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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-35I - GT 35 - Migrantes, Refugiados, População de Rua e Outros Grupos Vulneráveis

31398 - SENTIDOS DE SÁUDE E ADOECIMENTO NA EXPERIÊNCIA TRAUMÁTICA DE SOBREVIVENTES DA GUERRA NA COLÔMBIA
RAFAEL ANDRÉS PATIñO - UFSB, GABRIELA LAMEGO - UFBA


Introdução
O conflito armado colombiano tem sido cenário das mais diversas formas de violência. Sequestros, assassinatos, tortura, violência sexual, deslocamento e desaparecimento forçado, são algumas das ações sofridas pela população afetada. Os distintos estudos interessados na compreensão as consequências de uma guerra que afetou mais de 8 milhões de vítimas na Colômbia apontam as consequências devastadoras sobre a saúde de sujeitos e coletividades afetados por dinâmicas de guerra e violência.
As pesquisas apontam que os acontecimentos traumáticos podem ter como consequência diversos distúrbios, entre eles episódios de ansiedade, transtornos do sono, manifestações psicossomáticas, quadros depressivos etc.
No caso específico dos familiares de vítimas de desaparecimento forçado, a ausência do corpo e a incerteza sobre morte do ente querido produzem duas dificuldades adicionais para a elaboração da perda, já que não é possível realizar os rituais de passagem (ritos fúnebres) necessários no processo de luto. Neste quadro, os familiares de desaparecidos forçados podem permanecer em um estado de enlutamento por tempo indefinido. Os obstáculos para significar a perda se evidenciam em distúrbios da saúde, somatizações, enfermidades e sintomas que são explicados pelas vítimas em função da experiência violenta.
Objetivos:
Este trabalho objetiva analisar a experiência traumática de familiares de vítimas de desaparecimento forçado no contexto do conflito armado colombiano, atendidos pela Comisión Nacional de Reparación y Reconciliación (CNRR) e pertencentes à ONG Madres de la Candelaria Caminos de Esperanza na cidade de Medellín, focando nas tentativas de produção de sentido sobre o desaparecimento do ente querido e as diversas formas em que a experiência violenta se relaciona com a percepção da própria saúde, do corpo e dos processos de saúde/doença.
Metodologia:
Optou-se no desenho da pesquisa, por um estudo de casos múltiplos (Stake, 2007). Participaram 16 mulheres: nove mães, quatro irmãs, uma tia e duas esposas dos desaparecidos, atendidas por um programa de apoio às vítimas da violência.
Utilizamos distintas técnicas de produção de informação. Entrevistas em profundidade, as quais entendemos como um sistema conversacional que objetiva a produção de campos de significação da experiência pessoal.
O material discursivo produzido foi analisado com base em categorias orientadoras e uma lógica adutiva (que permitia a emergência de novas categorias), em uma unidade hermenêutica no programa Atlas.ti 6.2 para análise de dados qualitativos. Predominantemente, neste trabalho é descrita a categoria Sintomas e Experiência Corporal.
Resultados e Discussão:
O sofrimento produzido pelo desaparecimento forçado de um ente querido está determinado em grande parte pelo desconhecimento dos acontecimentos que envolvem o ente querido, esta incerteza da vida ou da morte do familiar produz um intenso sofrimento psíquico.
Neste processo de luto inacabado os sujeitos realizam tentativas para significar a experiência violenta e os acontecimentos a ela relacionados. Uma dessas tentativas se dá em torno da significação do próprio corpo e das mudanças relacionadas com a saúde. O sofrimento derivado da incerteza e da impossibilidade de significar a perda se inscreve no próprio corpo quando o acontecimento violento se torna causa e explicação de dores e processos de adoecimento.
Nessa dinâmica, dores de cabeça, pressão alta, insônia, depressão, doenças como o câncer e outras mudanças corporais passam a ser explicadas em função da experiência violenta. Há, no entanto neste processo, uma tentativa de superar a experiência traumática enquanto procura de sentido dos acontecimentos não simbolizados.
Considerações Finais
O vazio de sentido sobre a perda reaparece como sintoma: na falta de palavras, o corpo fala, o corpo se queixa, o corpo expressa o acontecimento traumático na forma de dores, doenças, aflições, agravos. A tragédia do desaparecimento do ente querido torna-se a causa dos mais variados agravamentos de saúde.
Entendemos que existe uma relação inseparável entre as dimensões psíquica e biológica da saúde, por um lado; e os aspectos subjetivos e sociais-culturais que a condicionam e determinam, por outro, tornando-a um fenômeno complexo e multifacetado. Neste caso, o acontecimento traumático se objetiva nos agravos de saúde que são significados como consequência direta da perda do ente querido.

local do evento

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