30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35H - GT 35 - Condições ou Doenças Crônicas e Infecciosas: Repercussões e Enfrentamentos |
30045 - ATITUDE DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE FRENTE À VULNERABILIDADE DA MICROCEFALIA NO CONTEXTO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA ANNIELY RODRIGUES SOARES - UFPB, DANIELE DE SOUZA VIEIRA - UFPB, RAFAELLA KAROLINA BEZERRA PEDROSA - UFPB, TAYANNE KIEV CARVALHO DIAS - UFPB, ALTAMIRA PEREIRA DA S. REICHERT - UFPB
Introdução: No Brasil, entre os anos 2015 e 2017, o aumento brusco do número de crianças diagnosticadas com microcefalia surpreendeu gestores, profissionais de saúde e toda a sociedade. Esse acontecimento foi impactante e repleto de incertezas, pois, nesse período, as evidências científicas em torno da malformação congênita eram incipientes e os trabalhadores do sistema público de saúde, principalmente os profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família, lidavam com uma situação inusitada, contudo, tinham a responsabilidade de garantir um cuidado integral e multidisciplinar aos bebês afetados e sua família. Sabe-se que a população infantil com microcefalia apresenta vulnerabilidades decorrentes da deficiência decorrente da doença, das condições sociais e econômicas desiguais e, principalmente, do impacto emocional provocado pela doença. Dessa forma, questiona-se como os profissionais de saúde realizam o acompanhamento da criança com microcefalia na Estratégia Saúde da Família? Objetivo: Analisar as atitudes de profissionais da saúde que atuam na Estratégia de Saúde da Família, frente à vulnerabilidade da criança com microcefalia. Metodologia: Estudo descritivo de natureza qualitativa, desenvolvido no período de setembro de 2016 a agosto de 2017 com enfermeiros e médicos que atendem crianças com microcefalia, vinculados à Estratégia Saúde da Família nos cinco distritos de um município de grande porte da Paraíba. As entrevistas ocorreram no cenário de trabalho de cada profissional, por meio de um instrumento semiestruturado e gravadas em mídia digital. O critério para encerramento da coleta foi a saturação dos dados, sendo os mesmos submetidos à Análise de conteúdo. Essa pesquisa é oriunda de iniciação científica, aprovada pelo comitê de ética e pesquisa, sob o parecer nº 2.118.590. Resultados e discussão: Os profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família (ESF) exercem suas atividades e voltam seu olhar para um grupo majoritariamente vulnerável, sendo essa situação ampliada quando se assiste uma criança com necessidades especiais e seus familiares, a exemplo de criança com microcefalia. No tocante a vivência dos profissionais que atuam na ESF e apresentam cadastradas em seu território crianças com microcefalia, constatou-se que a maioria deles não assiste essas crianças por não se sentirem preparados e seguros durante as consultas de rotina; e o pouco cuidado que ofertam a essas crianças e seu familiar ocorre de forma fragmentada. Isso ocorre porque este acompanhamento possui uma demanda de maior complexidade, devido à vulnerabilidade apresentada pela criança e por sua família. Os trabalhadores da ESF e da atenção especializada deveriam ser os responsáveis pelo acompanhamento compartilhado da criança com microcefalia e seus familiares, porém, as crianças só são acompanhadas por especialistas da atenção secundária. Ademais, conforme preconizado, os profissionais da ESF devem implementar ações direcionadas a promoção, prevenção, diagnóstico, reabilitação e tratamento de problemas de saúde, conforme as necessidades de saúde do usuário. Desse modo, compreende-se que os profissionais da ESF não estão conseguindo atender integralmente as necessidades desse grupo ao negligenciar o cuidado, o que reflete na desresponsabilização pela atenção à saúde da criança com microcefalia e sua família, tendo em vista que atribui a responsabilidade pelo acompanhamento e tratamento ao serviço especializado. Entretanto, isso pode ser reflexo da compreensão de que a deficiência e reabilitação são competências exclusivas de níveis de maior complexidade, bem como da fragilidade do vínculo entre mães e profissionais de saúde, acarretando no distanciamento das mães da Atenção Primária à Saúde. Por outro lado, os profissionais evidenciam a falta de capacitação profissional e ausência de recursos materiais e humanos como influenciadores dessa lacuna na atenção, sugerindo que o sistema de saúde no Brasil ainda não está organizado adequadamente para trazer respostas às necessidades de saúde dessa população dotadas de vulnerabilidades. Considerações finais: A falta de assistência e prestação de cuidados por profissionais da Estratégia Saúde da Família às crianças com microcefalia é uma realidade alarmante, tendo em vista as inúmeras vulnerabilidades sociais e de saúde apresentadas por esse grupo. Portanto, necessita-se de profissionais comprometidos com a saúde da criança e que disponham de um olhar vigilante, a fim de garantir à criança um acompanhamento capaz de minimizar o impacto oriundo das suas vulnerabilidades. Enfatiza-se também a necessidade de políticas públicas que atuem de maneira integral para pessoas em condição de vulnerabilidade e que possibilitem repercussões positivas para os serviços de saúde e a prática profissional, a fim de promover qualidade de vida aos pequeninos afetados e autonomia no cuidado aos familiares.
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