29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-21A - GT 21 - Itinerários terapêuticos: vulnerabilidade(s), interseccionalidade(s) e experiências de luta pelo direito à saúde no e para além do SUS 2 |
31580 - VULNERABILIDADE SOCIAL EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS DE ILHA DE MARÉ COM FOCO NA DOENÇA FALCIFORME VANESSA SOARES PASSOS - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA-UFBA, EDINEIDE COELHO DOS SANTOS - ESCOLA DE ENFERMAGEM - UFBA, CLARICE SANTOS MOTA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA-UFBA
Introdução: A Ilha de Maré é um local historicamente negligenciado situado na Baía de todos os Santos (BTS) e integrante ao município de Salvador-Bahia. Pertence ao Distrito Sanitário (DS) do Subúrbio Ferroviário e conta com apenas 01 estabelecimento de saúde do tipo Unidade de Saúde da Família (USF) instalada em Praia Grande. Com uma população de mais de dez mil habitantes, distribuídos em pequenas comunidades, os moradores da ilha não contam com serviços de emergência e os trabalhadores da USF do local enfrentam diariamente os obstáculos geográficos da ilha, cuja locomoção interna se dá apenas pelo mar
ou por trilhas dentro vegetação da mata atlântica. A Fundação Palmares emitiu três certificações de comunidades remanescentes de quilombos (CRQ’s) para a população de Praia Grande, Bananeiras e Porto dos Cavalos - Martelo - Ponta Grossa, no ano de 2004 e 2005. Já no ano de 2017 no Diário Oficial da União foi emitido o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) com a regularização fundiária das terras da Comunidade Quilombola de Ilha de Maré. Poucos estudos se dedicam a investigar a Doença Falciforme e vulnerabilidades em comunidades quilombolas, e tal análise permitirá compreender melhor a experiência de adoecimento, bem como as barreiras e limitações “impostas” pelo contexto social e pelos sistemas de saúde para o acesso ao cuidado. Objetivos: Analisar a vulnerabilidade social em comunidades quilombolas de Ilha de Maré e o impacto nas condições de vida e saúde das pessoas com Doença Falciforme (DF), e as suas percepções sobre a rede de serviços formais e informais na busca pelo cuidado à saúde, identificando estratégias sócio-culturais locais que podem promover saúde e proteção social para as pessoas com DF. Metodologia: Inicialmente foi realizada uma primeira aproximação do campo, junto com a equipe de saúde da USF de Ilha de Maré, buscando mapear pessoas com DF no território. Após a identificação, realizamos visitas a algumas pessoas identificadas e o preenchimento de um instrumento simplificado de coleta, com o objetivo de conhecer o perfil dessas pessoas. Trata-se, portanto, de um estudo de natureza qualitativa, descritiva e exploratória. A população do estudo serão as pessoas diagnosticadas com DF e seus familiares/cuidadores nas comunidades quilombolas de Ilha de Maré. Resultados e discussão: O momento inicial de aproximação com o campo, através do mapeamento, revelou uma subnotificação da DF, dificuldades de inserção desses usuários na estratégia de saúde da família, através da USF local, além de ausência de acompanhamento com o hematologista por longo período de tempo e agravamento do quadro clínico. Um dos maiores obstáculos para esse acompanhamento é a marcação consultas e exames, somados a dificuldade de deslocamento para as unidades saúde fora de Ilha de Maré. A Bahia concentra a incidência mais alta entre os estados brasileiros DF, 01 a cada 650 nascidos vivos. Os casos de DF nas comunidades quilombolas não são poucos, já que o casamento consanguíneo é prevalente nessas comunidades. A vulnerabilidade social dos quilombolas está relacionada com as oportunidades e estruturas disponíveis para acesso aos bens e serviços que são ofertadas pelo Estado ou pelas redes sociais. A condição econômica é um importante determinante social que influencia na qualidade de vida, na aquisição de recursos para o própria sobrevivência e compra de medicamentos de uso contínuo, os quais nem sempre estão disponíveis no posto de saúde. A renda e a sobrevivência dessas comunidades são extraídas diretamente da venda da pesca, mariscagem e artesanatos, muitas vezes a renda familiar não é satisfatória, o que pode agravar sua condição de saúde. Complicações como úlceras nas pernas foram encontradas e o curativo é feito em casa, sem auxílio da equipe de saúde, com uso de plantas medicinais encontradas na localidade, de acordo com saber ancestral e popular. Considerações Finais: As comunidades quilombolas merecem investigações mais aprofundadas sobre a frequência da DF, além da investigação sobre o impacto da vulnerabilidade social nas condições de saúde desses indivíduos. Faz-se necessário investigar de que forma esses fatores interagem na trajetória das pessoas com DF. Especialmente nas comunidades quilombolas de Ilha de Maré, que possuem difícil acesso geográfico ao continente e por consequência a ausência aos serviços especializados e de urgência/emergência. Além de subsídios para superação dos problemas e entraves encontrados, tanto em relação às barreiras geográficas ou culturais de acesso aos serviços, por parte da população com doenças hematológicas crônicas, como para subsidiar políticas inclusivas contribuindo para a concretização da equidade em saúde nas comunidades quilombolas de Ilha de Maré.
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