29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-35C - GT 35 - Saúde da População Negra e Indígena: Expressões da Vulnerabilidade e do Racismo |
30205 - NOVEMBRO NEGRO NA UFRGS: UM ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE A SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA E PARA O ENFRENTAMENTO DO RACISMO LUCIANE MARIA PILOTTO - UFRGS, EMILY PRISCILLA SILVA DOS SANTOS - UFRGS, MANOELLA CECI CONSUL DA SILVEIRA - UFRGS, PRISCILA LUCIANE DA SILVA - UFRGS, ALINE BLAYA MARTINS - UFRGS
Contextualização: O Novembro Negro na UFRGS (NN) é uma iniciativa do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Indígenas e Africanos (NEAB/UFRGS), tendo como objetivo produzir, difundir e promover ações de ensino, extensão e pesquisa, explicitamente voltadas aos estudos afro-brasileiros, indígenas e africanos. A proposta original surgiu da direção da Faculdade de Educação (Faced/UFRGS) para promover meses temáticos para dar visibilidade às minorias. Este evento também foi impulsionado pela pluralidade da UFRGS favorecida com reserva de vagas para estudantes negros pelo programa de Ações Afirmativas em 2007. Atualmente, o NN ocorre em diversas unidades da Instituição, com programação variada para incentivar o empoderamento da população negra e promover o diálogo desta importante temática que era debatida de forma esparsa na UFRGS. Na Faculdade de Odontologia (FO/UFRGS), em 2018, ocorreu o II NN em parceria com a Faculdade de Medicina e o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Descrição: O II NN na FO/UFRGS teve ênfase na semana da consciência negra, que busca temáticas para a reflexão das desigualdades no cenário brasileiro. Criou-se uma comissão de estudantes e professores para organizar o evento. A programação contou com: 1) Café cultural e Exposição Fotográfica mostrando a representatividade negra no campus saúde/UFRGS; 2) Aula aberta sobre Racismo e Direitos Humanos ministrada por uma professora da UFF e por uma técnica da Secretaria Municipal de Saúde com ampla participação da comunidade discente, docente e da reitoria; 3) Curso sobre diagnóstico e manejo da Doença Falciforme. 4) Roda de Conversa sobre a Saúde Mental da Comunidade Acadêmica Negra, que contou com a participação de três psicólogos; 5) Oficina com crianças e adultos que acessam o hospital de ensino odontológico (FO/UFRGS), sobre a representatividade infantil e valorização da cultura negra; 6) Roda de conversa com estudantes secundaristas: lideranças estudantis secundaristas tiveram oportunidade de dialogar com graduandos e egressos de diversos cursos da área da saúde sobre as ações afirmativas na UFRGS debatendo o acesso, permanência e os serviços de assistência da universidade; 7) Cine debate e roda de conversa sobre o feminismo negro; 8) Aula aberta sobre desigualdade racial na saúde geral e bucal e 9) Roda de conversa sobre Slam, movimento da nova literatura marginal. Período de realização: Novembro de 2018. Objetivo: Relatar as ações desenvolvidas durante o II NN na FO/UFRGS para fortalecer a luta diária pela igualdade étnico-racial e refletir sobre seu potencial para a qualificação e formação de acadêmicos, professores e profissionais da área da saúde. Resultados: Houve grande participação da comunidade acadêmica, trabalhadores da rede pública, estudantes secundaristas e poetas do Slam totalizando mais de 400 pessoas. Foi um espaço de desconstrução de preconceitos, empoderamento da identidade racial, como símbolo de resistência, construção e compartilhamento de conhecimentos vivenciados, com embasamento teórico e científicos, na vivência da pessoa negra debatendo assuntos carentes na acadêmia, necessários para formação de profissionais com espírito crítico, reflexivo frente a realidade e com sólida formação técnico-científica e humanística. Aprendizados: O II NN possibilitou o debate, o entendimento e a reflexão sobre as dificuldades enfrentadas diariamente pela população negra. O NN conseguiu desacomodar os participantes, instigando-os a lutar contra todas as formas de racismo. Como o racismo é um determinante no processo de adoecimento da população negra, foi discutido transversalmente durante o evento, da mesma forma que a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, o acesso, a universidade e a inserção da temática na grade curricular, pois são esses profissionais que prestarão serviços para mais de 50% da população no Sistema Único de Saúde (SUS). Estimular a participação dos acadêmicos de semestres iniciais é fundamental para a continuidade do debate e para seu empoderamento. Análise crítica: É imprescindível espaços como o NN nas instituições de ensino para refletir e debater sobre os entraves que a população negra enfrenta cotidianamente e que contribui no processo de adoecimento dessa população. Pensar de forma crítica qual é o papel do profissional da saúde na produção do cuidado e trabalhar com recorte raça/cor para combater as desigualdades em saúde é fundamental. Esses eventos possibilitam aos acadêmicos enxergarem sob outra perspectiva a desigualdade social e o racismo, pois esse assunto não se limita a população negra, mas a todos os cidadãos e em especial aos profissionais da saúde. Por outro lado, resistências foram encontradas, como a dificuldade de liberação dos estudantes para participarem das atividades e pela falta de entendimento por parte da comunidade acadêmica de que racismo é problema universal e que precisa ser combatido por todos. Falar de racismo ainda, infelizmente, causa muita estranheza.
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