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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-31B - GT 31 - Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional - SSAN e os povos e comunidades tradicionais: concepções e experiências em diálogo com o SISAN

30985 - REFLEXÕES SOBRE A ALIMENTAÇÃO E SEGURANÇA ALIMENTAR DAS FAMÍLIAS NA COMUNIDADE QUILOMBOLA DO CASTAINHO – PE.
ANDRESA LIRA SILVA - UPE, WILLIANE SHEEMA DE SANTANA - UPE


As vivências profissionais, numa perspectiva educativa da formação, nos favorecem a uma desconstrução e reconstrução constante do ser e olhar profissional, desse lugar vem a importância dos relatos de experiência, como é o caso deste artigo, que nos levam a revisar lugares, afim de melhor compreende-los. O artigo é resultado das vivências, sistematização de diários de campo e relatórios de tutoria de núcleo profissional, nos dois anos enquanto residentes, abril de 2015 a abril 2017, no programa Residência Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase na População do Campo, vinculado a Universidade de Pernambuco, realizados nas comunidades quilombolas do município de Garanhuns-PE.
Pensar as comunidades quilombolas, antes de qualquer coisa, é pensar em territórios de luta, quilombo, segundo a etimologia Bantu, quer dizer acampamento guerreiro na floresta. Foi popularizado no Brasil pela administração colonial- em suas leis, relatórios, atos e decretos- para se referir às unidades de apoio mútuo, criadas pelos rebeldes ao sistema escravista e às suas reações, organizações e confrontos pelo fim da escravidão no País. Fugir dos grilhões, que aprisionavam a uma situação de exploração máxima, foi, sem dúvida, uma forma de resistir ao sistema escravista e de alcançar a liberdade (FREITAS, 2011).
Castainho não poderia ser diferente, comunidade quilombola, remanescente do quilombo de Palmares, com número aproximado de 860 pessoas, localizada no campo, pertencente ao município de Garanhuns-PE, tem nítida a força do povo, entre as seis comunidades quilombolas existentes na cidade, ela é a única que tem a titulação parcial das terras e está completamente demarcada, conquista adquirida através de muita luta e resistência.
As famílias que ali residem, em sua maioria, vivem da agricultura, tendo como principais produtos a mandioca e as hortaliças, que são comercializadas nas feiras livres do município, entretanto quem vive do plantio sofre com a intempérie do clima no agreste meridional, aonde vem sofrendo um período de chuvas escassas, outra parte da população acaba recorrendo ao trabalho informal no perímetro urbano ou ainda em algumas fazendas, sendo esse trabalho muitas vezes precarizado e insuficiente para arcar com as despesas da família.
Considerando o processo sociocultural de resistência do povo e dos territórios remanescentes de quilombos e a realidade alimentar das famílias quilombolas, percebidas na convivência com essa população; e as implicações para a vida, a saúde, e a cultura destes povos, o objetivo deste artigo é esboçar a caracterização da cultura alimentar em uma comunidade quilombola e realizar uma reflexão sobre como a produção e o consumo dos alimentos se relaciona com o modo de viver e a saúde destas famílias.
Durante a vivência foi possível observar que a mudança de padrão alimentar, que tanto interfere na saúde das populações urbanas, chegou a uma comunidade tradicional e campesina – onde se idealiza um consumo alimentar mais saudável – com praticamente a mesma velocidade que chegou as cidades, tendo como agravante a dificuldade em acessar serviços, como os de saúde, que possam orientar sobre os riscos que advém dela.
O comprometimento da segurança alimentar desta população inicia-se quando a produção agrícola, ou seja, o cultivo da mandioca e hortaliças como alface e coentro, acontece com o uso indiscriminado de agrotóxicos, principalmente o glifosato. Soma-se à aplicação de veneno agrícola nas plantas e no solo, e ao processo cumulativo consequente disto, a aplicação deste produto sem o equipamento de proteção individual (EPI) recomendado.
A partir do pensamento de Câmara (2009) sobre as situações de risco, foi possível comprovar o que ele defende quando afirma que “as situações de risco à saúde emergem do espaço social, que é construído também pelas relações da cadeia produtiva”.
No tocante a renda obtida por esta população, têm-se um retorno financeiro a partir da comercialização dos produtos agrícolas muito menor que o esperado, apesar das promessas de produtividade da lógica de produção hegemônica. Mesmo a pequena inserção no mercado local – configurada pela venda nas feiras livres do município do excedente (agora, mercadoria) que não é consumido pelas próprias famílias na comunidade – não é suficiente para a garantia da renda necessária para a satisfação das mais básicas necessidades da população.
Todo esse cenário dificulta tanto o acesso a alimentos saudáveis, quanto a manutenção de uma lógica própria de produção, pautada na herança ancestral e no respeito a terra, uma estratégia produtiva que acontece de forma muito mais intensa quando ligada a alimentos típicos de sua cultura. Mesmo com todo arcabouço legal, formado a partir de leis de alimentação, portarias ministeriais e decretos, formulados afim de assegurar a equidade e segurança alimentar a todo o território nacional, a população quilombola ainda sofre com o distanciamento da aplicação dessas políticas em seu território.

local do evento

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