28/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-35A - GT 35 - Políticas Públicas, Serviços e Vulnerabilidade: Ações e Desafios |
30396 - A ORGANIZAÇÃO DO CUIDADO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL: ANÁLISE DA AVALIAÇÃO DOS USUÁRIOS SOBRE A AMBIÊNCIA, INFRAESTRUTURA E MODELOS DE ATENÇÃO.
AMANDA KELLEN PEREIRA DA SILVA - UNB, CLÁUDIA MARA PEDROSA - UNB, LEONOR MARIA PACHECO SANTOS - UNB, DENISE DE LIMA COSTA FURLANETTO - UNB, ADRIANO DE ALMEIDA DE LIMA - UNB
Apresentação/Introdução: O presente estudo se situa no campo do planejamento e gestão em saúde, tendo como princípio o compromisso da Saúde Coletiva em acessar as necessidades de saúde da população, por meio de estratégias participativas, para fomentar os processos de cogestão que irão qualificar a assistência. Cabe destacar que no cotidiano de gestão nem sempre a construção dos processos organizacionais consegue abarcar a participação dos usuários na tomada de decisões. Dessa forma, a realização de uma avaliação dando voz aos usuários oportuniza o acesso direto à percepção dos mesmos usuários sobre o serviço e traz a reflexão compartilhada para aprendizagens e interrogações que estão latentes, mas presentes e atuantes no mundo do trabalho e da vida. No Brasil ainda são escassas as pesquisas referentes à satisfação dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Foi na década de 1990, com o fortalecimento do controle social, iniciaram as pesquisas referentes à satisfação dos usuários. Na Saúde Coletiva, no campo do planejamento e gestão, a avaliação do grau de satisfação é uma ferramenta fundamental para estruturar processos de cogestão para adequação dos serviços à realidade local, dada a possibilidade de identificar as reais necessidades e problemas enfrentados pela população.
Objetivo: O estudo teve como objetivo analisar os depoimentos espontâneos de usuários da APS com recomendações ou sugestões para melhorias do serviço, tanto nas áreas urbanas como rurais.
Metodologia: Em fevereiro de 2019 foi realizada, uma pesquisa quali quantitativa para avaliar a satisfação dos usuários da Atenção Primária Saúde (APS) nas Regiões Administrativas de Paranoá e Itapoã (região Leste de Saúde do Distrito Federal). Incluíram-se na amostra 2.320 usuários e o presente trabalho analisou as respostas espontâneas apresentadas pelos usuários que sugeriram ou recomendaram melhorias para o Serviços de Saúde. Foram combinadas as abordagens quantitativa e qualitativa, utilizando a triangulação de métodos e técnicas de investigação na análise. Dos 2.320 usuários, 775 apresentaram respostas espontâneas com recomendações ou sugestões de melhorias para o serviço da APS. Após utilizar o Software SPSS, para categorizar as respostas, selecionou-se para análise as categorias ambiência, infraestrutura e modelos de atenção.
Resultados e discussão: Os dados revelaram que 19,4% (n=150) das respostas espontâneas sugeriram melhoria no atendimento dos usuários, enfatizando a necessidade de mudança no modelo de atenção atual. O modelo assistencial, que ainda prevalece no SUS, desconsidera os aspectos sociais, ambientais e emocionais envolvidos no processo do adoecimento. Em relação à qualificação dos profissionais, 5,0% (n= 39) dos usuários sugeriu que estes fossem mais atenciosos e humanizados. Já 17,7% (n=137) sugeriram a presença de mais profissionais da saúde, sendo em sua maioria de médicos, agentes comunitários, psicólogos e enfermeiros. Para 11,2% (n=87), deve-se diminuir o tempo espera de consultas e exames. Já 12,4% (n=96) relataram que faltavam medicamentos e materiais para os profissionais trabalharem. Dos entrevistados, 3,4% (n=26) opinou que era necessária a ampliação dos horários de atendimento e 2,3% (n=18) sugeriram a construção de novas UBS próximas à suas residências. Outra sugestão de melhoria foi quanto à infraestrutura e aos equipamentos: 26,7% (n=207) relataram que as salas de espera eram desconfortáveis. Considera-se que as respostas espontâneas permitiram acessar singularidades dos serviços que serão estruturantes no planejamento de novas ações para a melhoria da qualidade da atenção. Compreender como os usuários percebem e vivenciam o modelo de atenção ofertado, possibilita aos profissionais de saúde reconhecerem que a construção destes modelos deve estar comprometida com a produção do ato de cuidar, na perspectiva do indivíduo, do coletivo e do social que compõem os territórios de saúde. A percepção sobre as precariedades da infraestrutura e a ausência de uma boa ambiência retratam o quanto os espaços físicos e sociais, bem como as relações profissionais e interpessoais, interferem no acolhimento e humanização do cuidado. Ter um ambiente acolhedor é importante para promover ações de cuidado. Essa comunicação espontânea dos usuários ratifica que equipamentos de saúde sucateados e relações autoritárias não condizem com práticas de cuidados humanizadas.
Considerações Finais: Por fim, considera-se que esta pesquisa deu voz e sentido a experiências singulares dos sujeitos, que a partir da participação na pesquisa puderam enunciar, como protagonistas, informações que nos micros espaços da gestão, podem ser incorporadas para potencializar a participação social construindo um serviço mais humanizado e que, efetivamente, atenda aos princípios do SUS.
Fonte de financiamento: Chamada Pública FAPDF/MS-DECIT/CNPq/SESDF Nº 001/2016 financiada pela FAP/DF e Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde.
|
 |
