28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35B - GT 35 - Vulnerabilidade e Racismo Ambiental |
29363 - A SAÚDE NO CONTEXTO RURAL: A VIVÊNCIA DAS MULHERES DO ASSENTAMENTO MANDACARU ERIKA CAROLINA FERNANDES LIMA - USP, EDEMILSON ANTUNES DE CAMPOS - USP
Introdução: Os assentamentos rurais são organizações consideradas expressões da luta social dos trabalhadores do campo. E um dos problemas dessas áreas é a distância no acesso ao sistema público de saúde. Costa, Dimenstein e Leite (2016) mostraram que essa população precisa recorrer a um conjunto de práticas para cuidar da saúde incluindo a busca de atenção nos serviços do entorno. Para entender como vivem as mulheres assentadas é importante conhecer sua vivência no contexto que se inserem.
Metodologia: Este se trata de um estudo qualitativo de abordagem etnográfica que se baseia na ideia de que os comportamentos humanos podem ser compreendidos dentro do contexto sociocultural em que se inserem. Desse modo, o trabalho de campo foi realizado a partir de observações in loco sobre o território da pesquisa. O Assentamento Mandacaru fica localizado na zona rural de Petrolina (PE) e apresenta área de 482 ha onde se encontram cerca de 70 famílias (INCRA, 2017). Este estudo foi iniciado em outubro de 2016, porém a coleta está andamento desde o mês de fevereiro de 2019 partindo da observação participante e foi submetido ao Comitê de Ética da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
Resultados e discussão: O Assentamento Mandacaru passa por diversas dificuldades desde o início. Através de muitas lutas, conseguiu água encanada, mas sem tratamento, eletricidade nas casas e nas vias públicas. Possui associação de moradores, igrejas e alguns pequenos comércios. Não possui unidade de saúde, escola e água regularizada na área de agricultura. A unidade de saúde mais próxima fica no Projeto de Irrigação Nilo Coelho que assiste a vila e ainda dá cobertura ao assentamento com seus mais de 600 habitantes juntamente com a população rural dos arredores. As mulheres para conseguir consultas na unidade precisam se deslocar de madrugada ou esperar a visita do médico, que vai até a comunidade de dois em dois meses para atendimentos. A assistência não tem sido suficiente para atendê-las e muitas buscam endereços nos bairros urbanos da cidade para facilitar o acesso às consultas e exames. Estudos como o de Soares e Lopes (2011), Scopinho (2010) mostram que os serviços de saúde, em sua maioria, estão localizados em áreas urbanas dos municípios e não cobrem áreas de assentamentos. Pensar o tema do cuidado implica também em considerar a realidade cultural na qual os usuários do sistema de saúde estão inseridos. Trata-se de atentar para o modo como são vivenciadas as práticas de cuidados no interior da comunidade, a partir de seus códigos sociais e culturais. Assim, cabe analisar as relações entre cultura e cuidado, avaliando o modo como o cuidado também é uma construção cultural (CAMPOS, 2015). Conclusão: As mulheres do Assentamento Mandacaru são exemplos de luta, perseverança e resistência. Mesmo em meio às dificuldades, às necessidades de acesso à saúde, ausência de diversos setores dentro do assentamento, persistem em lutar por seus direitos. A cobertura na assistência de saúde é uma realidade ainda distante dessas mulheres que convivem com suas batalhas diárias. Portanto, é de suma importância discutir as políticas públicas de saúde para as mulheres do campo para que sua assistência seja efetiva, bem como, prosseguir nas pesquisas com esses grupos para que a sociedade científica reconheça e seja fortalecido o saber sobre esse contexto em nosso país.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 300 p. : il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 26).
CAMPOS, E. A. de. Lógicas do cuidado: um estudo socioantropológico sobre o exame de prevenção para o câncer do colo de útero, Papanicolaou [Tese Livre Docência]. São Paulo: Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, 2015.
COSTA, M. G.; DIMENSTEIN, M.; LEITE, J. Estratégias de cuidado e suporte em saúde mental entre mulheres assentadas. Revista Colombiana de Psicología vol. 24 n.º 1 Enero-junio 2015 ISSN 0121-5469 Impreso | 2344-8644 en Línea Bogotá Colombia - PP. 13-28. Disponível em: http://dx.doi.org/10.15446/rcp.v24n1.41968. Acesso em: 15 Out. 2017.
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA. Assentamentos da Reforma Agrária. 2017. Disponível em: http://www.incra.gov.br/assentamento Acesso em: 20 Out. 2017.
SCOPINHO, R. A. Condições de vida e saúde do trabalhador em assentamento rural. Ciência & Saúde Coletiva, 15(Supl. 1):1575-1584, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v15s1/069.pdf Acesso em: 20 Out. 2016.
SOARES, J. S. F.; LOPES, M. J. M. Biografias de gravidez e maternidade na
adolescência em assentamentos rurais no Rio Grande do Sul. Revista da Escola de Enfermagem da USP. 2011. 45(4):802-10. Disponível em: www.ee.usp.br/reeusp/Acesso em: 10 Out 2017.
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