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28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-35A - GT 35 - Políticas Públicas, Serviços e Vulnerabilidade: Ações e Desafios

31331 - ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL COMO DEVIR: EXPERIÊNCIAS DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE EM UM MUNICÍPIO BRASILEIRO
LUIZA GUIMARÃES CAVALCANTI SPINASSÉ - UFBA, LÍGIA AMPARO DA SILVA SANTOS - UFBA, JULIEDE DE ANDRADE ALVES - UFBA


INTRODUÇÃO
Neste trabalho, discute-se o pensar e fazer cotidiano da alimentação saudável (AS), por Agentes Comunitários de Saúde (ACS), confrontando as concepções hegemônicas presentes nos estudos, mais representacionais, segundo as quais há um ideal de AS a ser perseguido. A partir do pensamento deleuziano e da Antropologia, abordou-se a AS não como constructo, mas um ato, uma ação – a própria experiência em si: um devir1.

OBJETIVO
Compreender como ACS em um município brasileiro experienciam a alimentação saudável em seu cotidiano e prática profissional.

METODOLOGIA
Trata-se de estudo qualitativo com abordagem compreensiva2, desenvolvido em dois Distritos Sanitários de um município brasileiro. Para produção dos dados, elegeu-se entrevista narrativa3,4 com os critérios de inclusão: consentimento em participar voluntariamente da investigação e atuar em um mesmo Distrito Sanitário há, pelo menos, seis meses – período estimado para apresentarem mínima vivência em relação às atividades, conhecerem a comunidade e sentirem-se moradores do bairro onde trabalham.
O contato para realização foi feito durante as visitas aos serviços de saúde, utilizando-se a técnica “snowball”. Para determinação do número de participantes, adotou-se o princípio da saturação teórica a partir do conteúdo dos dados produzidos5. Entre dezembro de 2016 e março de 2017, foram realizadas dez entrevistas narrativas com dez ACS, registradas em gravador digital para transcrição e análise.
O trabalho foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de Nutrição da UFBA e recebeu parecer favorável (1.874.741). Os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e as identidades foram mantidas sob sigilo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram da pesquisa ACS com idades entre 32 e 50 anos, sendo nove mulheres e um homem, que atuavam nos Distritos Sanitários há pelo menos 11 anos. Os resultados evidenciaram que, diferente de uma concepção de representação de um modelo ideal de alimentação saudável construído pelos sujeitos a ser perseguido, os agentes expressaram a AS como um devir, ou seja, o fazer, o sentir, o experimentar na ação, que já não é o mesmo à medida em que se age. Entende-se os devires como atos: a experiência em si no momento em que se realiza e se transforma.
Inspirou-se na perspectiva deleuziana, embora este não seja um trabalho filosófico. Soma-se a reflexão sobre como a alimentação saudável como devir interage com outros devires - a exemplo do devir-saúde - reconstruindo-os e retroalimentando-os neste fenômeno de “dupla captura, de evolução não paralela”1 (p.3).
Centrou-se em dois aspectos nos quais se evidencia como estes devires são experienciados na vida cotidiana dos ACS: como a AS não é a priori construída por estes sujeitos e, sim, construída e refeita cotidianamente a partir das suas experiências (os devires) e como o devir da alimentação saudável também é construído em relação aos demais devires, conforme mencionado, a exemplo do devir saúde. Para tanto, no item “Eu já tenho casos na família”: o fio da história no novelo dos devires, descreve-se a participação das experiências familiares dos agentes nas reconstruções contínuas dos devires da AS e da saúde; e no tópico “Cada casa, uma história”: as núpcias entre os devires no encontro com o outro, apresentam-se as reconfigurações dos modos de pensar e fazer alimentação saudável nas vivências profissionais dos ACS.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados revelaram que os sujeitos vivenciam AS e saúde como devires – experienciando ambas como atos que se desenham no cotidiano e se retroalimentam, a partir de relação simbiótica e transformadora. Observou-se a produção de referências, capazes de orientar os devires e transformá-los, norteadas sobretudo pelas experiências de vida.
A busca da alimentação saudável não se constituiu apenas como meio para se alcançar saúde. Se produziu como um devir por si próprio, transformando o sujeito, sendo transformada por ele e modificando o que o mesmo assinala como o que seja saúde para ele. Assim, o conceito de AS não possuiu forma própria para os entrevistados, rompendo a lógica binária produzida na modernidade.
Marca-se o desafio empreendido ao abordar a alimentação saudável como devir e a necessidade de se aprofundar os intercruzamentos entre a filosofia de Deleuze e a antropologia, bem como os estudos sobre AS com ACS.

REFERÊNCIAS
1.Deleuze G. Diálogos. Trad. Eloisa de Araújo Ribeiro. São Paulo: Editora Escuta, 1998.
2.Freitas MCS, Minayo MCS, Fontes GAV. Sobre o campo da Alimentação e Nutrição na perspectiva das teorias compreensivas. Ciência & Saúde Coletiva 2011;16(1):31-8.
3.Barbosa MF. Experiência e Narrativa. Salvador: EDUFBA, 2003.
4.Castellanos MEP. A narrativa nas pesquisas qualitativas em saúde. Ciênc. Saúde Coletiva. 2014 Abr.; 19(4):1065-76.
5.Fontanella BJB. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cad. Saúde Pública. 2008; 24(1):17-27.

local do evento

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