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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-31C - GT 31 - Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional - SSAN e os povos e comunidades tradicionais: concepções e experiências em diálogo com o SISAN

30361 - PRÁTICAS ALIMENTARES E IDENTIDADES ESCOLARES: UMA ETNOGRAFIA SOBRE O COTIDIANO ALIMENTAR DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE UM MUNICÍPIO DO RECÔNCAVO BAIANO
EDLEUZA OLIVEIRA SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA, LÍGIA AMPARO-SANTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, MICHELI DANTAS SOARES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA


Introdução
As práticas alimentares e os processos identitários são fenômenos que se imbricam, produzindo mútuos efeitos que, no caso das escolas públicas brasileiras, a Alimentação Escolar tem sido mediadora e constitutiva desses fenômenos, em um contexto que, apesar dos avanços no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) na consecução do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), ainda persistem situações de estigmas e práticas assistencialistas no âmbito das escolas. Assim, de um lado, o PNAE se constitui em uma política de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), com estímulo e subsídio à oferta de refeições saudáveis elaboradas com gêneros alimentícios prioritariamente adquiridos da agricultura familiar, de outro, estudos têm apontado significados sobre a alimentação escolar associados a “uma comida destinada aos mais necessitados” e atribuição de identidades de “pobres e famintos” aos estudantes.
Objetivo
Este estudo buscou compreender as interações entre práticas alimentares em torno da alimentação escolar e os processos identitários de alunos, tendo como contexto uma escola pública do ensino fundamental em um município do Recôncavo Baiano.
Metodologia
A etnografia se configurou como abordagem teórico-metodológica para estudar o problema. A população de estudo foi constituída pelos sujeitos de uma escola estadual do município de Santo Antônio de Jesus, Bahia. A escola atua desde 1975 e funcionou na modalidade de Educação Integral de 2014 a 2017, ofertando aula para o segundo ciclo do ensino fundamental, ou seja, do sexto ao nono ano, cujos alunos integravam a faixa etária entre 11 a 14 anos. O trabalho de campo durou sete meses, constituindo-se de observação do cotidiano escolar, com foco nas três refeições servidas. Além da observação, foram realizadas 23 entrevistas com alunos, professores e funcionários. O tratamento do material produzido – diário de campo e entrevistas – consistiu em um exercício hermenêutico e categorização dos temas que emergiram.
Resultados e discussão
Os achados estão organizados em três capítulos. O primeiro descreve a escola estudada como cenário de práticas, situando os alunos como sujeitos que vivenciam intensos processos de construção identitária. Uma identidade estigmatizada era atribuída à escola pela comunidade do entorno. Discursos e práticas dos alunos apontaram para um movimento de resistência e de ressignificação dessa identidade.
O segundo capítulo consiste em uma descrição sobre a experiência do comer na escola. Os cardápios seguiam uma sequência semanal. A merenda das 10 horas predominava os mingaus, intercalados por biscoito ou pão com suco/achocolatado, na merenda das 15 horas, frutas. O feijão, o arroz, a carne e a farinha de mandioca eram a base dos almoços. As verduras entravam no cardápio em forma de salada ou junto ao cozimento da carne. Todas as preparações eram apreciadas, exceto os mingaus. A alimentação escolar reunia os sujeitos em torno do consumo de um mesmo cardápio, que na escola estudada, propiciava uma comensalidade marcada pela partilha, solidariedade, trocas de informações e experiências sobre comida.
O terceiro capítulo analisa categorias imbricadas na interação processos identitários e práticas alimentares na escola. A primeira categoria analisa fatores do modus operandi da produção da alimentação escolar servida na escola que conferiam credibilidade, confiança e apreço às refeições servidas. A segunda categoria analisa o potencial da alimentação escolar como promotora da alimentação saudável e de identidades alimentares regionais. A terceira categoria analisa as experiências dos alunos com o consumo da farinha de mandioca na escola, as quais comunicam processos de resistência e posicionamentos contra preconceitos com alimentos regionais, retratando que a construção identitária dos alunos na escola espelha também a própria identidade do povo brasileiro. E a quarta analisa diferenças no modo de servir a comida aos diferentes sujeitos da escola e o caráter disciplinar que ainda permeia a alimentação escolar, situações que produziam processos de sujeição, porém, também mostrou movimentos de alunos que forjam e produzem deslocamentos das forças de dominação.
Conclusões
As interações entre práticas alimentares e processos identitários na escola estudada apontam para o potencial de transformar significados e identidades dos alunos, da alimentação escolar e da própria escola.
As identidades estigmatizadas imputadas à escola estudada foram questionadas, produzindo processos de ressignificação da escola e de seus sujeitos. A alimentação escolar praticada na escola pôde ser compreendida como comida, cultura, identidade e diferença. As experiências com a alimentação escolar apontam para processos de resistência que espelham a própria identidade do povo brasileiro, com histórias de sujeição, mas que resiste e se modifica pelas interações e invenções.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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