29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-21A - GT 21 - Itinerários terapêuticos: vulnerabilidade(s), interseccionalidade(s) e experiências de luta pelo direito à saúde no e para além do SUS 2 |
30409 - ITINERÁRIO TERAPÊUTICO DE PACIENTES COM HANSENÍASE COMO ESTRATÉGIA PARA A GESTÃO DO CUIDADO ISABELLA FELIPPE CAVALCANTE MEIRA - UFF, ANDRÉ LUIZ DA SILVA - SES-RJ
Introdução
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, de evolução crônica, cujo agente etiológico é o Mycobacterium leprae, tem alta infectividade e baixa patogenicidade, endêmica no Brasil, transmitida pelo contato direto de um doente sem tratamento para uma pessoa suscetível, principalmente através das vias aéreas superiores, sobretudo no ambiente domiciliar. Acomete a pele e os nervos periféricos, podendo causar deformidades e incapacidades físicas devido ao alto poder imunogênico do bacilo.
Sua relevância para saúde pública está relacionada ao poder da doença em causar incapacidades físicas e deformidades, sendo a hanseníase, uma das principais causas de neuropatia periférica e incapacidade funcional no mundo. Entretanto, o diagnóstico precoce e o trabalho de prevenção de incapacidades são de extrema importância para manter a qualidade de vida da pessoa acometida.
Apesar de ter sua sintomatologia bem definida, é uma doença de difícil diagnóstico e suspeição, devido sua evolução lenta e confusões diagnósticas como dermatites ou outras doenças crônicas. Além de envolver estigmas e preconceitos, a doença acomete segmentos mais pobres e vulneráveis da população. Devido às dificuldades de diagnóstico precoce, entender o processo do adoecimento, tratamento e cura para hanseníase se faz necessário, para isto, evidenciou-se a técnica de itinerário terapêutico, em busca de respostas para as dificuldades do usuário no acesso aos serviços de saúde.
O Itinerário Terapêutico (IT) é uma construção teórico-metodológico de investigação em saúde sobre uma doença, sofrimento, aflições, perturbações vivenciadas pelo sujeito no processo do adoecimento, que procura descrever e analisar as práticas individuais e socioculturais em saúde em termos dos caminhos percorridos por indivíduos na tentativa de solucionarem seus problemas de saúde, constituindo assim, uma ferramenta importante para compreender as necessidades em saúde das pessoas e podem ser entendidos como a busca de cuidados terapêuticos pelos indivíduos.
Para melhor análise e compreensão desse processo de adoecer em hanseníase, este estudo tem por objetivo evidenciar a aplicabilidade de estudos de itinerário terapêutico de pacientes diagnosticados com hanseníase para a gestão do cuidado.
Metodologia: pesquisa qualitativa, com análise documental e revisão da literatura sobre trabalhos escritos a respeito do itinerário terapêutico de pacientes com hanseníase.
Resultados e discussão
Estudos de Itinerário Terapêutico formam uma metodologia avaliativa centrada no usuário, que se caracterizam por dar visibilidade aos diferentes saberes, práticas e demandas por cuidados em saúde, reafirmando com isso, princípios e diretrizes do SUS, considerando a singularidade, vulnerabilidade, a complexidade e a inserção sociocultural dos sujeitos.
Neste contexto, estudos sobre IT se destacam pela sua capacidade de contribuir com a efetivação dos princípios e diretrizes do SUS como a integralidade e equidade, na identificação de barreiras de acesso aos serviços de saúde, no mapeamento de conflitos produzidos pelo modelo biomédico, assim como, pode ser um potente instrumento de avaliação de políticas públicas.
O potencial de estudos acerca de itinerários terapêuticos são capazes de promover reflexões que subsidiem o enfrentamento de desafios colocados para gestores, profissionais, formadores e pesquisadores no campo da Saúde Coletiva, para promoção da saúde considerando os distintos sujeitos em suas particularidades de forma a captar sua subjetividade.
Essa prática avaliativa é capaz de promover o diálogo entre os atores, promover escuta ativa e valorização das necessidades dos usuários, com isso, é possível reorientar práticas de trabalho, adequação de ofertas de serviços e melhor articulação entre usuários, profissionais e gestão de serviços de saúde.
Conclusão
Lutas por direitos de cidadania ainda são um desafio para sociedade, principalmente no que se refere aos princípios do SUS, da integralidade, equidade e participação social. A centralidade do usuário na avaliação de programas e serviços de saúde se opõe ao modelo assistencial biomédico convencional, que ganhou destaque na discussão na Reforma Sanitária brasileira iniciada na década de 1970.
A gestão do cuidado a partir do itinerário terapêutico de pacientes com hanseníase, podem fomentar a produção de uma abordagem que estabeleça maior interação com segmentos populacionais que vivem em situação de desigualdade social e vulnerabilidade e a gestão de políticas públicas de saúde, identificando as barreiras de acesso. Além de incorporar ações exitosas no planejamento para o enfrentamento da hanseníase, atuando na prevenção, promoção e recuperação da saúde, centralizadas no usuário. Por isso, inserir práticas avaliativas que explorem as necessidades do usuário é uma forma de criar novos valores de conhecimentos no campo da Saúde Coletiva, fortalecimento do direito à saúde e a integralidade no cuidado.
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