29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-31B - GT 31 - Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional - SSAN e os povos e comunidades tradicionais: concepções e experiências em diálogo com o SISAN |
30196 - POPULAÇÕES, CONDIÇÕES DE VIDA E CONSUMO ALIMENTAR NA AMAZÔNIA. ANA CAROLINA DA SILVA MEDEIROS - FIOCRUZ-ILMD, EVELYNE MARIE THERESE MAINBOURG - FIOCRUZ-ILMD
Introdução: O consumo alimentar não somente se refere à ingestão de alimentos com (ou sem) valor nutricional, mas envolve também escolhas pessoais dos indivíduos que carregam intrinsecamente suas características sociais, o que implica na sua predileção por alimentos, na forma de preparar sua comida e como compartilham esses hábitos. Dessa forma é possível compreender que a alimentação tem importante influência na construção social, e a partir dela é possível observar mudanças significativas na sociedade (CANESQUI; DIEZ-GARCIA, 2005). O conhecimento do consumo alimentar de uma população gera informações muito valiosas acerca de como se organizam determinados grupos, pois assim se tem ideia de quais são as necessidades e quais são as prioridades daquelas populações em específico (ROMANI & AMIGO, 1986). Atualmente enfrenta-se um período de transição alimentar e nutricional que pode ser observado em um grande número de países. Os hábitos alimentares estão mudando rapidamente, seguindo uma linha em direção ao consumo exacerbado de alimentos ricos em gorduras e açúcares (CROVETTO et al, 2014; LOUZADA et al, 2015). O Brasil está seguindo essa tendência e isto pode se refletir nas comunidades mais afastadas dos grandes centros urbanos (LOUZADA et al, 2015). Porém, existem poucos trabalhos sobre o panorama do consumo alimentar na Amazônia. Objetivos: Conhecer como a população Amazônica se alimenta. Entender como os fatores ambientais e sociais influenciam a alimentação dessas populações. Metodologia: Foi realizada uma revisão bibliográfica, consultando a base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde, utilizando os seguintes descritores: “população rural”, “ecossistema amazônico”, “Brasil”, “consumo de alimentos”, “transição nutricional”, realizando diversas combinações com estes termos com o uso de operadores booleanos. Resultados e discussão: A Amazônia é comumente retratada como floresta tropical habitada por povos primitivos ou sociedades “não-urbanas” que possuem características diferentes entre elas (Adams et al. 2006). Elas se dividem entre as pequenas cidades e populações rurais ribeirinhas, essas em específico costumam distribuir-se ao longo dos rios e lagos amazônicos, mantendo uma relação muito forte com as águas nessa região, habitam casas de madeira construídas em palafitas e caracterizam-se por viverem à beira dos rios, povoando as chamadas várzeas e os locais de terra firma nessa região (Fraxe et. al., 2007; SCHOR, 2017). A alimentação das populações mais tradicionais, principalmente se tratando dos ribeirinhos, inclui os derivados da mandioca, muita cultivada na região, alguns vegetais e como proteínas, peixes e carne de caça. Porém observa-se uma crescente inserção de alimentos processados em comparação com os alimentos in natura, como o frango congelado, ovos de criadouros e embutidos como calabresa (SCHOR et al, 2015). Outra questão importante tratando dos fatores que influenciam a alimentação dessa população, são os rios da Amazônia. Estes possuem uma dinâmica que não somente possibilita a diversidade ecológica, mas também desperta a necessidade de interação dessas populações com o seu meio. A periodicidade das águas exerce uma grande influência nas sociedades tradicionais afetando diretamente a forma de organização da vida social e as atividades econômicas. A sazonalidade influi de forma bastante efetiva no que se planta durante algumas épocas do ano; logo a alimentação é um resultado disso (DIEGUES, 2009). Trata-se essencialmente de uma produção familiar de subsistência. Contudo, observa-se que existe uma significativa mudança nessa realidade. Em cidades do interior do Amazonas, Noda et al. ( 2001) e Schor (2017) observaram que essas cidades tendem a se conectar cada vez mais com os hábitos alimentares das populações urbanas. Em relação à forma de aquisição dos alimentos, essas pessoas têm geralmente baixo acesso a recursos básicos e utilizam auxílios sociais, como bolsa família, para completar a renda (SILVA et al, 2010). Estudos como o de Cabral et al. (2013) mostram que entre os beneficiários do bolsa família, é recorrente o uso do dinheiro para alimentos de teor industrializado, sendo esse tipo de alimento preferido durante as compras. Considerações Finais: Essas populações estão absorvendo cada vez mais os hábitos das grandes cidades, reflexo do período de transição alimentar em que o mundo se encontra. O fluxo mais intenso entre cidades e o dinheiro vindo de benefícios sociais, oferecem mais chances de comprar alimentos, a medida que as condições sazonais por vezes impossibilitam o plantio. Essa pesquisa faz parte de uma pesquisa mais ampla intitulada: “Estudo exploratório das condições de vida, saúde e acesso aos serviços de saúde de populações rurais ribeirinhas de Manaus e Novo Airão, Amazonas” (número de CAAE: 57706316.9.0000.0005) apoiada pelo CNPq (Processos nº 407944/2016-8 e nº 400898/2018-7) e FAPEAM/PPSUS-01/2017 - EFP_00014168.
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