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28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-35B - GT 35 - Vulnerabilidade e Racismo Ambiental

31402 - O RACISMO AMBIENTAL NAS PESQUISAS EM CIÊNCIAS SOCIAIS E SAÚDE: LEITURA CRÍTICA E APORTES DESSE CONCEITO
MARINA ROUGEON - ISC UFBA


Uma das formas de vulnerabilidade contemporânea no campo da saúde se apresenta relacionada à questão do meio ambiente. Numa escala global, nas grandes cidades como nas zonas rurais, as populações sofrendo situações de desigualdade e morando em espaços periféricos ou considerados « vazios » vivenciam o que muitos autores, inspirados num movimento que nasce nos Estados-Unidos nos anos 1970, tem chamado de injustiça ambiental. Tais desigualdades são econômicas, sociais, espaciais, ambientais, sanitárias mas muitas vezes também raciais, sobre tudo nas sociedades pós-escravagistas. Assim, num pais como o Brasil, a injustiça ambiental expressa com frequência um racismo ambiental, que pode ser definido como a imposição e atribuição desproporcional – intencional ou não – de rejeitos perigosos às comunidades afrodescendentes, cuja moradia se encontra na maioria da vezes nos bairros ditos periféricos das cidades ou em áreas ditas de risco (Silva 2012; Herculano 2008; Bullard 2004). Indissociável de escolhas de gestão econômica e urbana das políticas governamentais e de grandes empresas, tal atitude se fundamenta na marginalização de certos espaços e na naturalização da inferioridade de certos grupos sociais e raciais diretamente afetados, considerados assim como inexistentes e invisíveis. Se faz então necessário analisar, à luz de questões ambientais e de saúde, as lógicas e dinâmicas de produção imaginária e simbólica re-atualizada desses “outros” na sociedade brasileira. Notadamente porque é preciso ressaltar que esta situação e os seus impactos sobre a saúde coletiva constituem uma herança da escravidão num pais onde os negros, mesmo libertos, ainda são considerados e tratados como sub-cidadãos, e onde a natureza é objeto de uma construção pós-colonial, prestes a ser conquistada e explorada a favor do desenvolvimento e do progresso econômico. Assim, Keucheyan (2018) ressalta que este processo, que começou com a exploração do trabalho escravo, continua na época contemporânea com a exploração da saúde e dos territórios dos seus descendentes.
Na cidade de Salvador e os seus arredores, incluindo-se as ilhas da Bahia de todos os santos, os grupos sociais compostos na sua maioria por populações negras sofrem mais dos impactos sobre a saúde dessa degradação ambiental e são os mais vulneráveis à injustiça ambiental. Desta maneira, o conceito de (in)justiça ambiental será mobilizado para pensar de maneira renovada a articulação entre meio ambiente e práticas de saúde, focando um elemento até agora pouco ressaltado nessa discussão no Brasil, o do racismo ambiental e da racialização, definida como um processo que atribui, freqüentemente com uma carga negativa, diferenças físicas e culturais naturalizadas às pessoas e aos grupos. Ressaltarei assim uma dimensão ainda pouco discutida da vulnerabilidade e do racismo no Brasil, diretamente ligado à questão atual do meio ambiente. Essas reflexões serão desenvolvidas a partir de um trabalho de campo em andamento em bairros periféricos soteropolitanos. Nesses territórios onde moram comunidades negras, as condições desastrosas de saneamento, a precariedade das construções e o desleixo dos espaços públicos expõe os moradores a altos riscos diários de contrair doenças, como por exemplo a leptospirose. Com base na etnografia, pretendo assim apontar e pensar as relações entre desigualdades sociais, raciais, ambientais e sanitárias no Brasil contemporâneo. Finalmente, também será preciso ressaltar os recursos internos e não hegemônicos de tais grupos sociais subalternos, que contribuem ao exercício de sua cidadania e lhes permitem lutar contra tais discriminações, contra a degradação do meio ambiente e para a preservação da saúde (Porto e Finamore 2012). Essa dimensão da pesquisa dialoga com as preocupações epistemológicas em torno das produções de saberes não hegemônicos, e se inscreve no debate sobre epistemologias do sul e ecologia dos saberes (Santos 2007).

Referencias bibliograficas
BULLARD, Robert, « Enfrentando o racismo ambiental no século XXI ». In: ACSELRAD, H.; HERCULANO, S.; PADUA, J.A. (Orgs.). Justiça ambiental e cidadania. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2004, pp.40-68
HERCULANO Selene, “O clamor por justiça ambiental e contra o racismo ambiental”, Revista de Gestão Integrada em saúde do trabalho e meio ambiente , 3(1), artigo 2, Janeiro/Abril 2008.
KEUCHEYAN Razmig, La nature est un champ de bataille. Essai d'écologie politique. La Découverte, 2018.
PORTO Marcelo Firpo e FINAMORE Renan, « Riscos, saúde e justiça ambiental: o protagonismo das populações atingidas na produção de conhecimento », Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 6, 2012, pp. 1493–1501.
SANTOS Boaventura de Souza, « Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes », Novos estud. – CEBRAP, 79, 2007, pp.71-94
SILVA Lays Helena Paes e. « Ambiente e justiça: sobre a utilidade do conceito de racismo ambiental no contexto brasileiro », E-Cadernos Ces, v. 17, 2012, pp. 85–111.

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