29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-21A - GT 21 - Itinerários terapêuticos: vulnerabilidade(s), interseccionalidade(s) e experiências de luta pelo direito à saúde no e para além do SUS 2 |
30459 - VULNERABILIDADE, ITINERÁRIOS TERAPÊUTICOS E CUIDADO INTEGRAL FRENTE À CRONICIDADE: FOCO NA LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA (LMC) E A DOENÇA FALCIFORME (DF) LUDMILA DE NERES SOUZA - UFBA, LENIR ALVES FRANÇA - UFBA, ISLAN SANTOS BARBOSA SOUZA - UFBA, VANESSA SOARES PASSOS - UFBA, LUCIANA BOA MORTE DE SANTANA - UFBA, EDINEIDE COELHO DOS SANTOS - UFBA, JOÃO VITOR CAVALCANTE ALEIXO - UFBA, GABRIELA DOS SANTOS SILVA - UFBA, YEIMI ALEXANDRA ALZATE LÓPEZ - UFBA, CLARICE SANTOS MOTA - UFBA
Introdução: As enfermidades crônicas são um desafio para a medicina, os sistemas, serviços e profissionais de saúde, e especialmente, às pessoas que as enfrentam, exigindo novas formas de abordagem e de cuidado. Ao correlacionar vulnerabilidade e doenças crônicas, é importante considerar aspectos singulares relativos aos sujeitos afetados e elementos do contexto social e assistencial. No plano social, cabe considerar em que medida o perfil socioeconômico, de gênero ou racial das pessoas acometidas influenciam no desenvolvimento de seus itinerários e experiências de acesso aos serviços e na esfera assistencial problematizar os limites ou desafios na construção de uma rede integral de cuidado. Diante disso, a Leucemia Mielóide Crônica (LMC) e Doença Falciforme (DF) precisam ser investigadas levando em consideração a cronicidade e seu impacto na vida cotidiana, considerando as iniquidades em saúde e vulnerabilidades em que os sujeitos estão expostos, já que são poucos os estudos abordando como estas mudanças nos “padrões” de intervenção têm implicações nos diversos níveis: subjetivos, socioculturais e econômicos. Logo, este estudo se faz necessário para compreender os processos de escolha, avaliação e aderência a determinadas formas de tratamento dos sujeitos, dialogando com o conceito de equidade em saúde, considerando que são duas doenças que compõem itinerários terapêuticos complexos, cujas intercorrências são influenciadas não apenas pelas condições clínicas, mas também pelo contexto social dos sujeitos e suas famílias, representando assim um desafio para o sistema de saúde. Objetivos: Analisar múltiplas dimensões da vulnerabilidade associada a duas doenças hematológicas crônicas - Leucemia Mielóide Crônica e Doença Falciforme e dos processos mobilizados em torno do cuidado integral, identificando as intersecções entre classe, gênero e raça/cor e as percepções das pessoas sobre a rede de serviços, identificando as principais barreiras de acesso, limites e potencialidades das redes formais e informais na busca pelo cuidado. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa onde são incluídas pessoas com DF e LMC que recebem atendimento no Hospital Universitário Edgar Santos (HUPES) e no Ambulatório Anexo Magalhães Neto. Para coleta de dados serão utilizados um questionário e entrevistas semiestruturadas. O questionário procura desenhar o perfil dos entrevistados, explorando as condições de vida e saúde das pessoas e suas famílias com foco nas dimensões da vulnerabilidade social. As entrevistas permitem que a pessoa narre a sua experiência frente à enfermidade, explorando marcadores interseccionais de geração/classe/raça/gênero na construção dos seus IT. O número de entrevistas seguirá o critério de saturação de dados, tradicionalmente adotado em abordagens qualitativas. A análise de conteúdo temática será adotada para o processo de análise e interpretação dos dados. Resultados e discussão: A LMC é a primeira neoplasia na qual os sujeitos passam por uma terapia efetiva para seu controle e remissão do câncer na fase crônica, através dos Inibidores de Tirosino Quinase (ITK) e no caso da DF, o uso da Hidroxiuréia tem representado um aumento na qualidade de vida das pessoas com o agravo, reduzindo a mortalidade e aumentando a sobrevida com a exposição em longo prazo. Dessa maneira, ambas adquirem um caráter crônico e acabam sendo atravessadas pelas iniquidades que repercutem no processo de adoecimento os sujeitos, deixando-os em estado de vulnerabilidade. O conceito de vulnerabilidade abordado busca compreender não apenas o estado em que os sujeitos com as enfermidades crônicas se encontram, mas também como que esses sujeitos e seus familiares mobilizam os ativos e capitais, a fim de melhorar sua situação de bem-estar, evitando a deterioração de suas condições de vida ou diminuindo sua vulnerabilidade, já que aspectos como estrutura e dinâmica familiar, ciclo de vida, condições socioeconômicas e marcadores de gênero e étnico-raciais constituem fatores que determinam o grau de dificuldade no enfrentamento dessas condições. Essas mobilizações são compreendidas através dos itinerários terapêuticos que produzem o conhecimento de como os sujeitos buscam os serviços de saúde ou outros espaços visando o cuidado. Logo, é fundamental dimensionar os limites e potencialidades das estratégias adotadas pelos sistemas e serviços de saúde na abordagem dos sujeitos e suas famílias que convivem com condições crônicas. Considerações Finais: Ações urgentes são necessárias para atuar sobre as vulnerabilidades e atender as necessidades da população, diminuindo as iniquidades de saúde. A análise da vulnerabilidade e suas dimensões, unida à perspectiva do IT apresenta-se fundamental, visando uma abordagem dialética que incorpore o individual e o coletivo, fornecendo pistas importantes para compreender os itinerários terapêuticos de pessoas com doenças hematológicas crônicas em busca de um cuidado integral.
|

|