Clique para visualizar os Anais!



Certificados disponíveis. Clique para acessar a área de impressão!

Associe-se aqui!

Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-35F - GT 35 - Tecnologias Sociais e Outras Ferramentas no Enfrentamento da Vulnerabilidade na Saúde

29331 - APOIO SOCIAL FORMAL NO CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA DE PERDA DE UM FAMILIAR POR HOMICÍDIO
DANIELLA HARTH DA COSTA - DOUTORANDA DA ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ., KATHIE NJAINE - PESQUISADORA DO DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE VIOLÊNCIA E SAÚDE JORGE CARELI, ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ., EDINILSA RAMOS DE SOUZA - PESQUISADORA DO DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE VIOLÊNCIA E SAÚDE JORGE CARELI, ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ.


Apresenta-se os resultados parciais da pesquisa de doutorado intitulada “Estudo sobre o apoio social a familiares de vítimas de homicídio no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro” que busca analisar a dinâmica do apoio social no contexto da experiência de perda de um familiar vítima de homicídio. O tema é discutido a partir das contribuições teóricas sobre estigma, exclusão social e moral e produção de um luto não legitimado. Fatores históricos, sociais e territoriais concorrem para um suporte social desigual a essas famílias, reforçando a exclusão e o desamparo em um momento de grande fragilidade. A perda de um familiar por homicídio é um evento de grande potencial traumático, capaz de desencadear sofrimento e impactar negativamente a saúde física e emocional dos demais membros da família. A rede social formal e informal dos enlutados mostra-se essencial enquanto fonte de apoio. Atualmente, o apoio social é amplamente relacionado à manutenção da saúde, à prevenção das doenças, como modo de facilitar convalescenças e desempenha um papel essencial em situações de luto por morte traumática.
O estudo foi conduzido em um bairro de um município de grande porte da região metropolitana do Rio de Janeiro, escolhido pelos elevados números de homicídios. Neste estudo apresenta-se uma análise das entrevistas com profissionais de unidades de saúde da família (USF) e de um centro de referência especializado de assistência social (CREAS) localizados nesse bairro, cujo propósito foi investigar as suas percepções sobre a situação dos familiares de vítimas de homicídio e o apoio social a eles fornecido.
Os resultados indicam que: 1) existe uma grande dificuldade dos profissionais em abordar o tema da perda por homicídio com a população atendida. Evita-se tocar no assunto, mesmo quando a situação é conhecida. Em territórios marcados pela violência e onde impera a lei do silêncio fica um questionamento sobre qual o apoio possível aos familiares de vítimas de homicídio quando os profissionais não suportam, não podem ou não querem falar sobre homicídios e violências. Esse distanciamento parece corroborar para o silenciamento dos familiares das vítimas; 2) por outro lado, existe uma visibilidade da situação pelos profissionais ouvidos, principalmente das unidades de saúde, na medida em que reconhecem as histórias de perda no território. Inúmeras histórias foram compartilhadas nas quais a dor da perda, o isolamento e os impactos sociais e na saúde foram destacados como ressonâncias do homicídio. No caso do CREAS, mesmo lidando frequentemente com a perda violenta dos adolescentes que acompanham, observamos um distanciamento da equipe em relação aos seus familiares após o homicídio. A morte violenta marca uma ruptura com a família. A defesa da ideia de que muitas famílias sentem-se aliviadas pela morte do adolescente “problemático” exime a equipe de investir em um acompanhamento dos familiares, indo na contramão do que versa a política de assistência social. A morte do adolescente, neste contexto, não é entendida como uma violação do direito à vida, nem a família é vista como vítima de uma violência, o discurso é de uma morte esperada; 3) entendemos que a atenção primária à saúde e a assistência social podem desempenhar um importante papel no acolhimento e cuidado dessas famílias pois se encontram em uma posição privilegiada de inserção no território. No entanto, ao ouvir os profissionais, alguns limites dessa atuação aparecem, calcadas, sobretudo, nos diferentes entendimentos sobre a natureza do trabalho de cada equipe/profissional. Prevalece a visão de que a questão das famílias envolve um sofrimento psíquico com o qual as equipes das USFs e os profissionais do CREAS não conseguem ou evitam lidar, restringindo-se a atender e encaminhar. A figura do psicólogo do Nasf, enquanto especialista, é ressaltada pelos profissionais das USFs que disputam vagas na sua agenda apertada para atendimentos individuais, reforçando a ideia equivocada de atuação do Nasf na qual a lógica do matriciamento não é posta em prática. Do ponto de vista dos profissionais do Nasf, o acompanhamento individual do usuário coloca-se como um ação subversiva, um modo de prover algum cuidado em meio a uma rede que se mostra deficitária.
É urgente a construção de estratégias de cuidado aos familiares de vítimas de homicídio. Cabe ao Estado a responsabilidade por essas mortes e por suas consequências, fomentando ações de cuidado as pessoas afetadas através dos dispositivos de justiça, saúde e proteção social. A capacitação desses profissionais é um primeiro passo para a construção de uma ação mais ética em resposta a essa problemática. A ausência ou fragilização do apoio social aos familiares de vítimas reforça o isolamento, e o adoecimento mental e físico podendo, inclusive, levar a uma morte prematura.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900