30/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-35G - GT 35 - Migrantes, Refugiados, População de Rua e Outros Grupos Vulneráveis |
29178 - OS INVISIBILIZADOS DA CIDADE: O ESTIGMA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA EM USO DE CRACK NO RIO DE JANEIRO MIRNA BARROS TEIXEIRA - ENSP/FIOCRUZ, PILAR BELMONTE - EPSJV/FIOCRUZ, ELYNE ENGSTROM - ENSP/FIOCRUZ, ALDA LACERDA - EPSJV/FIOCRUZ
Introdução: Evidencia-se no Brasil e em outros países da América Latina o aumento da população em situação de rua (PSR), muitos dos quais são usuários de crack. A PSR é um grupo social que vivencia distintas situações de múltiplas vulnerabilidades, processos de marginalização e preconceitos. Trata-se de uma população marcada por processos de exclusão social e que convive com experiências de desrespeito e ausência de reconhecimento social no seu cotidiano. Esse estigma perpassa o acesso aos bens públicos, e alguns serviços de saúde se recusam a oferecer atendimento pela ausência de documentação ou domicílio cadastrado. Entende-se aqui o estigma como uma construção social que representa uma marca no indivíduo, delegando a pessoa um status desvalorizado em relação aos demais membros da sociedade. Essa população sofre de estigmas, vinculados a uma percepção de fragilidade do caráter, como vontade fraca para interromper o uso da droga e como pessoa perigosa na medida em que é temida pela sociedade porque percebida como agressora. Isso traz consequências como o isolamento social, a perda da autoestima, dificuldade de acesso aos serviços de saúde que provocam o afastamento da busca de suporte social e de saúde por parte do usuário, agravando suas condições de vida. Objetivo: Consiste em desvelar os estigmas associados à população em situação de rua, muitas vezes usuária de drogas, e analisar como o estigma interfere na relação de cuidado entre os profissionais de saúde e esse grupo vulnerável. Parte-se da premissa que (re)conhecendo-os como pessoas de direitos será possível reorientar um conjunto de práticas de cuidado que possa garantir direitos básicos de saúde, educação, moradia, trabalho, entre outros constituintes da cidadania, de modo a fomentar os processos de democratização e inclusão social dessa população estigmatizada e em situação de extrema vulnerabilidade social. Metodologia: Foi realizado uma Pesquisa qualitativa sobre as praticas de cuidado das equipes de Consultório na Rua (CnaR) do município do Rio de Janeiro, para mapear as praticas realizadas no cotidiano de trabalho com a PSR a partir dos atributos da atenção primária em saúde (APS). Além disso utilizou-se como metodologia entrevistas semi-estruturadas realizadas com 34 trabalhadores e 14 usuários das equipes de Consultório na Rua. Resultados: Foi elaborado uma cartilha "Saude nas Ruas" identificando as praticas de cuidado integral às pessoas em situação de rua a partir dos atributos da APS. Além disso, foi possível reconhecer o estigma internalizado pelas pessoas que se reconhecem como portadoras das características negativas que lhe são imputadas, assim como a percepção dos profissionais de saúde da estigmatização sofrida por essa população. Conclusão: O desvelamento dos estigmas e sua análise podem auxiliar na reorientação de um conjunto de práticas de cuidado para esse grupo vulnerável que garantam direitos básicos de saúde, educação, moradia e trabalho constituintes da cidadania, de modo a fomentar processos de democratização e inclusão social dessa população estigmatizada em situação de extrema vulnerabilidade.
Referencias:
Lacerda A, Engstrom EM, Cardoso G, Teixeira MB, Bodstein R, Goldblum A, et al. Práticas promotoras de saúde do Consultório na Rua na cidade do Rio de Janeiro: desafios do acesso e dos direitos sociais da população em situação de rua. In: “Grupos em Situação de Vulnerabilidade: em cena na luta por visibilidade no espaço urbano”. Hucitec; 2018.
Goffman E. Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4o ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 1988.
Bastos FI, Bertoni N. Pesquisa Nacional sobre o uso de crack: quem são os usuários de crack
Ronzani TM, Noto AR, Silveira PS, Casela ALM, Andrade B, Monteiro ÉP, et al. Reduzindo o estigma entre usuários de drogas. Guia Para Profissionais E Gestores Juiz Fora Ed UFJF. 2014;
Mullay B. The new structural social work. Don Mills: Oxford University Press; 2007. 286 p.
Hart C. Um Preço Muito Alto: a jornada de um neurocientista que desafia nossa visão sobre as drogas. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar; 2014. 326 p.
Teixeira MB. Políticas públicas sobre drogas: abordagem às pessoas em uso prejudicial de crack em uma perspectiva intersetorial. [ENSP/Fiocruz]: Tese de Doutorado em Saúde Pública. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca - ENSP/Fiocruz; 2018.
Link BG, Phelan JC. Conceptualizing stigma. Annu Rev Sociol. 2001;27(1):363–385.
Dalla Vecchia M, Ronzani TM, Santana C de P, Batista B, Costa PHA da, organizadores. Drogas e direitos humanos: reflexões em tempos de guerra às drogas. 1o ed. Porto Alegre: Rede UNIDA; 2017. 396 p.
|