28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-29A - GT 29 - Saúde e mulheres privadas de liberdade |
30393 - EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A ABORDAGEM SOBRE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: RELATO DE EXPERIENCIA NO CONTEXTO PRISIONAL KALLINY MIRELLA GONÇALVES BARBOSA - UNIVASF, MICHELLE CHRISTINI ARAÚJO VIEIRA - UNIVASF, GABRIELA GARCIA DE ANDRADE - UNIVASF, THAYSA MARIA VIEIRA JUSTINO - UNIVASF
CONTEXTUALIZAÇÃO
A violência contra a mulher se configura como um constante conflito de forças entre os sexos (CHAUÍ,1984). No Brasil, esse contexto é marcado pela raiz escravocrata associada ao modelo colonizador, nos quais eram observados a restrição das mulheres a determinadas atividades cotidianas, exposição a condições vulneráveis para a sobrevivência e privação de direitos, evidenciando um problema de saúde pública ao causar danos físicos, sexuais, psicológicos e/ou qualquer outro tipo de sofrimento para a mulher (PURIFICAÇÃO et al., 2017).
Nesse sentido, a temática requer políticas públicas mais eficazes e articulação dos serviços para a prevenção da violência e assistência às vítimas. Considerando que essa realidade é ainda mais distante das unidades prisionais, destaca-se a importância de promover oficinas com foco na violência contra a mulher, proporcionando às reeducandas a oportunidade de compartilhar as experiências, questionar e entender sobre a rede de atendimento a mulher vítima de violência.
DESCRIÇÃO
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência. As ações desenvolvidas pelos extensionistas foram aplicadas na Cadeia Pública Feminina de Petrolina-PE durante o projeto de extensão universitária intitulado “Saúde da mulher na prisão: uma proposta de promoção da saúde” promovido pela Universidade Federal do Vale do São Francisco.
A atividade com abordagem na violência contra a mulher ocorreu diante da organização do grupo para elaborar estratégias lúdicas e objetivas que facilitassem a compreensão sobre o ciclo da violência e as diversas formas de expressão.
Desse modo, para conversar sobre violência contra a mulher foi realizado, inicialmente, uma dinâmica de integração denominada “pessoas e coisas”, na qual trabalhou-se a necessidade de observar as atitudes nas relações interpessoais. Após esse momento, construiu-se uma nuvem de palavras com características referentes a homens e mulheres para que fosse discutido como as diferenças afetam o cotidiano e sustentam o ciclo da violência. Por fim, os estudantes em conjunto com as docentes elaboraram uma peça que expôs circunstâncias diárias remetendo à situações de violência contra a mulher para que fossem discutidas e relacionadas com as vivências declaradas pelas reeducandas.
PERÍODO DE REALIZAÇÃO
A experiência ocorreu no mês de fevereiro de 2019.
OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é relatar a vivência de acadêmicos de enfermagem durante uma atividade educativa sobre a violência contra a mulher na perspectiva de facilitar o reconhecimento das circunstâncias que caracterizam a violência, o entendimento dos serviços de apoio às vítimas e a Lei Maria da Penha.
RESULTADOS
A experiência evidenciou o desconhecimento das reclusas sobre as formas de expressão da violência. Além disso, as mulheres se apresentaram surpresas ao reconhecer que existem diferentes maneiras de exercer o poder em um relacionamento, no entanto, revelaram que o desequilíbrio nessa relação pode culminar em agressões.
Durante a vivência notou-se, no semblante das encarceradas, a indignação diante da encenação de uma situação cotidiana de violência contra a mulher. Em relação a informação quanto a rede de apoio às mulheres vítimas de violência, as mulheres revelaram que desconheciam a funcionalidade da maioria dos serviços, inclusive daqueles que são considerados porta de entrada para esse tipo de demanda e, infelizmente, não faziam proveito.
APRENDIZADOS
Percebe-se que o desenvolvimento de atividades educativas nas unidades prisionais são relevantes para a redução de agravos, efetivação das diretrizes e os princípios do Sistema Único de Saúde e igualdade social, visto que atender as demandas desse público marginalizado socialmente contribui para a melhora da qualidade de vida das pessoas reclusas. Convém lembrar, ainda, que a oficina oportunizou uma formação humanizada dos acadêmicos, através dos momentos de acolhimento, desmitificação de estigmas sociais e de incentivo ao olhar integral.
ANÁLISE CRÍTICA
A violência contra a mulher apresenta-se como um problema de saúde pública devido ao quantitativo de vítimas e a magnitude dos impactos causados, demandando ações urgentes que possam intervir nesse cenário alarmante em que se observa o aumento da mortalidade e traumas relacionados a esse tipo de agressão. Ressalta-se, ainda, que o distanciamento entre os serviços de saúde e a cadeia impedem a concretização de atividades educativas e o esquecimento da realidade hostil que as reclusas vivem, sendo notório a grandeza das ações de educação em saúde com o uso de metodologias ativas ao proporcionar a interação das participantes e a compreensão da temática com maior facilidade.
REFERÊNCIAS
CHAUÍ, M. Participando do debate sobre mulher e violência: perspectivas antropológicas da mulher. RJ: Zahar, 1984, p.25-62.
PURIFICAÇÃO, M.M. et al. A violência contra mulher numa perspectiva histórica–uma questão de gênero. Revista Eletrônica da FAINOR, v.10, n.3, p.465-473, 2017.
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