29/09/2019 - 13:30 - 15:00
AL4 - GT Ampliando Linguagens - Leituras Sobre Saude a Partir de Filmes e Cronicas |
29884 - ENTRE A TEMPERANÇA E A GULA: A CULINÁRIA E O CUIDADO EM “A FESTA DE BABETTE”, DE KAREN BLIXEN
ISABELLA RODRIGUES MINGUZZI - FCA/UNICAMP, JULICRISTIE MACHADO DE OLIVEIRA - FCA/UNICAMP
Introdução
A escolha do que cozinhar, o ato de cozinhar, o servir são meios de demonstração de cuidado. Ademais, pelo cuidado alimentar e nutricional as relações sociais são fortalecidas, disparam-se emoções e formam-se memórias (PEDROSO, SOUSA e SALLES, 2011). Portando, situa-se no âmbito do sensível e da construção de humanidade.
A literatura, por meio da trama, suas metáforas e descrições detalhadas, permite expressar e aproximar o comer e o sentir. Dessa forma, para distanciar-se do cientificismo e tecnicismo que dificultam a compreensão do sensível e do homem (PINTO, 2011), há autores que defendem a incorporação da literatura e demais artes, como o cinema, como ferramentas para a educação. Cardoso e Antonio (2006) estudaram filmes nos quais a comida é uma linguagem que expressa emoções e medeia relações, destacando que, muito além do nutrir, a comida está carregada de simbolismo (CARDOSO e ANTONIO, 2006). Assim, há um potencial do cinema para embasar e provocar a reflexão sobre a culinária, o comer e a comida.
Objetivo e Metodologia
O objetivo deste trabalho foi, por meio da literatura e do cinema, promover a discussão e aprendizagem de conceitos como: comida, comer, comensalidade, culinária e cuidado, por estudantes de graduação em Nutrição da FCA/Unicamp. Na primeira etapa, realizou-se a análise do livro "A festa de Babette", de Karen Blixen, e do filme homônimo, de Gabriel Axel, com base em obras de referência no campo de alimentação e cultura. Após essa análise, foi elaborado e aplicado um plano de aula para estudantes da disciplina Educação Alimentar e Nutricional. Para avaliar o processo pedagógico, realizou-se dois grupos focais com sete estudantes da disciplina que se voluntariaram a participar. Os áudios dos grupos focais foram gravados e transcritos, cada estudante recebeu o nome de uma flor para preservar sua identidade.
Formatos e suportes necessários à apresentação
A apresentação do projeto será em forma de uma “conversa durante um café”, durante a qual a autora do projeto contará sobre seu trabalhado sentada com o ouvinte, compartilhando café e biscoitos. Para isso, faz-se necessária uma mesa pequena para acomodação do computador, livro, café e biscoitos (itens esses que serão providenciados pela autora do projeto) e três cadeiras. Suporte para exposição do banner e projetor para passar cenas do filme.
Resultados e Discussões
Durante os grupos focais, as estudantes discutiram os principais temas que são abordados na obra de Karen Blixen, como: o choque de cultura manifestado entre a alimentação da cozinheira francesa e das irmãs religiosas; o ato de cuidado e de entrega de Babette ao oferecer para os humildes habitantes um elaborado jantar francês; o prazer que sentiu ao cozinhar; o momento de comensalidade que o jantar promoveu e que favoreceu a resolução das tensões existentes no grupo. Uma participante assinalou:
“(...) a comida como forma de afeto, como tocar pessoas de uma forma diferente, que ela – Babette - traz quando as pessoas jantam, eles percebem assim: um mundo, uma explosão de sentimentos, sabe? (...) uma das coisas que mais me marcou tanto no livro como agora no filme, como a comida pode tocar as pessoas de maneiras diferentes. ” (Girassol, Grupo Focal 1)
Uma participante ainda assimilou a literatura e o cinema como recursos interessantes para promoção da saúde:
“Eu acho muito legal assim usar filmes e livros pra complementar a aula, acho que aproxima mais do cotidiano, porque você vê que é uma história baseado, como se fosse, né, na gente, três mulheres... então assim, a pessoa quando lê isso, consegue pôr a teoria que vê na aula mais pra vida cotidiana. E até acho que isso é interessante até pra gente quando formados passar pro nosso paciente, a gente tem outros auxílios, não é só a gente sentar e conversar, a gente pode utilizar outras coisas pra auxiliar no plano alimentar.” (Cravo, Grupo Focal 2)
Conclusão
Concluiu-se que o cuidado, a culinária e a cultura atrelados ao cozinhar e ao comer, presentes na obra de Karen Blixen, foram capazes de fomentar rotas às estudantes para compreensão de conceitos trabalhados na disciplina, sensibilizá-los diante do ato de comer e estimular o senso crítico na atuação do nutricionista.
Referências
BLIXEN, K. A festa de Babette. 1. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
CARDOSO, S; ANTONIO, H. A Alimentação no cinema como linguagem e identidade cultura. Baleia na rede, Marília, v. 1, n. 3, p. 153-160, 2006. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2017.
PEDROSO, C; SOUSA, A; SALLES, R. Cuidado nutricional hospitalar: percepção de nutricionistas para atendimento humanizado. Ciênc. saúde coletiva, Santa Catarina, v. 16, p. 1155-1162, 2011. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011000700047>. Acesso em: 06 abr. 2017.
PINTO,V; MEDEIROS, M. Literatura e Alimentação: delicatéssen na formação em saúde. Natal: EDUFRN, 2011.
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