29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35G - GT 35 - Violência e Vulnerabilidade: Multiplas Dimensões e Grupos Afetados |
30083 - VIOLÊNCIA(S) NA ESCOLA E A RELAÇÃO COM O CONTEXTO DE VULNERABILIDADES DO TERRITÓRIO MARIA BENEGELANIA PINTO - UFPE, KÊNIA LARA SILVA - UFMG
INTRODUÇÃO: O fenômeno da violência possui causas múltiplas, complexas e correlacionadas com determinantes sociais e econômicos: desemprego, baixa escolaridade, concentração de renda, exclusão social, entre outros, além de aspectos relacionados aos comportamentos e cultura, como o machismo, o racismo e a homofobia. A violência assume uma perspectiva ecológica e seu enfrentamento exige ações nas dimensões individuais, relacionais, comunitárias e sociais. Neste sentido, a busca pelas causas mais específicas da violência, situadas no interior das escolas, deve ser baseada em causas mais abrangentes, ou seja, nas suas relações com os processos sociais, políticos e econômicos. Para isso, é preciso reconhecer a violência no laço social para além daquilo que costuma aparecer, destacando-se as nuanças envolvidas nos jogos de poder das relações sociais. Este trabalho apresenta um recorte dos resultados da pesquisa de Doutorado: “Promoção da saúde e a relação entre escola e comunidade: potencialidades para a transformação social”. OBJETIVO: Analisar como as dimensões de violência na escola refletem e manifestam as vulnerabilidades sociais do seu território. METODOLOGIA: Pesquisa qualitativa, ancorada no Materialismo Histórico e Dialético e abordagem de Estudo de Caso. Realizado num bairro da zona oeste do município de João Pessoa, Paraíba, Brasil, no período de fevereiro a julho de 2017. O território apresenta áreas de vulnerabilidade social como comunidades ribeirinhas, elevado índice de desigualdade social e violência, especialmente devido ao tráfico de drogas. Na comunidade existe uma Rede comunitária, coletivo que promove e apoia ações com foco educacional, assistencial e na saúde. Participaram do estudo 31 representantes de duas escolas, do ensino fundamental e médio. A aproximação se deu por meio das reuniões da Rede comunitária, seguida por visitas às escolas. Como critério de inclusão, os participantes deveriam apresentar no mínimo seis meses de vínculo com a escola. A coleta dos dados aconteceu por meio de entrevistas semiestruturadas que ocorreram individualmente, sendo observada a privacidade dos respondentes. Em respeito ao anonimato, elaborou-se um código alfanumérico para identificar as falas. O processo de análise ocorreu pela Análise de Discurso Textualmente Orientada. O estudo respeitou as exigências formais contidas nas normas nacionais e internacionais regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. RESULTADOS: Os discursos revelam o fenômeno da violência nas escolas a partir da sua relação com o tecido social, ou seja, como uma resposta à violação da ausência da efetivação de direitos pelo Estado e como reflexo de algo estruturado e mantido como resultado de uma ideologia presente na sociedade, que privilegia certas camadas sociais em detrimento a outras. Dessa maneira, as desigualdades geradas promovem a exclusão de determinados grupos sociais e determinam discriminações que se reproduzem no interior das escolas, de modo que se pode interpretar a violência na escola também como resultado da violência social. Nesse âmbito, tal problemática traz sérias implicações para os atores da comunidade escolar, que resistem a partir de seus próprios mecanismos. A principal forma de enfrentamento detectada consiste na tentativa de diálogo. Sem uma equipe especializada para conduzir intervenções apropriadas e uma gestão democrática atuante, a problemática da violência da escola ganha proporções incontidas e cumulativas, gerando sentimento de desesperança por parte dos atores da comunidade escolar. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os resultados apontam a necessidade de ampliar o entendimento da violência escolar como um fenômeno sócio-histórico, não restrito ao espaço da escola, mas que se constrói em meio à realidade social e impacta não somente no processo de ensino-aprendizagem, mas em todos os âmbitos da vida, inclusive na saúde. Apenas quando se considera a complexidade desse fenômeno é possível a desconstrução de visões fatalistas, que tendem à naturalização do fenômeno no cotidiano escolar, que muitas vezes implica a culpabilização de determinados grupos e a desresponsabilização de outros atores sociais envolvidos nessa realidade. Para tanto, são necessárias ações horizontalizadas, cuja participação dos atores deve ser considerada em todos os momentos; refletir suas reais necessidades, assim como o desempenho do Estado para assegurar que se cumpra o direito de ter uma vida digna, que é a dimensão central da noção contemporânea de direitos humanos. Nessa perspectiva, a escola é fundamental no trabalho de construção de uma identidade cidadã, de valorização do território, da autonomia, da participação e da cultura de direitos humanos e da paz.
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