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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-35G - GT 35 - Migrantes, Refugiados, População de Rua e Outros Grupos Vulneráveis

30150 - CONSULTÓRIO NA RUA: A PRODUÇÃO DE SAÚDE ATRAVÉS DA ESCUTA NAS BARREIRAS DA INVISIBILIDADE E VULNERABILIDADE SOCIAL.
BIANCA DE FREITAS MORAES - UEMG DIVINÓPOLIS, VANESSA AYRES TIBIRIÇÁ - UEMG DIVINÓPOLIS, REINALDO DA SILVA JÚNIOR - UEMG DIVINÓPOLIS


As negligências do Estado e da população geral com pessoas em situação de rua os encaixam em uma posição de invisibilidade e vulnerabilidade social, devido ao racismo, preconceito, violência e demais fatores que os colocam à margem da sociedade. O crescente individualismo faz com que as pessoas se distanciam cada vez mais umas das outras, as cidades, conforme crescem, se tornam gradativamente mais divididas, e dessa forma, diminui-se o sentimento de pertencimento a uma comunidade. Desta forma, as pessoas em situação de rua são lembradas apenas quando geram incômodo à comodidade dos sujeitos que passam por elas. Observa-se, assim, a existência de representações sociais pejorativas, em relação à população em situação de rua, que se materializam nas relações sociais. A ausência, na nossa região, de informações confiáveis sobre a população de rua dificulta o acesso a essa população e de medidas públicas que garantem auxílio a esses indivíduos. O acesso à saúde da população de rua vem ganhando espaço no SUS por intermédio da instituição das Equipes de Consultório na Rua, atendendo a integralidade das necessidades de saúde e produzindo acesso. A ideia básica é que o SUS possa assistir, prevenir e promover saúde a partir das características do território, de constituir-se como um serviço referência na rua, com a rua, pela rua e por meio da rua. É devido às essas condições estigmatizantes que surge o interesse de nos movermos em direção á produção de saúde a esses indivíduos em busca do mínimo de dignidade, pertencimento e respeito.
O presente relato diz a respeito à experiência em um campo de estágio do curso de psicologia da UEMG, unidade Divinópolis, realizado por três estudantes do sexto período, sob o olhar da Psicologia Fenomenológica Existencial. O estágio teve como inspiração a estratégia do consultório na rua, a partir da verificação da importância da valorização de práticas que visem à transformação social. O período de realização das atividades em campo foi de setembro a dezembro de 2018. Os atendimentos foram realizados através da demanda espontânea em um local de cena de uso e tráfico de drogas na cidade de Divinópolis/MG. Carregamos água e copos descartáveis, que serviram, além de suprir a necessidade básica da sede, como estratégia de aproximação às pessoas daquele local. Como objetivo, propusemos a escuta ativa e sem julgamentos na tentativa de ressignificar aspectos que visam à prática descentralizada da saúde, proporcionar o acolhimento necessário de acordo com as demandas, e por fim, repensar a relação do território existencial da rua com o cuidado e produção em saúde. Verificamos que durante o percurso dos atendimentos em campo conseguimos abranger indivíduos de diferentes realidades e contextos, causando impacto positivo à essas pessoas no que diz respeito ao alívio do sofrimento inicial, que foi possível proporcionar durante o processo. Houve boa receptividade e respeito mútuo, apesar de verificamos que na maioria das vezes fomos colocados em um patamar de superioridade intelectual. Além disso, percebemos certo constrangimento sobre a posição em que se encontram, carregado por um sentimento de culpa e de que possivelmente seriam julgados, mesmo explicando inúmeras vezes que a nossa posição não seria e nem deveria ser de julgamento. Percebemos a existência de inúmeras situações de violência para com eles, atitudes desrespeitosas da população e principalmente do tratamento abusivo da polícia. Neste ambiente a polícia se manifesta não como um elemento que provém a segurança, mas sim como um elemento que provém a opressão, o medo e a violência. Tal exclusão causa estranhamento inclusive ao se defrontarem com acadêmicos dispostos a escutá-los, acolhê-los e não criticá-los, características até então inusitadas para eles, o que demonstra grande falha em nosso sistema e em nossa rede. Em seus relatos notamos a falha no serviço de saúde e ao mesmo tempo a falta de confiança deles para com o serviço. O mais citado de forma negativa foi o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) da cidade. A incapacidade do CAPS da cidade de sustentar suas diretrizes faz com que muitos deles tentem tratamento em clínicas. Por fim, observamos a dificuldade de se inserirem em espaços públicos e culturais da cidade, e a partir disso, refletimos sobre tentativa de se esconder para não serem vistos, por vergonha, fuga ou medo. Dessa maneira, as ruas e mais especificamente, o local de cena de uso no qual tivemos experiência, torna lugar de tudo que não tem mais lugar nas comunidades e se torna local de depósito dos que são expulsos dos lugares constituídos pela cidade. Assim, essas existências perdem seu lugar de legitimação: seja por fatores financeiros, sociais e/ou afetivo-subjetivos. A construção de vínculos através da escuta qualificada, mesmo com inúmeras barreiras, traça um campo de extrema importância para a garantia do acesso desta população à saúde.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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