29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-31B - GT 31 - Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional - SSAN e os povos e comunidades tradicionais: concepções e experiências em diálogo com o SISAN |
30350 - ANEMIA E DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A (DVA): DUAS ENDEMIAS EM VIAS DE CONTROLE EPIDEMIOLÓGICO EM GESTANTES? MALAQUIAS BATISTA FILHO - IMIP, SUZANA LINS DA SILVA - IMIP, MARIA DE FÁTIMA COSTA CAMINHA - IMIP, CAMILA CARVALHO DOS SANTOS - IMIP, SABINA BASTOS MAIA - UFPB, DEBORAH LEMOS FREITAS - IMIP, KARLA DA SILVA RAMOS - IMIP
Introdução: Entre as prioridades mundiais de saúde coletiva destacadas pelas Nações Unidas incorporadas nas políticas, programas e atividades multissetoriais no governo brasileiro figuram duas carências nutricionais específicas: as anemias e a deficiência de vitamina A (DVA). Em nível global, as anemias afetam, estimativamente, entre 1/3 a 38% de toda população mundial, tendo as crianças e as mulheres em idade reprodutiva como grupos biológicos de maior vulnerabilidade associando-se aos contextos socioeconômicos e ambientais mais desfavoráveis. Sua ocorrência implica em conseqüências adversas para o binômio mãe/feto no período gravídico, prolongando-se ainda no ciclo pós-gestacional. No Brasil, os inquéritos populacionais, embora questionáveis por limitações amostrais e metodológicos, como pontos de corte para discriminação de anemias nas gestantes, dificultam conclusões mais consistentes sobre a evolução temporal e geográfica do problema e seu monitoramento. Nesse contexto, a recomendação mais lógica seria a reavaliação do problema, e, ajustar as medidas de intervenção em curso. Adicionalmente, a DVA, tem no Brasil e no mundo, uma configuração epidemiológica que, reproduz aspectos dominantes das anemias carenciais. Assim gestantes, nutrizes e menores de cinco anos representam os grupos biológicos mais vulneráveis em termos de indicadores clínicos, transtorno de ajustamento na transição claro/escuro, dietas pobres em vitamina A ou seus precursores, e, finalmente, níveis baixos e deficientes de retinol sérico em inquéritos bioquímicos. Na realidade os dois problemas indicariam a necessidade de consolidações das experiências e estudos que possam esclarecer estas evidências retrospectivas como um avanço de natureza também prospectiva. Considera-se que depois de 60 anos de indefinição e até de agravamento dos dois problemas, vale a pena colocar estas endemias carenciais nos painéis de controle epidemiológico das deficiências nutricionais específicas, sinalizando uma nova e promissora perspectiva no cenário das deficiências nutricionais do Brasil. Objetivo: estimar a prevalência de anemia e DVA em gestantes. Metodologia Trata-se de um recorte do inquérito “Nutrição e infecção: o problema revisitado em função do surto da microcefalia”, aprovado pelo CEP- IMIP, CAAE n° 54690316.0.0000.5201, com coleta de dados entre abril 2017 a julho de 2018, realizado no Centro de Atenção da Mulher, serviço de referência do estado de PE e do Ministério da Saúde. A amostra incluiu 600 gestantes. Estudaram-se as variáveis coletadas no momento da captação do estudo: idade, escolaridade, trimestre gestacional, níveis de retinol sérico e nível de hemoglobina. O retinol sérico foi avaliado seguindo os critérios da OMS (valores >=0.70 e <1.05 umol/l: aceitável; valores >=1.05 umol/l: adequada umol/l). Para o diagnóstico da anemia, também se adotou o critério da OMS: Hb<11,0 g/dL. Realizou-se análise descritiva dos dados utilizando o Stata 12.1. Resultados e discussão: A faixa etária das gestantes predominante foi de 19 a 35 anos (79,7%) e 57,3% completaram o ensino médio. A maioria encontrava-se no segundo trimestre gestacional (65,8%). De acordo com a classificação proposta pela OMS, a prevalência encontrada da anemia (20,3%) é considerada como um leve problema de saúde pública e encontra-se em declínio corroborando com um estudo realizado no sudoeste da Bahia. A experiência das intervenções e estudos nos últimos 18 anos com a participação de um dos autores, evidencia que a fortificação obrigatória de massas industrializadas com ferro e folatos, além de melhoria dos padrões alimentares da população após 2002, tenha reduzido em pelo menos 25% a prevalência de anemia em mulheres no período reprodutivo. Mediante informações mais atualizadas, mas ainda limitadas, espera-se que em breve a prevalência das anemias decaia para valores menores de 10%, configurando, no período reprodutivo, evidências de que o problema poderá estar evoluindo para uma condição de controle epidemiológico. No estudo atual, a prevalência de níveis adequados de retinol sérico (valores >=1.05 umol/l) foi de 90,5%. Este achado pode ser decorrente ao fato de que no Brasil, na década de 70/80, no II Programa Nacional de Alimentação e Nutrição, tornou-se obrigatório o enriquecimento de leite desengordurado, sistematizou-se o emprego de megadoses de vitamina A em puérperas na alta hospitalar. E ainda, ao lado da elevação significativa de emprego e renda a partir de 2002, da quase universalização de assistência pré-natal e ao parto, e a complementação da renda, mediante bolsas alimentares, houve uma melhoria substancial no nível de ocorrência das anemias e de DVA. Conclusões: Registrou-se uma notável inflexão nas curvas temporais de evolução mesmo com a simplificação de resultados em escala decenal, numa periodicidade que não reproduz graficamente os pontos de ocorrência temporal dos dois problemas carenciais aqui analisados.
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