30/09/2019 - 13:30 - 15:00 AL8 - GT Ampliando Linguagens - Arte e Saúde: Polifonias na Produção do Bem Vier |
30869 - RESISTÊNCIAS, (RE)EXISTÊNCIAS E (SOBRE)VIVÊNCIAS EM IMAGENS PARA PENSAR O RURAL: UM MANIFESTO VISUAL ELIZIANE NICOLODI FRANCESCATO RUIZ - UFRGS, ANA LÚCIA OLIVEIRA DA SILVA - UFRGS, DIANA MANRIQUE GARCIA - UFRGS, DIRCE CRISTINA DE CHRISTO - UFRGS, JAQUELINE EVANGELISTA DIAS - UFRGS, LUYMARA PEREIRA BEZERRA DE ALMEIDA - UFRGS, VILMA CONSTÂNCIA FIORAVANTE DOS SANTOS - FACCAT, TAMIRES V. A. DIEHL - FACCAT
Deslocamentos, palavra-chave deste manifesto visual, propõe a produção de imagens por movimentos que não são somente geográficos, mas ético-político-epistemológicos e estéticos frente às realidades humanas, em outros territórios de aprendizagem e no diálogo com outros campos do conhecimento. Com inicio em 2017, o Projeto Deslocamentos é um projeto que integra atividades de ensino (Disciplina de Antropologia e imagem na pós-graduação, Objeto de Aprendizagem e MOOC Imagens para pensar o Outro – disponível na plataforma Lúmina da UFRGS), pesquisa (projeto (A)Diversidades no território rural e o cuidado em saúde: apreensões de itinerários terapêuticos em imagens) e extensão (Deslocamentos: a imagem como dispositivo para acessar as diversidades humanas e os usos do território). O manifesto visual aqui apresentado se constitui de uma seleção de 10 fotografias das 7 narrativas visuais que compuseram o manifesto produzido a partir de áreas rurais de diferentes regiões do país e da fronteira boliviana e que narram vivências de resistências e (re)existências de vidas rurais. As imagens foram capturadas pelos pesquisadores Grupo de Estudos em Saúde Coletiva (GESC UFRGS), por estudantes de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS) e apresentam cenários rurais para além do espaço agrário. As fotografias selecionadas procuram dar visibilidade para o rural como um espaço de vida evocando paisagens e pessoas, que constituem esse espaço e são por ele constituídas. Os deslocamentos vivenciados na criação deste manifesto visual se revelam em imagens produzidas por movimentos não só geográficos, mas crítico-reflexivos e estéticos frente às realidades humanas, em territórios de aprendizagem diversos e no diálogo com diferentes epistemes. Olhares atentos captaram as sutilezas dos espaços de vida e contribuíram para uma escrita densa e sensível sobre as possibilidades da experiência humana. Buscaram constituir um manifesto visual de obstinação pela vida, onde flagrantes de força antropológica se opõem à banalização do mal, questionando constantemente o que nos separa e o que nos une, sobretudo a partir do atual desafio, extremamente complexo, de nos compreendermos enquanto sociedade. Tocando no âmago de valores importantes, como igualdade e solidariedade, o debate sobre diversidade e pluralidade tensiona nossas concepções de laços sociais e nossa capacidade de conviver. Surge aí a necessidade urgente de reconhecer que as diferenças são construídas socioculturalmente sobre uma estrutura social de matriz colonial de poder racializada e hierarquizada. A partir da interculturalidade crítica, compreende-se que o encontro entre culturas é atravessado por relações que tentam minimizar as tensões e os conflitos, ocultando cenários de poder, dominação e colonialidade, silenciando o diverso sob parâmetros homogeneizantes que dizem reconhecer as diferenças. Não busca-se reconhecer, tolerar ou incorporar o diferente dentro da matriz e estruturas existentes. Busca-se, ao contrário, pelas imagens e pelas diferenças, re-conceitualizar e re-fundar as estruturas sociais, epistêmicas e existenciais que colocam em cena – e em relação equitativa – lógicas, práticas e modos culturais diversos de pensar, atuar e viver. Trata-se, portanto, de desnaturalizar estes processos e produzir conhecimento em construção permanente de relação e de negociação entre, buscando condições de respeito, legitimidade e simetria. Nossas reflexões partem do compromisso de que não se faz ciência apenas no universo acadêmico, mas também – e principalmente – com a sociedade, sem a qual o fazer científico perderia seu sentido e essência. Assim, criamos movimentos em busca de formas diversas de conhecer e compreender o mundo, estabelecendo pontes entre diferentes possibilidades de produção e comunicação do conhecimento. Ao ampliar linguagens nas práticas de pesquisa, traçamos caminhos para a devolução da produção científica à sociedade. É sobre essas vivências que propomos esse manifesto visual para pensar o rural. Os temas disparadores falam de resistências, (re)existências e (sobre)vivências e as fotografias são fragmentos que falam de pessoas que não somente existem em seus territórios, mas (re)criam cotidianamente suas existências. Frente ao projeto moderno colonial que destrói alteridades e insiste em silenciar e invisibilizar suas vidas, estes povos resistem e forjam permanentemente novas formas de relacionar-se em coletividade.
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