28/09/2019 - 15:00 - 16:30 EO-35D - GT 35 - Vulnerabilidade Infanto-Juvenil: Configurações e Enfrentamentos |
30256 - OBESIDADE NA CRIANÇA E ADOLESCENTE: COMPREENDENDO A INTEGRALIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE. ANA APARECIDA DE SOUZA SANTANA GONÇALEZ - UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS, CAROLINA LUÍSA ALVES BARBIERI - UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS
Introdução: A obesidade infantil é uma doença prevalente mundialmente, de causa multifatorial e de difícil manejo. É considerada atualmente como um dos maiores problemas de Saúde Pública. Portarias e Manual Instrutivo vigentes são claros quanto as diretrizes e caminho a ser percorrido e as competências em cada componente de saúde para obesidade no adulto, com foco no fluxograma da cirurgia bariátrica, mas, ainda assim são genéricas no que diz respeito à obesidade na criança, não consideram as singularidades deste público, nem as especificidades para o manejo da obesidade. Os documentos normativos não contemplam com clareza quais são os critérios que nortearão o fluxo entre os componentes da rede de atenção à saúde (RAS) assim como não menciona os pontos de corte os quais os serviços deverão se basear para referenciar e contra referenciar, deixando, portanto, uma importante lacuna no que diz respeito à linha de cuidado à obesidade infantil. Objetivo: Compreender o fluxo de atendimento das crianças obesas na percepção dos profissionais de saúde da rede pública. Método: Este estudo é parte integrante da Dissertação de Mestrado da autora deste artigo. Trata-se de pesquisa de abordagem qualitativa, considerando as experiências práticas dos profissionais de saúde que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS) exercendo assistência na cidade de São Paulo as crianças obesas, visando compreender como estes profissionais praticam e percebem a articulação entre os profissionais de saúde dos diferentes pontos de Atenção à Saúde. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas utilizando roteiro como guia. Foram incluídos profissionais de saúde que atuavam no SUS nos diferentes pontos de atenção, inseridos em duas regiões do município de São Paulo e com experiência na assistência à criança obesa. Foram excluídos aqueles que estivessem trabalhando menos de 6 meses na assistência direta às crianças e /ou na rede pública. A captação dos participantes ocorreu mediante processo amostral de “bola de neve”. Posteriormente, as entrevistas foram transcritas e analisadas por meio da análise de conteúdo. Resultados e discussão. Foram entrevistados 16 profissionais de diferentes serviços, formações e níveis de complexidade. Para a maioria dos participantes da pesquisa, a referência e contra referência apresenta grandes fragilidades na prática, com falhas na articulação entre os pontos de atenção, afirmando que este fluxo não funciona. A maior parte dos profissionais afirmaram que só há referência, e que a contra referência quase não existe. Participantes do componente da atenção básica reclamaram dos outros pontos de atenção de maior complexidade, porque quase nunca tiveram retorno dos profissionais, dessa forma, não sabem os resultados e condutas realizadas aos pacientes nos outros serviços. Destacaram que os pacientes quase nunca retornavam para os atendimentos na atenção básica pois tanto a população como alguns serviços de saúde compreendiam que havia transferência de atendimento e que a gestão da saúde passava a ser agora daquele para onde o paciente foi referenciado, desconsiderando a atenção primária como coordenadora do cuidado. Médicos das unidades ambulatoriais especializadas contrapõem e informaram que tentavam contra referenciar, mas não conseguiam por diversos motivos. Já no ponto de atenção terciário, apesar de profissionais também identificarem falhas na comunicação, uma médica manifestou que não contra referência pois crê que isso não é de responsabilidade deste componente de saúde, revelando uma visão hierarquizada, compreendendo, que por estar no topo do “nível de atenção à saúde” não precisa do caminho de volta. Em relação a esses fluxos de encaminhamentos e articulação entre os serviços, as enfermeiras da atenção básica disseram que encaminhavam as crianças obesas para o pediatra e que este seguia um fluxo que, segundo elas, não era bem estabelecido. Profissionais do componente da atenção especializada afirmaram que a circulação dos pacientes entre os serviços não estava adequada pois recebiam crianças cuja complexidade e encaminhamento não correspondiam àquele componente de atenção à saúde em suas percepções. Diante do exposto, podemos inferir que os fluxos de encaminhamentos parecem não estar claros para todos os profissionais e não há uma comunicação adequada entre eles e entre os diversos pontos de complexidade de Atenção à Saúde. Considerações Finais: Considerando os achados, percebeu-se que os profissionais de saúde que atuam na rede pública prestando assistência a crianças obesas enfrentam muitas dificuldades, as quais, por vezes, interferem em suas práticas gerando ações nem sempre articuladas e fluxos pouco definidos. Nota-se que há falhas nos processos de referências e contra referências, gerando articulação sem coesão e harmonia entre os diversos pontos de atenção à saúde.
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