28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35B - GT 35 - Vulnerabilidade e Racismo Ambiental |
31365 - RACISMO AMBIENTAL E IMPLICAÇÕES NOS MODOS DE VIDA E SAÚDE DE DUAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO NORDESTE BRASILEIRO JOILDA SILVA NERY - ISC - UFBA, LENY ALVES BOMFIM TRAD - ISC - UFBA, MÁRLON VINÍCIUS GAMA ALMEIDA - ISC - UFBA, VANESSA SOARES PASSOS - ISC - UFBA, ROBERTO DOS SANTOS LACERDA - UFS, CLARICE SANTOS MOTA - ISC - UFBA
Apresentação/Introdução: É evidente a negligência histórica por parte do Estado em relação às comunidades quilombolas, que remonta ao passado escravista no Brasil. A abolição da escravidão não representou inclusão social dessa população, que ainda hoje sofre os impactos da ausência de ações do poder público. Na atualidade, muitas comunidades remanescentes de quilombos carecem de condições básicas de infraestrutura, educação ou saúde. Muitas também resistem e se mobilizam para manter seu modo de vida tradicional, frequentemente ameaçado pelo modelo de desenvolvimento predatório. Objetivo: discutir os impactos do racismo ambiental nos modos de vida de comunidades quilombolas de Salvador - Bahia e Simão Dias - Sergipe. Metodologia: Foi realizada uma descrição qualitativa das características de Ilha de Maré na Bahia e Sítio Alto em Sergipe, com a incorporação de dados de entrevistas e observação participante realizadas por alguns dos autores em ambos territórios. Resultados e discussão: Além do empobrecimento da população e da pouca mobilidade social, a problemática ambiental interage com a questão racial, produzindo vulnerabilidades. O conceito de racismo ambiental nos ajuda a compreender que as injustiças sociais e ambientais mesmo que não tenha um objetivo racista, frequentemente tem impacto nas condições de vida e saúde da população negra. Em Ilha de Maré é necessário também compreender a dimensão do racismo em interação com outros mecanismos de exclusão, como classe social e gênero, para compreender a vulnerabilidade social. Especialmente quando se analisa o racismo ambiental com um olhar interseccional, observa-se o impacto na vida das mulheres da comunidade, que vivem da pesca artesanal e, diferentemente dos homens, não saem da ilha para trabalhar nas indústrias do entorno. São elas, portanto, que lutam arduamente pela manutenção do seu modo de vida, que só é possível através da preservação ambiental do mar e dos manguezais. A comunidade Sítio Alto está na constante resistência frente ao racismo ambiental expresso nos conflitos e resistências frente ao agronegócio do município, que é um dos maiores produtores de milho transgênico do estado de Sergipe. São diversos os relatos dos moradores, que lutam para conservar as sementes crioulas e manter o sistema de produção agrícola tradicional e orgânico, e têm suas plantações contaminadas pela dispersão desordenada de agrotóxicos das fazendas vizinhas. Essa realidade fez com que a comunidade desenvolvesse estratégias, a exemplo do banco de sementes crioulas e a articulação com redes e movimentos de agroecologia do estado. Em ambos os contextos analisados o impacto ambiental causado, seja pelas indústrias no entorno de Ilha de Maré, seja pelo agronegócio que afeta Sítio Alto, representa comprometimento ao modo de vida e saúde desses territórios. O impacto do modelo de desenvolvimento predatório, que atropela modos de vida tradicionais é gerador de injustiças sociais e ambientais que não apenas compartilham da mesma origem mas se retroalimentam. Seja por descumprir legislações de proteção ambiental, seja por deliberadamente poluir territórios com resíduos ou dejetos tóxicos, o racismo ambiental representa uma grande ameaça às comunidades. É fundamental destacar que não é possível separar a questão quilombola no Brasil das iniquidades marcadas pela raça/cor. O modelo de desenvolvimento excludente é também resultado de uma sociedade na qual o racismo está nas origens e nas bases do modo de produção, e, portanto, continua agindo em suas estruturas. O racismo impacta na vida dos quilombolas de diferentes e persistentes formas, com destaque para o racismo ambiental, que afeta nas formas tradicionais de viver e é geradora de problemas de saúde, ameaçando a própria sobrevivência dos indivíduos. Vale ressaltar que a existência de políticas emancipatórias deve passar também por um processo de descolonização e luta antirracista. Conclusões/considerações finais: O impacto ambiental causado pelas indústrias ou pelo agronegócio compromete os modos de vida e saúde destes grupos. É necessário reconhecer e valorizar a importância dos modos de vida de comunidades quilombolas que têm muito a ensinar sobre ativismo e resistência, especialmente em tempos de perda de direitos sociais.
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