28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-35B - GT 35 - Vulnerabilidade e Racismo Ambiental |
29941 - UM ÍNDICE DE VULNERABILIDADE EM SITUAÇÕES DE SECA PARA MUNICÍPIOS DO SEMIÁRIDO JÚLIA ALVES MENEZES - INSTITUTO RENÉ RACHOU / FIOCRUZ, RHAVENA BARBOSA DOS SANTOS - INSTITUTO RENÉ RACHOU / FIOCRUZ, ISABELA BRITO DUVAL - INSTITUTO RENÉ RACHOU / FIOCRUZ, ANA PAULA MADUREIRA - UFSJ, MARTHA MACÊDO DE LIMA BARATA - ENSP / FIOCRUZ, ULISSES CONFALONIERI - INSTITUTO RENÉ RACHOU / FIOCRUZ, CARINA MARGONARI - INSTITUTO RENÉ RACHOU / FIOCRUZ, PEDRO REGOTO - UFRJ
Introdução: As secas são um dos eventos extremos mais recorrentes no mundo e apresentam múltiplos e cumulativos efeitos sobre a saúde humana. No Brasil, o Nordeste pode ser considerado um dos locais mais impactados pela seca devido à sua longa duração e marcada variabilidade climática, principalmente na região do Semiárido. Com a perspectiva da mudança do clima para as próximas décadas (aumentos de até 4ºC na temperatura e redução da precipitação) acredita-se que os problemas de saúde e seus fatores de risco podem se agravar em breve. Nesse contexto, os índices de vulnerabilidade representam uma ferramenta política potencialmente útil ao identificar áreas de maior preocupação em relação aos possíveis impactos da seca na saúde em diversas escalas espaciais.
Objetivos: Compreender o processo saúde-seca em municípios do Semiárido através da construção de índices compostos (Índice de Vulnerabilidade da Saúde à Seca - IVSS) e da identificação dos fatores que moldam o perfil de vulnerabilidade municipal.
Metodologia: A partir da literatura científica, 22 variáveis relevantes foram compiladas para 65 municípios nos estados de Pernambuco, Piauí e Bahia abrangendo aspectos sociodemográficos (renda, urbanização, grupos vulneráveis), epidemiológicos (doenças infecciosas, internações, mortalidade e leitos), de uso da água (potabilidade, saneamento, tipo de uso) e meio ambiente (indicador de seca, densidade demográfica, cobertura vegetal). Para agrupar as variáveis em dimensões foi utilizada a análise fatorial, de forma que as cargas de cada fator geraram as equações de regressão e os respectivos IVSS variando entre 0 (menos vulnerável) e 1 (mais vulnerável). O programa Statistical Analysis Software (SAS) versão 9.4 foi utilizado para performar a análise multivariada (fatorial) e o IVSS. O programa ArcGis versão 10.1 gerou os mapas do IVSS.
Resultados e discussão: Cinco fatores foram capazes de explicar 85,99% da variância dos dados. A configuração das variáveis em cada fator permitiu classificá-los nas seguintes dimensões: i) social da infraestrutura de saúde; ii) demografia e doenças infecciosas; iii) ambiental da saúde; iv) socioambiental da dengue; e v) disponibilidade hídrica e saúde. Aspectos semelhantes foram apontados como importantes na relação saúde-seca, seja no Brasil, em que Alpino e cols. (2016) revisaram efeitos relacionados à deficiências nutricionais e comprometimento da qualidade dos serviços de saúde; seja no mundo, em que Stanke e cols. (2013) observaram efeitos da seca relacionados a doenças veiculadas pela água e doenças vetoriais como a dengue. Os cinco fatores obtidos na análise fatorial geraram cinco dimensões do IVSS, que se mostraram com distribuição muito heterogênea pelos municípios. Os índices de infraestrutura de saúde, demografia e saúde, e disponibilidade hídrica foram mais preponderantes nos municípios do Piauí, enquanto os índices de ambiente e saúde, e socioambiental e dengue se distribuíram, também, com maior ênfase nos municípios de Pernambuco. Petrolina e Juazeiro, por exemplo, apresentaram cargas medianas para praticamente todos os fatores. Porém, para Petrolina, os índices de demografia e doenças infecciosas, e de ambiente e saúde foram mais relevantes para explicar a saúde humana, enquanto para Juazeiro, a demografia e doenças infecciosas, e a disponibilidade hídrica e saúde foram preponderantes. De forma semelhante, Abson e cols (2012) observaram que as regiões de desenvolvimento na África do Sul eram caracterizadas por diferentes tipos de vulnerabilidades socioecológicas, havendo uma distribuição muito particular dos índices em cada região.
Considerações finais: As análises permitiram compreender a relação entre as variáveis iniciais, agrupá-las em dimensões e criar índices de vulnerabilidade que permitissem ter uma visão espacial do processo saúde-seca. Essas análises representam uma ferramenta política útil para identificar áreas de maior preocupação em termos das causas e impactos da vulnerabilidade na escala municipal. Acredita-se que os resultados iniciais amparam a compreensão dos fenômenos e processos que atuam e se retroalimentam na região. A expansão do estudo para outros municípios do Semiárido permitirá confirmar algumas relações observadas e estabelecer novas conexões para auxiliar na compreensão do perfil de vulnerabilidade da saúde humana no contexto das secas no país.
Referências
Abson, D. J., Dougill, A. J., & Stringer, L. C. (2012). Using principal component analysis for information-rich socio-ecological vulnerability mapping in Southern Africa. Applied Geography, 35(1-2), 515-524.
Alpino, T. A., de Sena, A. R. M., & de Freitas, C. M. (2016). Desastres relacionados à seca e saúde coletiva-uma revisão da literatura científica. Revista Ciência & Saúde Coletiva, 21(3).
Stanke, C., Kerac, M., Prudhomme, C., Medlock, J., & Murray, V. (2013). Health effects of drought: a systematic review of the evidence. PLoS currents, 5.
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