29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35G - GT 35 - Violência e Vulnerabilidade: Multiplas Dimensões e Grupos Afetados |
30177 - ABRIGOS INSEGUROS: AS VIOLÊNCIAS DESENCADEADAS POR DESASTRES MARCIO HAUBERT DA SILVA - UFRGS, POTIGUARA DE OLIVEIRA PAZ - UFRGS, NATÁLIA SILVA PIRES - UFRGS, LAURA LUCAS DA SILVA - UFRGS, REGINA RIGATTO WITT - UFRGS
INTRODUÇÃO
A ocorrência cada vez mais frequente dos desastres em nossa contemporaneidade coloca em risco de violência as populações que por eles são atingidas. Para realocar comunidades afetadas abrigos temporários são criados no intuito de proteger os desabrigados ou desalojados (1). Na ocorrência de um desastre ocorre uma interrupção da ordem pública e esta situação oportuniza os mais diversos tipos de violência. Ainda pouco se sabe sobre esse assunto, porque as ações de gestão dos desastres estão mais concentradas nos efeitos diretos ocorridos (2). O objetivo deste estudo é analisar artigos científicos buscando encontrar os tipos de violências que ocorrem em um desastre.
MÉTODO
Revisão integrativa realizada nas bases BIREME e Scielo. A pergunta norteadora foi: Quais são os tipos de violências mencionadas nos artigos científicos sobre desastres? Utilizou-se os descritores “desastre” e “violência”, com o operador booleano AND. Os critérios de inclusão foram artigos científicos relacionados à violência e desastre, entre os anos de 2008-2018, nos idiomas inglês, português e espanhol; que mencionaram os tipos de violência. Foram excluídas da revisão as teses e dissertações e demais publicações que não relacionaram os tipos de violência.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A busca totalizou em 86 resultados, aplicando os critérios de inclusão foram selecionados 34 resultados para a leitura completa dos textos. Após, foram descartados 28 resultados, sendo a busca finalizada pela inclusão de seis publicações que atenderam ao objetivo e a questão norteadora deste estudo. A interpretação dos resultados ocorreu pela análise dos artigos, enfocando os tipos de violência mencionados.
Nos estudos os tipos de violência citados foram: violência sexual(1,2,3,5,6), violência contra crianças(3,4), violência doméstica(3,4), violência política(4,5), violência contra a mulher(1,2,4), violência social(5,6).
As mulheres, crianças e idosos em situação de desastres são considerados populações vulneráveis e suscetíveis a sofrer violência. As violências ocorridas dentro dos abrigos são omitidas do grande público, pois o principal enfoque é dano material e estrutural causado pela catástrofe.
Nas situações dos abrigos, o compartilhamento forçado do espaço físico e a restrição à intimidade pode também suscitar comportamentos agressivos e de intolerância. Também é importante enfatizar que o uso de álcool e outras drogas, associados a todos os fatores estressantes, potencializam as chances e os riscos de ocorrência de violências em aglutinados humanos.
Com base nos direitos humanos, é sugerido o estabelecimento de alojamentos alternativos para crianças e adolescentes desacompanhados de seus responsáveis, que se mantenham as famílias no mesmo local e evitar usar escolas como abrigo, tendo em vista que escolas e creches são serviços essenciais ao restabelecimento da sociedade, pois, além de prepararem as crianças, possibilitam que seus pais trabalhem, permitindo-lhes retomar a rotina anterior. Além disso, manter as famílias e vizinhanças próximas tem a perspectiva permitir que se ajudem e que se sintam próximas da realidade que antes vivenciavam. Medidas como distinguir espaço entre casais e filhos também é necessário, bem como a divisão do abrigo de forma a inibir a violência sexual e outros tipos de violência(2).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando a Gestão de Desastres depara-se com a inexistência de abrigos ou quando os abrigos temporários, que deveriam representar um local seguro, mas apresentam lacunas na organização ocorre o comprometimento da distribuição de recursos, e para as pessoas nesta situação o desastre prossegue de forma contínua, naturalizado sob a indiferença social de uma população que vive à margem da sociedade e com ausência de direitos, caracterizada por uma violência estrutural.
Cabe à governança política mobilizar as instituições públicas, o setor privado e as comunidades para legitimar a atuação da defesa civil e estabelecer enfrentamento à manifestação da violência, tendo a ideologia de prevenir e não mitigar os efeitos dos desastres.
REFERÊNCIAS
1. Furtado et al. Proteção aos Direitos Humanos das Pessoas Afetadas por Desastre. Florianópolis: CEPED-UFSC, 2014.
2. Sampaio. O protocolo nacional para a proteção integral de crianças e adolescentes em situação de riscos e desastres: proposta para a difusão em Santa Catarina. UDESC. Florianópolis, 2012.
3. Silva, Ferrarini, Silva. Violência sexual intrafamiliar contra crianças e adolescentes: entre a prevenção do crime e do dano. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 2012.
4. Morales-Soto, Alfaro-Basso. Génesis de las contingencias catastróficas: etiopatogenia del desastre. Rev. perú. med. exp. salud publica. 2008.
5. Mendes. A dignidade das pertenças e os limites do neoliberalismo: catástrofes, capitalismo, Estado e vítimas. Sociologias. 2016.
6. Grandón, Acuña, Briese, Chovar, Hernández, Orellana. Saqueos y autodefensa: impacto social en Chile post terremoto. Ajayu. 2014.
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