30/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-35H - GT 35 - Condições ou Doenças Crônicas e Infecciosas: Repercussões e Enfrentamentos |
31688 - OS PROCESSOS SOCIAIS E SUA RELAÇÃO COM O VÍRUS ZIKA NA DISCURSIVA DE GESTANTES ACOMPANHADAS EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA EM MANAUS, AMAZONAS
ANNY BEATRIZ COSTA ANTONY DE ANDRADE - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, MARIA JACIREMA FERREIRA GONÇALVES - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, RITA SUELY BACURI DE QUEIROZ - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, MARCILIO SANDRO DE MEDEIROS - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, MARIA DAS GRAÇAS COSTA ALECRIM - FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL HEITOR VIEIRA DOURADO FMT-HVD, FLOR ERNESTINA MARTINEZ-ESPINOSA - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA
Contextualização: A infecção por Zika vírus (ZIKV) é uma das principais emergências mundiais de saúde declaradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no século XXI.1 Apesar de ser uma doença viral de transmissão vetorial, condições como o saneamento ambiental deficitário, assim como precárias condições de moradia e de renda, e ainda problemas no acesso aos bens e serviços sociais, inclusive o acesso a atenção à saúde, constituem situações de risco para sua ocorrência, o que aponta para a necessidade de analisar as condições sociais de vida. Nessa visão, a saúde coletiva ao buscar compreender os processos sociais que determinam situações de saúde, requererá a uma teoria social que reconheça que a reprodução biológica da Zika vírus é regulada ou, determinada pela reprodução social, como pressupõem as categorias de análise da Determinação Social de Jaime Breilh e da Reprodução Social de Juan Samaja. Descrição, período de realização, objetivo: O objetivo do relato de experiência é compreender de que forma os processos sociais e sua relação com o ZIKV surgem na discursiva da população. O desenho da pesquisa é, longitudinal, qualitativa a partir do discurso de gestantes que buscaram atendimento espontaneamente por suspeita de infecção por ZIKV e posteriormente as mães de crianças com infecção congênita por ZIKV, no ambulatório de doenças infecciosas da Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) A coleta dos dados foi iniciada no mês de janeiro de 2019. Durante as consultas com as gestantes e mães de crianças diagnosticadas com infecção congênita por ZIKV foi ofertado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para participação no estudo que originou o presente relato: “Características epidemiológicas, clínicas, nutrológicas, virológicas, histopatológicas e imunológicas da infecção por vírus Zika em gestantes com doença exantemática aguda e sua relação com a microcefalia ou eventuais desfechos adversos em Manaus, Amazonas”, aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa, sob o CAAE: 60168216.2.0000.000. Resultados: Observou-se a prevalência nas discursiva das gestantes e mães durante as consultas a associação da transmissão da doença, a necessidade de uso de repelentes como forma de autocuidado a exposição da picada dos mosquitos. As discursivas também sempre foram direcionadas ao controle vetorial e protagonismo do mosquito como transmissor de uma infecção que pode acarretar consequências severas a criança em desenvolvimento. Durante as entrevistas observou-se que as mulheres apenas reproduziram informações incipientes e pontuais sobre a infecção, informações essas veiculadas diariamente por mídias consumidas por famílias brasileiras em geral. Análise crítica: Ao enfatizar que a doença é transmitida por um mosquito, as autoridades brasileiras, transferem a responsabilidades para a populações de combate ao vetor e culpabiliza a mulher de não querer se proteger da picada do inseto ou de assumir o risco de engravidar/gestacionar uma criança microcefálica. Nessa visão, são as condições ambientais, e não as sociais, que determinariam a epidemia. Logo, o controle químico, nessa perspectiva, é a principal solução cobrada pelas gestantes e mães as autoridades de saúde pública. A transmissão vetorial traz em sua dinâmica elementos da reprodução biológica, comportamental, econômica, política e ecológica, caracterizando como um problema complexo. No entanto, as práticas em saúde pública são centradas no controle químico do vetor, deslocando o foco das condições de vida que propiciam a transmissão. Aprendizados: Há necessidade de continuar a discussão sobre o tema com a população brasileira, de reflexões sobre a doença e suas complexas determinações que são tão emergenciais quanto os acompanhamentos que devem ser ofertados aos pacientes acometidos por ZIKV. Muito mais do que apenas eliminar os recipientes que podem acumular água parada ou a escolha do melhor repelente para combate ao vetor, é necessário discutir sobre as demandas do território em que nossa população habita. Ocasionar reflexões na população que a leve a cobrar melhores condições de vida, como coleta de lixo adequados, sistema de abastecimento de água que possa atender às necessidades da população. Mesmo tratando-se de um vírus transmitido por mosquitos que não fazem distinção de classes sociais, os impactos ocasionados pelo ZIKV teve diferentes repercussões entre grupos e gêneros de forma muito desigual. Basta verificar que todas as crianças nascidas das gestantes acompanhadas nasceram nos estabelecimento de saúde do SUS.6 Através desta experiência foi possível refletir sobre a qualidade das informações que a população recebe e o surgimento de inquietações relacionadas a oferta de meios em que estes grupos tão assolados pelos resultados da infecção recebam informações que os auxiliem na construção, em conjunto com o poder público, de melhores condições de vida.
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