29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-21A - GT 21 - Itinerários terapêuticos: vulnerabilidade(s), interseccionalidade(s) e experiências de luta pelo direito à saúde no e para além do SUS 2 |
31037 - ITINERÁRIOS TERAPÊUTICOS DE PESSOAS COM HANSENÍASE: CAMINHOS E TRAJETÓRIAS EM BUSCA DE CUIDADO OLGA MARIA DE ALENCAR - UECE, ELIZIANE OLIVEIRA DE LIMA - UECE, MIRNA NEYARA ALEXANDRE DE SÁ BARRETO MARINHO - UECE, MARIA ROCINEIDE FERREIRA DA SILVA - UECE
Introdução: A hanseníase doença milenar, infecciosa, crônica, conhecida mundialmente pelas deformidades físicas e incapacidades, provoca segregação social e estigma. O Brasil apresenta alta endemicidade, em que foram diagnosticados 25. 218 novos casos em 2016, com alta incidência no Nordeste. O Maranhão encontra-se em segundo lugar em casos de hanseníase entre os estados do Brasil. Objetivo: Traçar o itinerário terapêutico das pessoas acometidas pela hanseníase, identificando as redes assistenciais, formais e de apoio social para o cuidado. Metodologia: Pesquisa com abordagem qualitativa desenvolvida em Barão de Grajaú no Maranhão. Os participantes foram pessoas diagnosticadas com hanseníase tratadas no período 2001 - 2015. Para coleta de dados utilizamos a entrevista semiestruturada com as seguintes questões geradoras: como foi sua busca para saber da doença? Que caminhos percorreu para ser cuidado? As falas foram gravadas, transcritas e organizadas em narrativas. O estudo foi submetido ao Comitê̂ de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (parecer 2.527.964). Resultados e discussão: O momento do diagnóstico é crucial para a promoção de práticas de educação em saúde, investigação de contatos, orientação para uso das medicações e possibilidade de surgimento de episódios reacionais hansênicos. Os dados revelaram uma verdadeira peregrinação do paciente até chegar aos serviços, apontando diagnóstico tardio e acompanhamento em desacordo com as diretrizes do programa nacional. Apresentaremos os itinerários de três pacientes, que serão identificados por número da entrevista. Paciente 1- Suspeitou da hanseníase em 2013 quando estava trabalhando em Mato do Grosso do Sul, percebeu as manchas nas costas. Procurou o serviço de saúde da empresa, sendo diagnosticado alergia e prescrito pomada, mas as manchas continuaram. Ao visitar a família no Maranhão, mostrou para o irmão que suspeitou da doença. No retorno às atividades na empresa as manchas se exacerbaram, procurou o médico por mais três vezes e a conduta foi a mesma. Em julho de 2014 após ser demitido da fábrica e retornar para o Maranhão procurou uma unidade básica, em que foi solicitada a baciloscopia (realizada em Floriano), sendo positiva para hanseníase, iniciando o tratamento. Nas primeiras semanas da poliquimioterapia sentia muitas dores e teve que retornar à unidade, sendo encaminhado para especialista da rede privada em Floriano, que receitou a talidomida e prednisona. Paciente 3 – A peregrinação começou em 2013 devido as dores nas articulações. Realizou consulta em Teresina e o médico suspeitou da hanseníase, mas passou anti-inflamatório por seis meses. Solicitou retorno após uso, mas antes desse período foi encaminhado pelo agente de saúde para consulta com o médico da Estratégia de Saúde da Família (ESF) em Barão de Grajaú, em que foi diagnosticado com hanseníase. Iniciou o tratamento para seis meses, acrescido da prednisona. Antes de concluir o tratamento o paciente teve que ir para Imperatriz/MA e lá procurou a unidade de saúde para dar seguimento a poliquimioterapia, e, ao avaliá-lo, o médico percebeu que o esquema terapêutico estava incorreto. Solicitou retorno em janeiro de 2015 para iniciar o tratamento de um ano. Após três meses desse novo tratamento voltou para Barão de Grajaú e foi se consultar com o médico da ESF que o encaminhou para Floriano para consulta com médico da rede privada. Paciente 7- Iniciou com mancha pequena, foi aumentando[...] procurou à ESF para consulta com o médico, que fez vários testes (agulha, da orelha, com tubos de ensaio). [...] não deu nada, tudo normal [...] solicitou exames (baciloscopia) e foi feito em Floriano. Os exames deram negativos e a mancha, continuou aumentando. Somente três anos depois procurou outro profissional em uma clínica particular, que solicitou biópsia, [...] positiva para hanseníase [...] em seguida ao resultado foi encaminhado para iniciar o tratamento em Barão. Depois de alguns meses de tratamento teve que iniciar com a prednisona. Terminou o tratamento, mas as lesões não sumiram, continuou a preocupação e mais tarde, quase três anos depois, procurou outro profissional que não solicitou nenhum exame e o encaminhou para reiniciar o tratamento em 2016. Considerações finais: Os itinerários mostram uma realidade com ausência da busca ativa, vulnerabilidade nas avaliações de incapacidades e a fragilidade da organização dos serviços de saúde. Nas trajetórias das pessoas acometidas pela hanseníase foi identificado como redes assistenciais formais: UBS, ACS e clínicas privadas. A família deve se configurar como forte rede de apoio social, desde o momento da suspeita até o pós-alta. Por fim, os itinerários terapêuticos permitiram evidenciar uma série de lacunas do serviço de saúde, como a ausência de equipe multidisciplinar de referência e falta de suporte para exames essenciais ao diagnóstico, dificultando o cuidar das pessoas de modo integral e equânime.
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