28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35A - GT 35 - Políticas Públicas, Serviços e Vulnerabilidade: Ações e Desafios |
30223 - COMO MULHERES (RE)EXISTEM EM SERVIÇOS DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DE UMA REGIÃO DE SAÚDE DO SUDOESTE BAIANO EDUARDA FERREIRA DOS ANJOS - UFBA/IMS-CAT, JAMILLE AMORIM CARVALHO - UESB, JÔSE RIBAS GALVÃO SIZISNANDE - UFBA/IMS-CAT, NÍLIA MARIA BRITO DE LIMA PRADO - UFBA/IMS-CAT, POLIANA CARDOSO MARTINS - UFBA/IMS-CAT, ADRIANO MAIA DOS SANTOS - UFBA/IMS-CAT
INTRODUÇÃO: O direito à saúde é um direito social garantido pela constituição federativa brasileira. O movimento da reforma sanitária trouxe o debate sobre a necessidade de garantia do Bem-Estar-Social pelo Estado e de políticas sociais fortes que garantissem condições mínimas de cidadania para uma população com um alto nível de desigualdade, marcada pela concentração rede e assimetria no usufruto dos bens públicos. O Sistema Único de Saúde, instituído pelas leis 8.080/90 e 8.142/90, constitui-se num sistema balizado num conceito ampliado de saúde e pautado em princípios de universalidade, integralidade e equidade. Nesse sentido, a Estratégia de Saúde da Família(ESF), baseada no modelo de Atenção Primária à Saúde(APS) abrangente, vem como o caminho para garantir a cidadania por meio do acesso aos serviços de saúde que seja humanizado e resolutivo, garantindo a integralidade e longitudinalidade do cuidado em tempo oportuno, para toda a população, em especial as mais vulneráveis. No Brasil, ainda há uma alta prevalência de mulheres acometidas com câncer de colo uterino (CCU), agravo que poderia ser evitado com a consolidação efetiva da ESF robusta em diversos contextos. Em uma atual conjuntura de ameaça às políticas sociais é imprescindível a realização de estudos que destaquem a potencialidade da APS e identifiquem entraves que impedem sua solidez para garantir maior resolutividade e acesso seguro.
OBJETIVO: Analisar aspectos que fragilizam o cuidado da APS às mulheres na linha de cuidado do CCU, em uma região de saúde da Bahia.
METODOLOGIA: A pesquisa é um recorte de um estudo maior do programa de pós-graduação em saúde coletiva da UFBA/IMS-CAT. Foi realizado um estudo quantitativo transversal em que se buscou a epidemiologia crítica para compreensão além da frieza dos números. Os sujeitos foram 241 profissionais dos 19 municípios de uma região de saúde, no período de janeiro a março de 2019. Os sujeitos eleitos foram médicos e enfermeiros atuantes na ESF, o número de indivíduos entrevistados foi proporcional ao número de equipes cadastradas por município e selecionados por sorteio aleatório. O instrumento objetivou captar as nuances do processo e da estrutura, e foi aplicado por entrevistadores do Observatório Baiano de Redes de Atenção à Saúde, por meio de tablets. O projeto contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia. Para a análise das frequências absolutas e relativas, utilizou-se o Stata 14.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O CCU, considerado como um bom marcador para compreender os nós do cuidado em todos os níveis assistenciais, pode ser prevenido, caso haja a realização do exame citopatológico com a periodicidade e qualidade preconizadas. Na região de saúde, o mesmo é realizado na maioria dos municípios (96,68%), com uma frequência semanal (54,77%) e há o registro dessas informações (96,68%). Algumas unidades, em municípios próximos a sede da região, não estava realizando por falta de insumos básicos. Encontrou-se que os profissionais mais envolvidos com a linha de cuidado eram enfermeiros, que faziam a coleta do preventivo em todas as unidades e, em apenas, 14,11% delas médicos clínicos ou ginecologistas, também, compartilham essa prática. Há um acompanhamento da APS durante o cuidado dessa mulher na atenção especializada em 71,55% das unidades, sendo que as demais são acompanhadas somente em algumas vezes ou nunca. Encontrou-se, ainda, profissionais que são sabiam sobre esse acompanhamento (6,69%). Pode-se compreender que ainda prevalece o cuidado, sobretudo de médicos, baseado na atenção curativista, sem estabelecimento de vínculo e consecução da longitudinalidade do cuidado. Apesar de, na percepção dos profissionais, as mulheres com lesões percussoras do CCU serem encaminhadas para os serviços de referência, ainda havia uma grande parte delas desassistidas (54,36%), o que evidencia que, podem haver mulheres que morrem de CCU por não possuírem acesso ao serviço. A região possuía uma APS que conseguia ser resolutiva, mas que ainda carecia de investimentos para aumentar a cobertura e o acesso, como também estratégias de educação permanente que envolvessem os profissionais de forma a ofertar um cuidado de proximidade. Visto que, as nuances de ser mulher traz diversas formas de vulnerabilidade, deve-se investir na APS para que seja efetivamente transformadora de vidas.
CONCLUSÃO: As políticas sociais são direitos que trazem dignidade aos cidadãos e devem ser garantidas pelo Estado, para que as pessoas tenham condições básicas de saúde e bem-estar. Em um cenário de ameaça a esses direitos, por políticas ultraneoliberais, não há como garantir um sistema universal, o que torna populações vulneráveis como mulheres, ainda mais expostas aos riscos da desassistência. O estudo na região de saúde mostrou uma APS com potencialidade para ser abrangente e resolutiva, mas que necessitava de investimentos financeiro e formativo para transformação das práticas.
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