30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35I - GT 35 - Migrantes, Refugiados, População de Rua e Outros Grupos Vulneráveis |
30836 - PERCEPÇÕES DE CUIDADO EM SAÚDE DE MULHERES HAITIANAS RESIDENTES EM SÃO PAULO: DESAFIOS DE SAÚDE COLETIVA MARCELA CRISTINA ANDRADE DE AZEVEDO - UNIFESP, CÁSSIO SILVEIRA - UNIFESP/ FCMSCSP, REGINA YOSHIE MATSUE - UNIFESP
Introdução: Os fluxos migratórios contemporâneos estão ligados às transformações sócioeconômicas que se impuseram nas últimas décadas. É nesse contexto que se intensifica o fluxo imigratório de haitianos para o Brasil. O marco desse processo foi o terremoto que atingiu o Haiti em Janeiro de 2010, porém os problemas socioeconômicos enfrentados pelo país, que se aprofundaram com a catástrofe natural, impulsionaram essa migração em massa , já que, “dentre outros motivos, a migração haitiana se deve à instabilidade política e econômica, problemas ambientais historicamente enfrentados, além de fatores relacionados com o colonialismo do país" (Giacomini e Bernartt, 2017). Em poucos anos o fluxo migratório dos haitianos ganhou notoriedade em nosso país, eram apenas 815 em 2011 e passaram para 30.484 em 2014, um aumento de 256% (Oliveira, 2017).
A chegada dessa população levantou desafios importantes para diversas áreas sociais brasileiras, entre elas a saúde. Estudos como de Santos (2016) apontam que as mulheres são um dos principais canais de diálogo do setor saúde com a população imigrante haitiana, sendo que o desconhecimento da cultura, idioma e concepção de saúde, impõe uma série de barreiras no desenvolvimento de uma atenção intercultural em saúde para essa população. A partir de experiências profissionais, vivenciadas no Sistema Único de Saúde(SUS) e políticas, como ativista do movimento feminista, foi possível desenvolver um olhar sensível ao tema da mulher e suas diversas formas de cuidado em saúde, especialmente no que diz respeito às mulheres imigrantes, que enfrentam importantes desafios para firmar-se em nova localidade. Nesse contexto surge o questionamento que baliza a pesquisa: quais as percepções de cuidado em saúde de mulheres haitianas que residem em São Paulo?
Objetivos: O estudo tem por objetivo identificar as percepções de cuidados em saúde de mulheres haitianas que vivem na cidade de São Paulo. Para isso, vamos buscar conhecer as experiências de cuidado em saúde dessas mulheres; descrever as formas de aproximação dessa população aos serviços de saúde do Brasil e desvelar quais os papéis atribuídos às mulheres haitianas no cuidado em saúde.
Metodologia: A pesquisa, atualmente em desenvolvimento, está baseada na abordagem qualitativa e no modelo etnográfico, a partir do acompanhamento de mulheres haitianas adultas, em idade entre 18 e 55 anos, residentes em São Paulo há, pelo menos, 06 meses e que são acompanhadas pela União Social de Imigrantes Haitianos (USIH), uma associação que orienta e presta atendimentos de assistência social aos haitianos, na cidade de São Paulo. Os dados estão sendo coletados através de entrevistas semiestruturadas, observação e diário de campo baseados no cotidiano de trabalho e nas relações familiares e sociais dessas mulheres. A análise dos dados vai ocorrer a partir do diálogo entre a teoria, os estudos recentes sobre o tema e a identificação de temas destacados entre os dados coletados.
Resultados: Até o presente momento foi possível iniciar acompanhamento com 03 mulheres com idades entre 25 e 44 anos, todas trabalhadoras de serviços de limpeza, com filhos e duas delas casadas. A rotina de trabalho intensa limita os espaços sociais ao ambiente religioso, atividades na USIH ou reuniões no seio da comunidade haitiana. Foi possível ratificar que a rede de assistência em saúde no Haiti é, em sua maioria privada, já os serviços públicos ou organizados por ONG são muito escassos e por isso encontram-se sobrecarregados. Nesse sentido, há uma grande valorização ao SUS e à possibilidade de acesso universal. Contudo, mantém-se a tradição de cuidar da saúde através de recursos da natureza, como plantas e alimentos. Tal prática é incentivada pelo governo haitiano que mantém programas de rádio para orientar a população acerca desse tema. Doenças como anemia falciforme, comum na população negra, são tratadas no país a base da ingestão de verduras. Também se evidenciou a relação entre saúde e religiosidade, tanto a religião Vodú, de origem africana, assim como religiões cristãs.
Considerações finais: Embora as dificuldades para realização da pesquisa sejam reais, como a diferença de idioma e a própria condição de população imigrante, já ficou evidente a possibilidade de trocas e aprofundamento por meio de um olhar intercultural nos cuidados em saúde. Sobretudo, ao lançarmos olhar não só para o que nos diferencia, mas principalmente para o que nos aproxima e permite empatia. A sequência do estudo possibilitará aprofundar a compreensão acerca do fenômeno de cuidado em saúde a partir dessa realidade, contribuindo assim com reflexões e apontamentos para a integração da população haitiana nos serviços de saúde brasileiros, bem como em outras áreas sociais. Além disso, é pretensão do estudo evidenciar o papel das mulheres nesse contexto, considerando as desigualdades de gênero e étnicas ainda vigentes na sociedade capitalista.
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