29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-35C - GT 35 - Saúde da População Negra e Indígena: Expressões da Vulnerabilidade e do Racismo |
31322 - PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E COBERTURA VACINAL NO CONTROLE DAS DOENÇAS PNEUMOCÓCICAS DE POPULAÇÕES INDÍGENAS DO ESTADO DO AMAZONAS/BRASIL. KÁTIA MARIA LIMA DE MENEZES - ILMD/FIOCRUZ, KAROLINE GOMES BRONI DA SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS, DAVID EDUARDO BARROSO - IOC/FIOCRUZ
RESUMO CONGRESSO
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E COBERTURA VACINAL NO CONTROLE DAS DOENÇAS PNEUMOCÓCICAS DE POPULAÇÕES INDÍGENAS DO ESTADO DO AMAZONAS/BRASIL.
O Streptococcus pneumoniae (pneumococo) causa doenças como a meningite, pneumonia, septicemia, otite, entre outras. No Brasil é considerado o segundo agente causador de meningites bacterianas após a Neisseria meningitidis. O tratamento adequado com antibióticos não é capaz de eliminar a letalidade da pneumonia pneumocócica, provavelmente porque a droga reduz pouco a letalidade nos primeiros três a cinco dias de doença. Assim sendo, a prevenção é a estratégia indicada para diminuir as taxas de incidência destas doenças e baseia-se, fundamentalmente, na imunização ativa. As Crianças com menos de dois anos, indivíduos com mais de 65 anos e portadores de certas doenças crônicas debilitantes e/ou imunossupressoras são particularmente susceptíveis (Burgos; et al,2015). A vacina pneumocócica conjugada 10 valente faz parte do calendário do Programa Nacional de Imunização (PNI) desde 2010, voltada para crianças menores de 24 meses. A vacina pneumocócica polissacarídica 23 valente é disponibilizada pelos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) para pacientes acima de dois anos de idade que apresentem condições de risco para a doença pneumocócica invasiva e para idosos acima de 60 anos institucionalizados (Brasil,2014). Em 2010, foi criado um calendário vacinal diferenciado para a população indígena contendo as vacinas Pneumocócica 10 valente e Pneumocócia 23 valente, dentre outras. O presente estudo teve como objetivo analisar perfil sociodemográfico e cobertura vacinal no controle das doenças pneumocócicas de populações indígenas no Amazonas. O estudo foi realizado em três aldeias indígenas localizadas ao longo do Rio Madeira no Estado do Amazonas: Aldeia São Félix (etnia Mura), aldeia Fronteira (etnia Munduruku) e aldeia Pirahã do Maicí (etnia Mura-Pirahã). Estudo transversal, descritivo, baseado em levantamentos de dados dos indígenas e fotografias dos cartões de vacina. Foram considerados os grupos de risco – crianças até 24 meses e idosos com idade igual ou superior a 60 anos. Resultados. Na aldeia São Félix residia 260 indivíduos distribuídos em 54 domicílios, 49% (127/260) do sexo masculino e 51% (133/260) do sexo feminino. A aldeia possui uma escola para as crianças que também é frequentada por crianças de aldeias vizinhas. Uma parte das crianças com ≤ 12 anos (73%) estuda fora da aldeia. A aldeia está localizada em uma área geográfica bem próxima a outras aldeias e a sede do município de Autazes, o que permite um intenso deslocamento da população para fora da aldeia. Do total de 260 indígenas cadastrados, 60 (23,07%) não apresentaram cartão de vacina. Dos 200 que apresentaram o cartão de vacina, 12 (1,53%) eram crianças até 24 meses e 10 eram (12,82%) idosos; 125 (62,5%) não eram vacinados e 78 (39%) receberam a vacina pneumocócica (10 valente/ pneumocócica 23 valente). Apenas 04 crianças até 24 meses (5,12%) foram vacinadas e seis (7,69%) idosos. Na aldeia Fronteira tinham 270 indígenas, residindo em 45 domicílios. Destes 50% (135/270) eram do sexo masculino e 50% (135/270) do sexo feminino. 264 (97,7%) indígenas apresentaram a carteira de vacinação. Nestes cadastros foram encontradas 14 (5,30%) crianças de até 24 meses e 10 (3,78%) idosos. Não vacinados contabilizaram 249 (94,31%), sendo 14 (5,62%) crianças até 24 meses e 10 (4,01%) idosos. Observou-se que a população na faixa de risco que foi vacinada é igual a zero indivíduo. Na aldeia Pirahã do Maicí foram registrados 172 pessoas da etnia Mura-Pirahã, 54% (93/172) do sexo masculino e 46 do sexo feminino (79/172). A informação sobre o estado vacinal dos indígenas foi extraída do prontuário, considerando que os cartões de vacina dos Mura-Pirahãs ficam guardados com a equipe de saúde, pois são nômades e suas casas são “taperas” improvisadas e provisórias. Nesta aldeia conseguimos os registros das vacinas de todos os cadastrados, que contabilizaram 172. Dos cadastrados, 24 (13,95%) são crianças com até 24 meses de vida e nove (5,23%) são idosos. Foram identificados 110 (63,95%) indígenas não vacinados (com a pneumocócica 10 valente ou pneumocócica 23 valente). Dos 110 indígenas não vacinados 13 (20,96%) são crianças até 24 meses e oito (7,27%) são idosos. Os vacinados somam 62 (36,04%) da população geral. Desses 62 indígenas vacinados, 11 (17,4%) são crianças com até 24 meses e um (0,90%) indígena com 60 anos. Observou-se que a população mais susceptível tem baixa cobertura. O estudo apontou uma baixa cobertura vacinal em relação as doenças pneumocócicas apontando para a necessidade de se implantar estratégias que visem aumentar o acesso a vacinação, reduzindo as iniquidades na população indígena além de fortalecer a vigilância epidemiológica das doenças pneumocócicas nas aldeias estudadas.
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