29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-35D - GT 35 - Tecnologias Sociais e Outras Ferramentas no Enfrentamento da Vulnerabilidade na Saúde |
30185 - PROJETO “VIVÊNCIAS E ESTÁGIOS NA REALIDADE DO SUS” COMO ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA O ENFRENTAMENTO DAS VULNERABILIDADES: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA JAQUELINE MOREIRA JAQUELINE MOREIRA - FSM, ESLIA MARIA NUNES PINHEIRO - UFPB, STEFÂNIA GERMANO DIAS - FSM, HILANA MARIA BRAGA FERNANDES ABREU - UFPB
CONTEXTUALIZAÇÃO
O conhecimento ocidental representa uma potente ferramenta de dominação e de estabelecimento das perspectivas políticas, sociais e culturais. O campo da saúde, particularmente, impõe paradigmas voltados para a lógica biomédica, afastando-se do diálogo com os saberes e realidade dos sujeitos em contextos de vulnerabilidade social. Mesmo a Saúde Coletiva pode permanecer no lugar privilegiado de reprodução do projeto eurocêntrico de saúde e sociedade, caso não haja uma reestruturação da formação profissional que passe a valorizar outros saberes e as lutas sociais nos processos de formulação e execução das políticas públicas (CARMO; GUIZARDI, 2018; PORTO, 2017).
Segundo Westbrook e Teixeira (2010) há dois fatores principais na construção da experiência: agente e situação. A capacidade de decodificação dos estímulos sensoriais possibilita o surgimento dos processos conscientes e com eles o desenvolvimento do pensamento. Dessa forma, a experiência passa a adquirir caráter humano, fornecendo instrumentos importantes para a transformação da realidade a partir do pensamento reflexivo. Ou seja, o conhecer é um veículo de transformação, possibilitado a partir da experiência humana. Aplicando esse conceito na formação de recursos humanos em saúde, espera-se que experiências como o VER-SUS (Vivências e Estágios na Realidade do SUS) potencializem a aprendizagem teórico-prática com ênfase na realidade social e no diálogo.
O VER-SUS é uma iniciativa do ministério da saúde em parceria com o movimento estudantil, que tem como objetivo proporcionar ao estudante o contato com os serviços de saúde pública em diferentes realidades, promovendo o diálogo entre os atores sociais que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) (MARANHÃO; MATOS, 2018).
DESCRIÇÃO E PERÍODO DE REALIZAÇÃO
A vivência ocorreu nos municípios de Cajazeiras, Sousa e Pombal, do estado da Paraíba, no período de 01 a 09 de fevereiro de 2018, em caráter de imersão. As atividades iniciavam todos os dias pela manhã e prosseguiam até a noite. Durante o dia realizavam-se visitas a diferentes serviços do SUS e algumas comunidades, a fim de conhecer as diferentes perspectivas envolvidas no contexto da saúde pública na região. À noite, havia apresentação de palestras e discussões, possibilitando a troca de experiências.
Foram visitados: Instituições de Longa Permanência para Idosos, Centro de Referência e Atendimento a Mulher, Centro de Referencia Especializado de Assistência Social, Centros de Atenção Psicossocial, Centro de Referência a Criança e Adolescente, Centro de Matrizes Africanas, Lixão de Cajazeiras, Hospital Regional de Cajazeiras, Hospital Universitário, Unidades Básicas de Saúde, Posto de Atenção Primaria a Saúde, Cadeia Feminina de Cajazeiras, Condomínio Cidade Madura, Comunidade Cigana, Assentamentos Acauã, Vida Nova I e II, e Comunidade Quilombola.
OBJETIVO
O presente trabalho objetiva relatar a experiência de viventes no contexto do VER-SUS, ponderando seus impactos na construção do pensamento crítico-reflexivo de estudantes e profissionais da saúde diante dos cenários de vulnerabilidade e iniquidade.
RESULTADOS
O VER-SUS, edição de 2018, provocou debates construtivos entre os estudantes e profissionais da saúde, muitos deles desconheciam as condições de vida dos povos tradicionais e marginalizados. Evidenciou-se a presença de iniquidades marcantes em cada um dos cenários, com destaque para as desigualdades sócio-sanitárias na população residente e “trabalhadora” no lixão, epistemicídio na comunidade cigana, racismo na comunidade quilombola e violência contra as mulheres de maneira transversal a todos os contextos.
Dessa forma, a vivência teve importância, no sentido de proporcionar um olhar crítico acerca das potencialidades e fragilidades de cada local. No entanto, foi o contato direto com a realidade de grupos em situação de vulnerabilidade e abandono pelo SUS que despertou um novo olhar para o ‘fazer saúde’ resinificando a formação profissional dos viventes. O caráter interdisciplinar do projeto favoreceu a pluralidade do debate e a construção coletiva de ações.
APRENDIZADOS E CRÍTICA
Percebe-se que a ausência do Estado, na perspectiva do setor saúde, principalmente, reflete a negação da existência e resistência desses sujeitos. Constata-se, portanto, a dificuldade de construir um modelo de saúde coerente e eficiente em responder as necessidades da coletividade, sem considerar a descolonização do pensamento/conhecimento e sem formar profissionais com compromisso ético-político na construção de saberes e práticas emancipatórias.
Reforça-se, portanto, a importância de investir em iniciativas como o VER-SUS, que aproximam a universidade e as comunidades, pautadas na interdisciplinaridade, integralidade, educação permanente e popular em saúde, humanização e participação popular como estratégias viabilizadoras da prevenção e promoção da saúde.
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