29/09/2019 - 13:30 - 15:00 AL4 - GT Ampliando Linguagens - Leituras Sobre Saude a Partir de Filmes e Cronicas |
31082 - DIALOGANDO COM AS VÁRIAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO FILME "A ÁRVORE DE MARCAÇÃO" ELISÂNGELA FEITOSA DE SOUZA - FUNDASE/RN, MARIA TEREZA DE OLIVEIRA - UNIFACEX/RN, GERLEANE BRITO SILVA - CEFOPE/ETSUS/RN
“A Árvore da Marcação” de 1993, filme dirigido pela cineasta Jussara Queiroz, natural da cidade de Jucurutu, Rio Grande do Norte, narra momentos marcantes vivenciados pela jovem Jocélia, estudante de Direito, e seus amigos, crianças, adolescentes e habitantes de Marcação, pequeno vilarejo da zona canavieira da Paraíba, que viveram personagens reais na história, lutaram contra a situação de exploração e subordinação, em um período onde não se tinha liberdade, submetidos as ordens e a coerção de feitorias, condições precárias, baixos salários, proprietários de terra e de canaviais e à exploradores dos manguezais que contratavam crianças e adolescentes para catar caranguejos. Ao reencontrar em seu trabalho o Inspetor, personagem violento e autoritário, Jocélia recorda toda sua infância, onde a maioria das crianças trabalhavam, desde os cinco anos de idade, nos canaviais e no mangue, sem acesso à educação e com seus direitos violados. O objetivo geral é compreender o processo de participação política, conscientização e empoderamento dos sujeitos a partir da linguagem cinematográfica; e como objetivos específicos destacar a importância da cultura local na construção de práticas sociais inclusivas, participativas e libertadoras de promoção e cuidado em saúde; e demonstrar que a água é um bem comum e um direito humano fundamental. O filme é exibido para discentes do 7º período do curso de Serviço Social, do Centro Universitário Facex – UNIFACEX/RN, na disciplina de Educação Popular e Práticas Comunitárias. Utilizou-se como metodologia as rodas de diálogos e os círculos de cultura para discutir o processo de mobilização e conscientização política, e como tema gerador a água, tanto nos momentos de reflexão, quanto nos estudos sobre o cotidiano dos educandos/participantes em articulação com a dimensão conceitual e a experiência vivenciada no filme, tendo como referencial teórico o pensamento crítico acerca da Teoria do Conhecimento e do Método de Paulo Freire, bem como do Projeto Político-Pedagógico concebido por ele. A personagem da Freira ao respeitar a cultura e o conhecimento popular, possibilitou que os atores do processo se reconhecessem como sujeitos de direitos, desmistificando a situação de exploração e alienação em que viviam e exercendo a participação política cidadã, lutando por uma vida digna, com melhores condições de trabalho, moradia, respeito mútuo e o reconhecimento do acesso a água como um direito humano. O acesso à água potável e o saneamento básico foi reconhecido através da Resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, A/RES/64/292, de 28 de julho de 2010, na sede das Nações Unidas, em Nova York. O Estado brasileiro, desconhece a água como um direito social e fundamental, haja vista que a Constituição Federal de 1988, considera a água como bem da União e dos Estados, retirando do Estado esta responsabilidade, ficando seu acesso sujeito a estritas regras de mercado, e não à lógica do direito à vida. Parte-se do pressuposto de que o não acesso à água põe em risco o direito fundamental à integridade física, à saúde e à vida. Crianças e adolescentes conseguem mobilizar a comunidade e juntos reivindicam seus direitos, especialmente o direito a água gratuita. As relações de trabalho na comunidade de Marcação eram baseadas em princípios e valores pautados na opressão, injustiça, desonestidade, violação de direitos, corrupção, exploração, coerção e maus tratos. Os donos dos meios de produção oprimiam os trabalhadores e este não tinha espaço para negociação sobre as condições desumanas de trabalho a que eram submetidos, seja na zona canavieira sena no manguezal. A carga horária exigida para os trabalhadores era uma só, tanto para crianças quanto para adultos, e os riscos de acidentes de trabalho eram eminentes. Mulheres, crianças e homens trabalhavam com as mesmas funções, horas e remuneração. As crianças eram exploradas, alimentavam-se mal e ainda, recebiam pouco pelo que trabalhavam, vivendo um processo de alienação diário. No mangue, além do pagamento irrisório pela produção, utilizava-se da mão de obra infantil, as quais eram ainda pesadas na balança quando iam prestar contas com o patrão da sua produção, uma relação também desumana. O acesso à água potável e ao saneamento é um direito humano essencial e fundamental para a redução da pobreza, melhoria da qualidade de vida, saúde e para o desenvolvimento sustentável. A proposta de trabalho apontada pelos estudantes para dar continuidade ao trabalho realizado em conjunto com a freira e a comunidade foi a criação de uma associação de trabalhadores para garantir melhores condições de trabalho, direitos trabalhistas e salários justos; e ainda, a mobilização das mulheres para trabalhos artesanais e criação de cooperativas para movimentar a renda da população e um projeto de educação que beneficie as crianças e os adultos dando-lhes a oportunidade de vislumbrar outros horizontes.
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