28/09/2019 - 15:00 - 16:30 EO-35D - GT 35 - Vulnerabilidade Infanto-Juvenil: Configurações e Enfrentamentos |
30369 - FATORES ASSOCIADOS AO DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO PESSOAL SOCIAL DE LACTENTES INSERIDOS EM CRECHES PÚBLICAS DE JOÃO PESSOA/ PB ÂNGELA CRISTINA DORNELAS DA SILVA - UFPB, ELYNE MONTENEGRO ENGSTROM - FIOCRUZ, CLÁUDIO TORRES DE MIRANDA - UFAL, DANIELLY MARINHO DE OLIVEIRA - HULW, CLÁUDIA FELL AMADO - UFPB
Introdução: o desenvolvimento humano é um processo contínuo, complexo, que tem início no momento da concepção, envolvendo aspectos da maturação neurológica e do ambiente social, e, portanto, é resultado da interação entre fatores biopsicossociais. O comportamento pessoal social é um dos comportamentos observáveis do desenvolvimento infantil e consiste nas reações individuais as outras pessoas e à cultura social, materializando-se no modo como a criança realiza as atividades de vida diária e interage socialmente com as pessoas. Portanto, o desenvolvimento deste comportamento é completamente dependente da interação com pessoas que incentivem a criança a protagonizar seu cotidiano de modo crescente. As creches, por sua vez, são instituições de educação e cuidado que devem promover o desenvolvimento integral de crianças pequenas, principalmente no momento em que os pais estão desenvolvendo atividades laborais. Objetivos: verificar a prevalência de alteração no desenvolvimento do comportamento pessoal social entre lactentes inseridos em creche; identificar os fatores associados ao desenvolvimento pessoal social. Metodologia: estudo exploratório e descritivo, de corte transversal, realizado de março a junho de 2012 nas turmas de berçários dos Centros de Referência em Educação Infantil (CREI) da Rede Municipal de Ensino da Cidade de João Pessoa/PB com a população de crianças na faixa etária de 6 a 18 meses, e suas respectivas mães (biológicas ou substitutas). O desfecho estudado foi o desenvolvimento pessoal social avaliado pela escala pessoal social do Teste de Triagem do Desenvolvimento de Denver II (TTDDII). Variáveis explicativas de natureza biológica, materna, social e demográfica foram investigadas a partir de questionário aplicado a mãe/substituta. Um formulário para obter informações dos CREI também foi utilizado. As análises foram realizadas através de estatística descritiva (frequências e médias) e inferencial (Qui quadrado, Anova, e regressão logística). O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da ENSP/Fiocruz. Resultado e Discussão: foram estudadas 112 crianças e suas respectivas mães, e 10 CREI. A metade das crianças era do sexo feminino e a outra metade do sexo masculino. A média de idade das crianças foi 14,4 meses (±3,0 DP) e do peso ao nascer foi de 3.235,32g (± 578,929 DP). A idade materna média era 28,4 anos (±7,2 DP). As mães tinham em média 8,3 anos de estudo (±3,4 DP) e os pais 7,6 (±3,9 DP). A maioria das famílias (75,9%) tinha renda per capita entre 0 e 0,5 salário mínimo. Dentre os CREI, apenas 4 recebiam visitas sistemáticas da Estratégia Saúde da Família (ESF). A prevalência de alteração no desenvolvimento do comportamento pessoal social foi 38,4%. A criança indicar querer e jogar bola com o examinador foram os comportamentos com maior frequência de resultados alterados. A única variável que se associou ao desenvolvimento foi a creche ter acompanhamento da ESF, que se configurou como fator protetivo (RC= 0,096; IC= 0,02 - 0,5; p= 0,007). Através dos resultados, principalmente da renda per capita e da escolaridade dois pais, identifica-se que a maioria das crianças estudadas se encontra em situação de vulnerabilidade social, que sabidamente contribui para prejuízos no desenvolvimento infantil. A baixa escolaridade dificulta que os pais identifiquem e respondam as necessidades de desenvolvimento dos filhos. A baixa renda compromete a provisão de recursos para estimulação do desenvolvimento, assim como faz com que os pais foquem em garantir a sobrevivência em detrimento de outras necessidades familiares. A prevalência de alteração no desenvolvimento do comportamento pessoal social foi alta, principalmente em comparação a outros estudos com a mesma população (REZENDE, BETELI SANTOS, 2005; AGUIAR et al, 2008), e sugere que crianças sem deficiência, mas em contexto de pobreza, estão sob risco ambiental de ter prejuízos no desenvolvimento. Os comportamentos com mais alteração sugerem déficits na educação parental e escolar para promover a autonomia da criança para manifestar querer, bem como para interagir com outros em contexto lúdico. A intersetorialidade entre saúde e educação se apresentou como potente ferramenta para proteger o desenvolvimento pessoal social, mostrando a necessidade de as políticas públicas interagirem para garantir o desenvolvimento de lactentes em situação de vulnerabilidade. Conclusão: o estudo forneceu evidências que o comportamento pessoal social sofre influência de diferentes fatores, e que muitos riscos ao desenvolvimento deste comportamento podem ser eliminados com políticas e ações intersetoriais pró desenvolvimento das famílias. A assistência qualificada em saúde e educação também contribui para o desenvolvimento de lactentes em situação de vulnerabilidade social. Ademais, as oportunidades oferecidas as crianças pequenas repercutem durante toda vida, e otimizam a passagem para a vida adulta, resultando em ganho para o desenvolvimento social.
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