28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35B - GT 35 - Vulnerabilidade e Racismo Ambiental |
30873 - LEPTOSPIROSE URBANA E ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: UM CASO DE NEGLIGÊNCIA À SAÚDE? EDNEIA CARLA PASSOS DOS SANTOS - ISC/UFBA, LENY ALVES BOMFIM TRAD - ISC/UFBA, YEIMI ALEXANDRA ALZATE LÓPEZ - ISC/UFBA
Introdução: O processo de urbanização desenfreada associado ao crescimento populacional não acompanhado de planejamento que, desde a revolução industrial, vem gerando inchaço de pessoas em cidades não preparadas para tal, fazendo surgir favelas em áreas insalubres sujeitas a condições de risco, e contribuindo para o surgimento de doenças e epidemias causadas pela falta higiene, serviços sanitários e acesso as infraestruturas e equipamentos/cuidados de saúde. Ainda nesse contexto a falta de saneamento básico nas grandes cidades e a frequente exposição à contaminação ambiental durante fortes chuvas e enchentes é considerada como fatores fundamentais para a ocorrência das epidemias de leptospirose em área urbana No Brasil, a leptospirose é endêmica em todo o território, sendo considerada epidêmica principalmente em períodos chuvosos. É uma enfermidade causada por uma espiroqueta patogênica do gênero Leptospira, sendo uma das zoonoses mais difundidas no mundo, considerada um importante problema de saúde pública. Nesse sentido, o desenvolvimento de ações de promoção da saúde na Atenção Primária a saúde (APS) podem evitar óbitos e prevenir em boa parte o surgimento de novos casos. Pelo exposto, o objetivo deste estudo foi refletir sobre as ações de promoção da saúde que são realizadas na Atenção Primária relacionadas a leptospirose urbana, a partir da revisão de literatura.
Metodologia: Foi realizada uma revisão sistemática da literatura envolvendo atividades de identificação, análise e interpretação de resultados de pesquisas. A busca dos artigos foi realizada na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e o Portal da Capes. Foram incluídos estudos que abordaram ações de promoção da saúde relacionadas a leptospirose urbana na atenção primária a saúde (APS). Além disso, se fez uma busca em documentos do Ministério da Saúde que dispõem sobre estratégias e ações de saúde na atenção primária. Estudos que não incluíram a relação da leptospirose urbana com a APS como um tema central foram excluídos dessa revisão sistemática. Cabe salientar que as reflexões dessa revisão fazem parte de uma dissertação de Mestrado intitulada “Leptospirose urbana em Salvador –BA e atenção primária em saúde: um caso de negligência à saúde? ”, que vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, Brasil. Tem como objetivo analisar as articulações entre as percepções e práticas sobre saúde e ambiente e atenção primaria (focalizando na leptospirose urbana) por parte dos profissionais de saúde, agentes comunitários em saúde e agentes de endemias em dois bairros populares de Salvador/BA; visando uma discussão crítica na perspectiva da negligência em saúde.
Resultados e discussão: Estudos selecionados para essa revisão sugerem que a leptospirose urbana passa por um processo de dupla negligência na rede de saúde, uma negligência que se relaciona a suas características e impactos característicos de uma doença negligenciada e sua falta de reconhecimento como tal pela política de saúde brasileira. Quando se utiliza a denominação “negligência” em saúde, entende-se que não faltem recursos financeiros para lidar com determinadas doenças ou que existam tratamentos disponíveis, mas que são doenças ignoradas por quem as deveria combater, apesar de representarem um potencial risco ou um dano já instalado à saúde pública. Apesar do reconhecimento internacional da leptospirose como uma doença negligenciada, não foram encontrados artigos nem documentos relacionados a ações de promoção da saúde na atenção primaria que fazem qualquer menção a intervenção para esse agravo. Estudos espaciais apontaram que os contextos geográficos são de grande importância nos processos de adoecimento; nesse sentido, é nos locais com maiores fatores de riscos às doenças e agravos que devem ser focadas as ações de prevenção, promoção e cuidados da atenção primária. Logo, é fundamental dimensionar os limites, potencialidades, lacunas existentes das ações e estratégias adotadas pelos sistemas e serviços de saúde na abordagem dos ambientes, sujeitos e suas relações com o processo de cuidado e obtenção contínua de saúde, no escopo da promoção e prevenção de agravos socioambientais.
Conclusão: Por meio dessa revisão foi possível perceber que apesar de tratar-se um problema de saúde pública, a leptospirose urbana não é entendida nem enfrentada como tal, é há um reflexo disso na produção cientifica brasileira, visto que não foram encontrados estudos que façam uma relação direta entre a leptospirose urbana e as ações de promoção e prevenção da saúde na atenção primária, que deveria ser fundamental na promoção do cuidado a saúde e compreensão de como as barreiras/lacunas que existem no construto social sobre determinadas doenças, ambientes e populações marginalizadas.
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