30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35H - GT 35 - Condições ou Doenças Crônicas e Infecciosas: Repercussões e Enfrentamentos |
31585 - SAÚDE E VULNERABILIDADE SOCIAL: UM RELATO DE PESQUISA SOBRE A SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA ALECIA MARIA ROCHA SANTOS - UNIT, JÚLIA WANDERLEY VIEIRA - UNIT, JESANA BATISTA PEREIRA - UNIT, ANA LÍDIA SOARES COTA - UNIT, DIEGO FREITAS RODRIGUES - UNIT
INTRODUÇÃO
Em 2015, a identificação de um grande número de crianças com o perímetro cefálico reduzido ao nascimento, principalmente no Nordeste do Brasil, mobilizou a comunidade científica e o Ministério da Saúde do país. Inicialmente, acreditava-se que a epidemia relacionava-se apenas à condição neurológica de microcefalia. Entretanto, estudos posteriores detectaram que os recém nascidos de mães infectadas pelo vírus Zika também apresentavam comprometimentos no desenvolvimento neuropsicomotor, caracterizando o quadro de Síndrome Congênita do Zika (SCZ).
Desta forma, a presente pesquisa teve como objetivo principal identificar as ações e serviços de saúde prestados pelos órgãos públicos às crianças com a Síndrome Congênita do Zika, bem como, sua relação com a situação de vulnerabilidade social no estado de Alagoas.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa exploratória de cunho qualitativo desenvolvido a partir da análise documental proveniente de dados cedidos pela Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, Secretaria Municipal de Saúde de Maceió e Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, através de entrevistas com profissionais vinculados aos seguintes Centros Especializados em Reabilitação (CER’s) de Maceió: Associação dos Deficientes Físicos de Alagoas(ADEFAL) Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas(UNCISAL) e Sociedade Pestalozzi de Maceió, ao longo de 2017. Foram coletadas, por meio de diários de campo, informações sobre o assistencialismo, ações e serviços prestados às crianças com diagnóstico de SCZ, além de aspectos relacionados à situação de vulnerabilidade social. Os dados foram analisados através do método de interpretação de sentidos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Referente ao assistencialismo prestado pelo governo e mediante os dados coletados foi identificado que as crianças com a SCZ adquiriram direito ao Benefício Assistencial de Prestação Continuada (BPC), porém, as secretarias estadual e municipal de saúde e de assistência e desenvolvimento social não possuíam, dados do quantitativo de beneficiados. Assim, o desconhecimento do perfil socioeconômico das famílias, culmina em um fator que dificulta a avaliação da vulnerabilidade social neste contexto.
O principal serviço de saúde oferecido à população estudada foi a inclusão dos indivíduos no programa de estimulação precoce, estruturado pelo Ministério da Saúde, que através de equipe multiprofissional, visa desenvolver ao máximo crianças de até 3 anos de idade que apresentam patologias, como a SCZ. No entanto, a assiduidade das crianças a este programa aponta dois contextos que indiciam a vulnerabilidade social percebidos e relatados pelos profissionais atuantes nos CER’s: o primeiro diz respeito a mobilidade urbana, onde as famílias que moram próximo aos centros de reabilitação possuem frequência maior em comparação com famílias que moram nas zonas periféricas e rurais da capital. O outro fator ressaltado é referente a idade, pois as mães mais jovens levam com menos frequência seu filho ao atendimento, resultando em uma falta de comprometimento e consequentemente um atraso no prognóstico do tratamento. Até o momento não se tinham informações precisas sobre a idade destas mães.
O acompanhamento nas consultas e terapias são realizados principalmente pelas mães e na ausência destas, pelas avós, sendo rara a presença paterna. Este achado reforça a figura da mulher como principal cuidador e reflete a representação social propagada durante gerações, sobre o dever feminino de mostrar dedicação integral à prole, associado a renúncias a favor da preservação e sobrevivência dos filhos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A SCZ aponta forte associação com o contexto de vulnerabilidade social, uma vez que se trata de problemáticas bastante expressivas, tais como: exposição a fatores condicionantes de saúde; gravidez na adolescência, papeis sociais de gênero, entre outros, que caracteriza-se como um desafio em saúde pública. Para tanto, faz-se necessário ampliação de pesquisas e discussões acerca do tema que considere uma visão holística, compreendendo que se trata de um contexto abrangente, com repercussão em todos os níveis de atenção à saúde. A falta no cruzamento das informações dos órgãos governamentais gera dificuldades para a promoção de ações em saúde direcionadas para esta demanda específica, bem como, impossibilita a mensuração dimensão.
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