquisadores a partir das observações “in loco”, foi analisado utilizando-se dos referenciais teórico-conceituais da “Taxonomia das Necessidades em Saúde” e das “Múltiplas Dimensões da Gestão do Cuidado” propostos por Cecílio (2009, 2011).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados do estudo indicam a presença das diferentes necessidades e dimensões do cuidado em saúde em mapas compexos produzidos a partir das narrativas dos usuários. Dentre as necessidades em saúde identificadas e classificadas como boas condições de vida, acesso a tecnologias de saúde, criação de vínculos e autonomia, é recorrente nas falas a necessidade de autonomia no modo de levar a vida, em especial para o trabalho, percebido como um “valor social”. Já em relação às múltiplas dimensões da gestão do cuidado (individual, familiar, profissional, organizacional, sistêmica e societária) é muito presente nas narrativas a dimensão familiar como co-produtora dos mapas de cuidados, considerando-se um conceito ampliado de família enquanto rede de apoio social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A necessidade dos usuários de autonomia para o trabalho e a dimensão familiar da gestão do cuidado devem ser consideradas para a pesquisa, a formulação de políticas públicas, a formação profissional, a gestão e o cuidado, em especial em situações de urgência e emergência e na busca da equidade e da integralidade da atenção à saúde.
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